sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Português

Não são muitas as coisas que dão prazer a um português. Para falar a verdade são mesmos muito poucas. Se estão a pensar em actividades de cariz sexual, cerveja ou uma vitória de Portugal numa grande competição de futebol, "tirem o cavalinho da chuva". As poucas coisas que dão prazer ao verdadeiro português são: tragédias, obras e por fim dar a sua opinião sobre o assunto.
Para começar quando falo em tragédia, pode ser qualquer coisa, desde a morte de uma pessoa, a um acidente ou uma tragédia natural. Tomem por exemplo a triste morte do jogador António Puerta. O jogador morre num dia, e no dia seguinte, os media já tentavam arranjar um caso português, e relembravam o Fehér. Na rádio açoriana, falava-se de um jogador do Santa Clara, que tinha tido um problema cardíaco em criança.
Hoje quando fazia o meu trajecto habitual para casa, após um dia de aulas, começou a notar-se um cheiro a queimado no autocarro, mas não tardou até que um passageiro se dirigisse ao motorista e dissesse: "Desculpe lá, eu não sei se é daqui de dentro ou não, mas está aqui um cheiro a queimado do caneco". O motorista, como pessoa responsável, encostou o autocarro, e foi averiguar qual era o problema. O que é que todos os homens com mais de quarenta anos fizeram? Saíram, foram inspeccionar o autocarro, e dar a sua opinião. O resto da viagem foi passada a ouvir palpites sobre qual seria a razão do cheiro. Aposto que nenhum deles era mecânico ou coisa parecida.
Qual a razão para a maior parte das filas no trânsito em Portugal? Acidentes. Porquê? Porque o português gosta de parar para ver bem todos os pormenores, para mais tarde contar à família e amigos.
Falando agora de obras, já alguém reparou que todas as obras têm uma fila de senhores de idade junto à vedação a verem todo o processo de construção? Também aqui se ouvem trocas de opiniões, desta feita sobre qualquer assunto relacionado com a obra, desde os custos, à beleza ou utilidade. As empresas de construção podiam poupar dinheiro em vedações, substituindo-as por um cordão humano.
Facto curioso, é que qualquer uma destas situações dá lugar a discussão, com toda uma troca de opiniões, algumas chegando mesmo a debate na televisão. Eu quero ver o problema do autocarro da Mafrense a ser discutido no Prós e Contras.

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