sábado, 28 de novembro de 2009

Luzes de Natal.

Ainda me lembro, quando era uma criança, da importância que tinha para mim aquela visão fenomenal: as luzes da baixa. Eram sempre lindas, brilhantes, coloridas com formas tão engraçadas. Não eram só as luzes, era tudo: o cheiro das castanhas, aquele frio de que eu já tinha saudades, o som das pessoas.

As luzes lembravam-me da magnífica época que se aproximava, que já era altura de montar a árvore de Natal, que já iam começar a aparecer presentes, vinham aí as férias, vinha aí o Natal. Estava na altura de vestir o meu casaco mais quentinho (leia-se mais fashion, apesar de ser ainda apenas uma miúda!) e sair com a minha mãe em direcção à minha parte preferida da cidade naquela contenda que era a busca das prendas de natal.

Hoje já não é assim…

Dizia-me uma amiga no outro dia “odeio estas luzes de Natal acesas no início de Novembro, só apelam ao consumismo das pessoas e tiram o espírito natalício todo”. É verdade, o Natal actualmente é mais uma manobra publicitária que uma ocasião para as famílias se reunirem. E disse-me outra pessoa “não sei como é que és capaz de ficar tão feliz nesta altura, eu só consigo pensar nos testes, exames e frequências que começam nessa época”. Pois, é verdade… nem me tinha lembrado.

As luzes estão cada vez mais foleiras e acendem-nas cedo demais, as castanhas estão caras e já não têm piada nenhuma (o que é que aconteceu à tradicional folha das Páginas Amarelas? Que é esta panisguice do saco castanho com compartimento especial para as cascas?!), o frio agora tem sido acompanhado de chuvas horríveis e a as pessoas fazem um barulho extremamente incomodativo!

Eles têm razão e de certa maneira, agora que penso um pouco mais no assunto, cada vez que olho para as luzes eu devia ficar um bocadinho deprimida, elas lembram-me aquela fase horrível pré-frequências acrescida de todos os stresses natalícios que podem surgir e todas aquelas memórias que eu tinha se forem analisadas com atenção não são tão felizes como eu julgava.

Mas eu não quero saber. O truque é não pensar muito. Já dizia o outro, que felizes são os ignorantes. Por isso eu decidi render-me, não à realidade, mas à fantasia, ao meu lado infantil e agora sempre que consigo arranjar um bocadinho saio de casa e vou dar uma volta à Baixa para ir ver as luzes.

Sugiro a todos que façam o mesmo. Esqueçam a faculdade, os dramas do dia-a-dia e tudo aquilo que vem com o facto de já sermos “crescidos”. Rendam-se às luzes e vão ver tudo como se fossem miúdos outra vez, sem preocupações. Mesmo que seja só por um bocadinho, vale a pena.

Vão ver as luzes e já agora comam umas castanhas.

Um texto de Teresa Ferreira, estudante do 4º ano da Faculdade de Direito de Lisboa.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Política, uma Ciência Falhada

" A Política é a Arte de bem governar" Platão

"A Ciência Política, em sentido restrito, é a ciência dos factos políticos isolados dos fenómenos sociais em que se inscrevem, sendo facto político todo o evento relacionado com a aquisição, manutenção e exercício do poder político" António de Sousa Lara



A Politica é a eterna ciência sem aplicabilidade. Sofrendo sempre, sem excepções, nem equivalente entre as outras ciências, uma mutação entre a sua teoria e a sua prática. Existindo enquanto arte do possível, vive tanto da teoria quanto as outras ciências, falhando, todavia, a sua execução.
Falha, também, por ser porventura a ciência menos flexível de todas. Tal como nos explica Popper, entre outros, uma ciência qualquer que ela seja, vive de paradigmas, que apenas subsistem enquanto sobreviverem a testes que lhes forem sendo feitos e enquanto não surgir um melhor que os substitua.
Falha ainda porque tendo sempre (ou quase) uma concepção virtuosa, a prática política muito raramente é virtuosa.
Podemos, para melhor ilustrar o que foi dito, dar 4 simples exemplos:
1° O Comunismo, a Democracia Liberal, e outros tantos, nunca conseguiram ser executados tal quanto foram propostos (nem sequer perto);
2° Mesmo depois de ter caído a URSS, sendo o comunismo um paradigma mais do que ultrapassado, ele subsiste em Cuba, na Coreia do Norte e no PCP;
3° Nas últimas eleições legislativas em Portugal foram marcadas por um debate político encapotado, que versou sobre pessoas, os seus defeitos e qualidades, erros e sucessos e a forma como governaram no passado, seja ele próximo ou distante. Não houve debate sobre a forma de governar nem preocupação com isso. Os partidos degladiaram-se pela vitória, procurando levar o poder para equipa onde jogavam e nunca pela virtude do governo., sempre apontando o quão pior o adversário era. Qual equipa num campeonato de futebol preocupada com a taça e não em ajudar o bairro onde está sediada;
4° Continuamos a viver em função de um confronto político entre esquerda e direita, e eu pergunto, então: e os conservadores de esquerda? E os liberais com preocupações sociais? E os beatos de extrema esquerda? E os centristas tradicionalistas? E os homossexuais conservadores?...
Há já muito que a distinção entre esquerda e a direita diz pouco às pessoas, porém, persiste.

Como vemos, a política consegue viver da teoria na prática, falhando enquanto ciência.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Começo a ficar para lá de farto...


A polémica gerada em torno do caso "Face Oculta" é entediante mas esperada. São naturais os oportunismos políticos dada a suspeita que recaiu sobre o PM. Como estamos em Portugal também é natural que o segredo de justiça seja chutado para baixo do tapete por todos, tenham cargos de relevo no Estado ou não- ao ponto de se dizer no canal do estado que o conteúdo das escutas deve vir ser publicado nos jornais num futuro próximo. Por estes lados, é natural, que magistrados, procuradores e que tais, falem sobre tudo o que lhes apetece. Nem é preocupante que o maior partido da oposição considere que "Ninguém é obrigado a aceitar um cargo político. Quando aceitamos um cargo político, aceitamos o escrutínio das nossas palavras. Das nossas conversas. Aceitamos porque somos moralmente obrigados a prestar contas a quem nos elegeu” (in Publico).
Natural porque falamos de um país em que todos enchem a boca para falar de Estado de Direito, princípios democráticos, éticas e morais; quando não importa saber o que isso é. Não importa a salvaguarda do indivíduo, da sua pessoa e da sua privacidade. Não importa se as instituições do Estado dito democrático são fracas e se o personalismo político é cultivado em detrimento das mesmas... Nada importa. O que importa é ganhar eleições porque isso é democracia - e se der para uma boa novela melhor!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Escutas

Caros leitores, após prolongada ausência estou de volta para fazer um comentário curto e da maior seriedade.
Depois do Procurador Geral da República ter levantado a hipótese de estar a ser escutado, de ter sido levantada a suspeita de o Presidente da República estar a ser escutado pelo Governo e de agora vir a público que o Primeiro Ministro José Sócrates foi escutado, lamento informar que também eu fui escutado. Desde a sua criação que o Blogue do Caraças fala sobre temas controversos, sem medo de pressões externas, pelo que terá desagradado algumas altas figuras. De algum tempo a esta parte o meu telemóvel tem feito ruídos estranhos e as chamadas perdidas multiplicam-se pelo que a única conclusão possível é a de que estou a ser escutado.Ou então é um problema de falta de qualidade da TMN.

domingo, 22 de novembro de 2009

O Muro de Berlim Caíu ou foi Derrubado?

Bem sei que o tema se banalizou e que foi sendo esquecido desde 9 de Novembro , não obstante, e espero não maçar ninguém, gostaria apenas de aqui deixar a minha interpretação dos factos. Assumindo uma posição, pouco consensual, de um debate que ainda não se consegue ter com grande isenção e frieza, pois, embora eu tenha nascido em 88, para este efeito, o muro caiu ontem.

Terá o muro caído ou sido derrubado?
Antes de mais, importa esclarecer que a questão é meramente semântica - embora revestida de uma carga simbólica importantíssima, própria do fim de uma guerra que antecipa uma nova ordem internacional que, ainda por cima, ninguém venceu- pois sabemos perfeitamente que não houve terramoto em Berlim e o muro só pode ter sido derrubado (por pessoas).
Dito isto, devo desde logo assumir que sou adepto daquela ideia da queda. Gosto de pensar que o muro, e depois a RDA, e depois o Pacto de Varsóvia e depois a URSS caíram. Apenas não sei se nessa ordem ou se na ordem inversa.
Foram muitas as circunstâncias que levaram ao colapso do sistema, dependendo da ideologia uns louvarão Reagan e o capitalismo e outros culparão Gorbachev, a perestroika e o glasnost. Independentemente, creio que o bloco soiético caiu por si: por causa do Afeganistão, porque não conseguia competir com os EUA, porque já não conseguia silenciar o povo e mantê-lo "off the streets"... Não importa, não acredito que a culpa recaia sobre uma pessoa ou um evento, foi culpa do tempo que pôs à prova um regime que, como todos os outros, lhe sucumbiu.
O que nos traz ao nosso mote, então e o muro? O muro foi um sintoma dessa queda. Caiu porque os tanques não entraram nas cidades, porque houve uma abertura do regime, porque era menos rígido, porque os governos satélites já não eram tão satélites assim, porque as pessoas se podia congregar, por causa da Solidariedade, porque a Hungria abriu as fronteiras, por causa do comboio, por causa da igreja... e tantas outras coisas.
O muro caiu porque o sistema caía. Foi um sintoma de uma série de eventos dependentes e consequentes e não um evento isolado, antecipado em algumas horas por uma conferência de imprensa e pela tv.
Por estas e por outras, parece-nos que o muro caiu. A menos que se considere que foi o tempo que o derrubou e aí não há como argumentar contra.

sábado, 21 de novembro de 2009

A (des)reforma da União Europeia.


A reforma da União Europeia, que culminou no Tratado de Lisboa, deteve-se na forte oposição dos europeus. Os que foram chamados a pronunciarem-se em referendo repetidas vezes disseram não e só com a insistência do assunto é que acabaram por dizer sim. Outros europeus – mas não menos europeus – decidiram pelos seus representantes – forma tão legítima como o referendo -, deixando dúvidas se o resultado teria sido o mesmo em referendo.

Não obstante a estes sinais, continua-se a construir a União Europeia sem um elo determinante com os europeus. Nos referendos os não à Europa são recorrentes, a participação nas eleições para o Parlamento Europeu têm abstenções recorde em vários países, pouco se sabe sobre os processos de decisão, história ou representantes.

A União Europeia ao esbarrar várias vezes na opinião dos europeus tinha a obrigação de abrir-se e tornar a execução do Tratado de Lisboa, mas ampla, aberta e esclarecedora.

Como saberão, o Tratado de Lisboa criou dois cargos: Presidente da EU e Alto Representante para a Política Externa. Ora, estes cargos de extrema importância e com vastas competências serão ocupados por dois nomes absolutamente desconhecidos da esmagadora maioria dos europeus. Ocupados por dois nomes absolutamente desconhecidos da esmagadora maioria dos europeus: Herman Van Rompuy será o Presidente da União Europeia e Catherine Ashton a Alta Representante para a Política Externa. Nomes que dizem-me muito pouco e que a partir de 1 de Janeiro influenciarão em muito a minha vida.

A União Europeia necessita abrir-se e traduzir aquilo que sentem os europeus. Se o processo do Tratado de Lisboa foi atípico, estes nomes ainda o são mais. Se ao primeiro houve resistência e dúvidas quanto ao futuro, estes nomes deixam muitas mais dúvidas. No mínimo, eram exigidos nomes de dimensão Europeia.

Um texto de Tibério Dinis, estudante do 4º ano da Faculdade de Direito de Lisboa e blogger do In Concreto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

França: extraordinário.

No dia a seguir àquele em que a França vence a eliminatória com a Irlanda para o Mundial de 2010 de forma vergonhosa com um golo marcado precedido de uma mão na bola escandalosa, deixo-vos um outro jogo da qualificação para o Mundial. Tome-se atenção do minuto 1:14 em diante. Incrível.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Novo Governo.

Escrevi este texto há uns tempos no Laranja Choque. Apesar de já não ser muito actual, o Governo ainda está no ínicio de funções e fica uma reflexão minha acerca do assunto.

Está constituído um novo Governo, o XVIII desta feita, com o mesmo Primeiro-ministro que o anterior, mas algumas caras novas, quer em Ministérios quer em Secretarias de Estado.

Este novo Governo foi alvo de várias críticas, como não podia deixar de ser. Uns acharam que era um Governo que cheirava a “tampas”, isto é um Governo feito de segundas escolhas. Outros afirmaram que este não parecia um novo Governo, mas sim uma aposta na continuidade do anterior. Ainda outros criticaram o novo executivo por este ter demasiados tecnocratas e poucos políticos.

Ora bem, a primeira crítica poderá fazer sentido. De facto não há grandes nomes (falo de nomes, não de competência). Quase todos os nomes são desconhecidos do grande público. Percebe-se porquê. Os possíveis “candidatos” a ministro com nome na praça dificilmente alinhariam num governo com maioria relativa, com a necessidade de fazer acordos no Parlamento, possivelmente com mais que uma força política, e debilitado pelo efeito causado pelas críticas apontadas ao anterior executivo. Estes tubarões (como alguém lhes chamou) só alinhariam num Governo forte, restando assim ao Primeiro-ministro convidar personalidades menos conhecidas que poderão encarar o cargo ministerial como um ponto alto na carreira, como um trampolim para o futuro (sem querer atribuir a esta situação qualquer carga negativa, entenda-se).

A segunda crítica pode também ser encarada como consequente mas não na sua totalidade. Este Governo está fortemente marcado pelo executivo anterior, muitos ministros mantiveram-se assim como secretários de Estado, alguns apenas mudaram de pasta. No entanto, houve alguma remodelação. Veja-se que em pastas sensíveis, em que a contestação era muita os titulares do cargo foram alterados. Casos da Educação, Obras Públicas, Agricultura. Posto isto, houve alguma tentativa por parte de Sócrates no sentido de conseguir aproximar o Governo das inquietações da sociedade e de afastar vagas de contestação logo no início do mandato.

Já a terceira crítica mais comum merece uma reflexão aprofundada, mas que terá aqui apenas alguns comentários. De facto este Governo tem poucos políticos e mais tecnocratas. Isto é, foram-se buscar pessoas à sociedade civil e menos ao aparelho partidário. Segundo alguns críticos, numa altura destas, num Governo marcado pela falta de maioria absoluta com tudo o que isso poderá acarretar, seriam necessários políticos e não professores ou pessoas com actividade no sector (os ditos tecnocratas). Dizem alguns, o desempenho de um político é medido em função da sua capacidade para gerir crises, e é de gestores de crises que o país precisa, de pessoas que saibam lidar com a oposição. Percebo a crítica mas não sei se procederá. Por um lado, um ministro marcadamente afecto a um partido será menos bem recebido pelos outros partidos que um que o não seja. Por outro lado, um dos problemas hoje em dia vigentes na política é o dos chamados “políticos profissionais”. Se há muitos políticos que dedicam grande parte da sua vida à política e pouca atenção prestaram a uma actividade profissional extra-política, desempenhando, no entanto, com competência as suas funções, outros há que na mesma situação apenas se agarram ao poder para dali tirar dividendos. Podemos chamar a ambos os casos, casos de políticos profissionais. No entanto, o primeiro não constituirá problema, já o segundo é um caso grave e que receio abundar, pelo menos aparentemente. Posto isto, apostar em políticos profissionais pode não ser a melhor medida, afinal os tecnocratas por não estarem agarrados ao chamado “tacho” e por terem actividade no sector podem desempenhar melhor a sua actividade governativa e proceder a reformas estruturantes.

Acima de tudo o que se quer é que este Governo cumpra com determinação as suas políticas e que a oposição forneça o seu apoio sempre que for necessário desde que não contraproducente. Pede-se trabalho.

domingo, 15 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Este texto será rotineiro e vulgar.

Este texto será rotineiro e vulgar. Será sobre a rotina. Tentarei que não seja um rol de queixas infundadas nem um daqueles textos próprios de diários intimistas mas não será, certamente, um texto “útil”.

Tinha prometido, a mim mesma, que não iria sucumbir aos ímpetos poderosos da Razão, que se havia promissoramente assumido como o objecto último desta minha pseudo-reflexão, mas… comecei mal. Tinha logo que declarar a inutilidade do meu texto, de forma pesarosa e ressentida, até arrependida!

Começa tudo de manhã. Pré-formatad@s, levantamo-nos a tentar dar um sentido ao toque estridente do despertador.

(Tenho de ir trabalhar.)

Pelo caminho, tentamos dar um sentido ao facto de optarmos por transportes públicos ruidosos, em vez de ter chamado um táxi ou tirado o carro da garagem.

(Tenho de poupar dinheiro.)


À chegada ao local de trabalho, urge a necessidade de dar um sentido àquilo que fazemos.

(Tenho de ganhar dinheiro.)

Decorrem as horas e o dia pede, ele mesmo, um sentido.

(Tenho de parar de pensar estas coisas.)

Um despertador nada vespertino, alimentado de cafeína e pastilhas elásticas de mentol, pede-nos, a nós mesm@s, um sentido.

(Penso nisso depois.)

À saída do trabalho, tentamos dar um sentido àquela pressa de chegar a casa.

(Tenho de ir descansar.)

Pelo caminho, o dia, no seu fecho, pede, novamente, um sentido.

(Mais tarde.)

À chegada a casa, todas as coisas parecem gritar: “EU SOU O TEU SENTIDO!”. Reclamando a atenção para si mesma, a despensa cheia grita que deu um sentido ao dia. Ela é a razão e fim último de todo este esquema rotineiro.

Ao deitar, há um murmurinho que não nos deixa dormir sem a lembrança de que, também e até a cama, sim, a cama!, é o sentido do nosso dia.

Há um vazio do dia, que é o vazio de não termos encontrado sentido para nós mesm@s. A isso, resoluto e sempre útil, o cansaço preenche-o por nós.

(Penso nisso depois.)

E, entretanto, será outra manhã, até chegar o dia em que o único sentido que se pede é uma resposta automática da alma, a uma pergunta nunca formulada, e que dirá apenas: porque sim.

E o cansaço embala-nos o vazio preenchido de (in)utilidades,permitindo-nos concentrarmo-nos no que “tem de ser” e no que “é preciso”, fazendo com que as pessoas tenham uma despensa cheia e uma alma vazia.

Esta é a minha tese sobre a forma como o cansaço é, afinal, o melhor catalisador do sistema capitalista, que reclama produção em nome de um lucro que nunca se sente nessa busca de um sentido.

(Com todo o sentido e sem vazio, um abraço de agradecimento ao Um blogue do caraças pelo convite. ;) )

Um texto de Sílvia Vermelho, licenciada em Ciência Política pelo ISCSP, blogger do Estado Sentido.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Rua Sésamo.

Comemoram-se por estes dias os 40 anos da série infantil Rua Sésamo. Por cá, em Portugal, a série existe há 20 anos, fazendo as delícias da pequenada. Era uma grande série. O Poupas, o Egas, o Becas, o Monstro das Bolachas, e todos os outros grandes artistas contribuíram para o sucesso da série que conjugava o ensino de português e matemática (básicos) com a animação e o imaginário infantil. Das melhores séries infantis que já se fizeram. Fiquem com um vídeo com a canção de abertura. Divirtam-se.


Incrivelmente incompreensível.




De acordo com uma notícia do Diário de Notícias, o Seleccionador Carlos Queiróz ficou aborrecido com Gilberto Madaíl por este ter optado pelo Estádio da Luz para a realização do primeiro jogo do play-off do Mundial de 2010 contra a Bósnia. Segundo Queiróz o Dragão seria melhor porque "considera que o público do Norte é mais entusiasta com a selecção."

A confirmar-se esta notícia, algo vai mal no reino da selecção. Então o público do Norte é mais entusiasta? Em que é que se baseia o treinador de Portugal para afirmar tal blasfémia? É incrível. Não é preciso ser benfiquista para achar que o Estádio da Luz é a melhor opção. É o Estádio que consegue albergar mais gente. Só isso é suficiente. Escusado será trazer à colação o argumento de que é na capital, embora este só reforce o que venho aqui afirmar.

Esta ideia peregrina do Dragão vem alimentar a ideia de que parece haver "marosca" (sem querer desrespeitar o treinador) nestas relações entre Selecção e FCP. Os jogadores do Porto são convocados sem merecerem tal distinção (sim jogar na selecção é uma distinção apesar de por vezes parecer ser um favor dos jogadores ao País); os do Benfica são preteridos, veja-se o caso dos guarda-redes, Quim é titular no Benfica e não é convocado, Beto é suplente do Porto e é chamado; dizem por aí que as relações entre seleccionador e o distintissímo Presidente do FCP são boas. Tudo isto me leva a crer que "marosca" é eufemismo.

Apesar de tudo, trata-se da Selecção e há que apoiá-la. Força Portugal!

sábado, 7 de novembro de 2009

A Redefinição Ideológica do PSD.

Desde já, no início deste post, agradeço ao Bruno a oportunidade que me concedeu de escrever este post e de contribuir para um blog que acompanho o mais frequentemente possível, o qual entendo que tem mostrado grande potencial e excelentes escritos.

O tema que me traz hoje é um tema que está muito em voga na actualidade política interna, se bem, da minha perspectiva, com o enfoque nas questões laterais. A tal “redefinição ideológica” por vezes deve ser vista como um objectivo comum de uma associação de indivíduos que tenta frisar e atingir o seu objectivo comum: num partido, conquistar o poder e servir a comunidade de forma eficiente e prestável. Partindo desta premissa podemos, de forma prévia, chegar a uma conclusão: uma reestruturação ideológica não se deve fazer a partir de um líder que é escolhido de entre os pares, depois de uma guerra de facções; deve sim, surgir de uma acção concertada da maioria que, ao ver o estado decrépito a que chegou o partido, entende que toda a estrutura de pensamento e todo o ideário se deve modificar para enfrentar os novos desafios.

Mas para que isso seja possível é preciso que esse grupo de homens e mulheres tenha pensamentos estruturados e comuns; ideias que façam sentido e que acreditem de alma e coração; planos que sejam possíveis de ser estruturados no momento específico em que aparecem, mas sempre com a noção de que, por vezes e devido à situação do caso concreto, têm que ser adiados ou reestruturados. Quando se atinge o caos desordenado e onde se zangam as comadres; onde o líder de cada feudo apenas olha pelo seu pequeno castelo e arrigementa os seus homens para tentar conquistar o castelo maior em cima da colina; a “redefinição ideológica” deve servir para encarreirar de novo o grupo na direcção de que nunca deveria ter saído, através do surgimento de uma nova geração de líderes que, naturalmente, trarão consigo novas ideias. Ideias essas que devem ser adaptadas ao tempo em que são apresentadas, sempre com o pensamento e o bom senso de não serem imutáveis por mera teimosia pessoal.

O PSD actualmente pode-se, tentar, resumir a esta imagem: quando a aura de vencedor, trazida do cavaquismo, desaparece e se instala o vazio, o pior que pode acontecer é que esse vazio signifique a divisão em feudos dentro desse projecto. Divisão essa que adensa o vazio e que amarra a vida interna numa espécie de espectáculo romano onde os gladiadores se degladiam à procura do prémio supremo: o poder, de agradar, de se libertarem, de seguirem a sua vida e um dia poderem, quiçá, ter o verdadeiro poder, alicercados numa força seguidora de autómatos cegos que cobiçam os despojos e os lugares livres conquistados.

A confusão inerente à indefinição ideológica, confusão essa com outros projectos e outras ideias que se tornam semelhante às nossas, apenas desajuda quem faz parte desse projecto em crise. Isto porque a diferença é fundamental para a afirmação própria, quer pessoal, quer em grupo. Eu distingo-me do outro porque sou diferente, porque defendo ideias diferentes, porque defendo caminhos diferentes para um mesmo objectivo final. E é isso que me torna único ao ponto de as pessoas quererem falar comigo, descobrirem-me, etc. E assim também se passa com um projecto em grupo; essa ideia é diferente porque comporta perspectivas próprias e não um emaranhado de ideias desgarradas que a certa altura serviram mas que, hoje em dia, não servem. E a persistência nesses mesmo princípios, desgarrados e caducos, faz com que nos assemelhemos ao projecto do lado, onde a distinção é ténue e praticamente invisível. E aqui o PSD tem falhado, tem faltado a distinção com o PS, a meu ver, a principal razão de não ter conseguido ganho as últimas eleições legislativas.

Em política, a diferença e a novidade são armas poderosas. Porém esta novidade não deve querer significar a demagogia total de prometer o paraíso eterno da felicidade e do crescimento. Fácil é de constatar que a novidade comporta uma aura de aglutinação em torno dessa ideia nova, mas apenas pode vingar se for transmitida através da melhor mensagem e das melhores palavras. Quando a indistinção e a confusão se ameaçam tornar no principal e derradeiro problema, a mudança urge ser feita e quanto mais tempo se passa sem a fazer, mais se caminha para o marasmo eterno.

Um país, uma Nação, envolta no manto da Democracia, precisa de alternativas. É o seu oxigénio, uma das suas identidades mais prementes e necessárias. Porque através de dois ou mais caminhos alternativos, o indíviduo tem a possibilidade de escolher uma delas; de confrontá-las, de as debater e destruir criticamente ou de as apoiar criticamente. E o próprio país se desenvolve e se projecta para o futuro com essas visões distintas; porque elas todas visam o bem comum, o objectivo final. Claro que não se nega que há caminhos mais viáveis do que outros, uns que se ajustam melhor à realidade humana e económica que se vive nos dias que correm; mas no final, e de uma perspectiva puramente teórica desprovida de qualquer inclinação sobre o “bom” e o “mau”, todos são caminhos para o mesmo destino. O que não pode acontecer é a crise total de identidade, porque o país, num todo, sofre com isso.
O PSD tem que se livrar das guerras de barões, das tricas pessoais e das intrigas constantes. Tem que saber marcar a diferença perante o PS em matérias tão essenciais como a privatização da Segurança Social; a assunção do papel dos privados na Saúde; a defesa de um novo método educacional desprovido dos fantasmas do PREC, onde o mérito é exigido e premiado e onde existe uma maior oferta de escolas e cursos; uma nova reconfiguração dos investimentos públicos, de proximidade e de apoio às populações; uma nova reconfiguração administrativa, dando impulso a uma verdadeira regionalização; a diminuição do peso do Estado na economia, dando total liberdade e espaço aos privados para actuarem. A lista poderia ser mais extensa, o post mais extenso, mas isso seria abusar da boa vontade do leitor.

Urge a mudança; urge a discussão, não de pessoas mas sim de ideias. Antes da pessoa, líder, há um conjunto de ideias. Por mais líderes que o PSD tenha, sem antes se redefinir, todos estarão condenados ao fracasso. Ou a partir das bases, desapegadas ao aparelho partidário e imunes às tricas internas onde o poder se quer pelo poder, parte um movimento genuíno de mudança; ou o PSD arrisca a definhar lentamente, muito longe do poder. E para o bem da nossa Democracia, isso não pode acontecer. De novo um muito obrigado ao Bruno e um bem-haja e muito boa sorte ao blog!

Um texto de Pedro Rodrigues, Estudante do 4º ano de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ranking das escolas de 2009.

Bem sei que o ranking das escolas de 2009 já foi notícia há bastante tempo mas só agora me debrucei convenientemente sobre o mesmo.



Foi com algum orgulho que verifiquei que no ranking das escolas básicas figura a Associação Escola 31 de Janeiro em 34º lugar com uma média de 3.82 nos exames.

Foi um bom resultado tendo em conta que neste ranking constam 1304 escolas de todo o país. É certo que não colaborei directamente neste relativo sucesso pois estes são resultados deste ano, no entanto a minha passagem por aquela casa que durou vários anos, deixa-me (conforme já afirmei) orgulhoso. Sinto que de algum modo contribuí para o crescimento daquela casa que conta com quase 100 anos.

A escola tem fragilidades, não o escondamos. A falta de espaço, que quando lá andei já se fazia notar, é um dos maiores problemas criado pelo crescimento (físico) repentino que se iniciou há 10 anos. Uma escola que passa de 4 anos escolares (para não falar da pré-escolaridade) para 9, em poucos anos (na altura 5) pode ter dificuldades em reestruturar-se e de facto neste caso teve-as.

No entanto, as virtudes desta Escola superam enormemente os problemas. Apesar do súbito crescimento, a escola hoje em dia já conta com a experiência no ensino do 5º ao 9º ano. O sucesso no programa de Xadrez levou este estabelecimento de ensino a uma posição de alguma excelência no que à exigência no ensino e na aprendizagem diz respeito. Em suma, diga-se, os resultados estão à vista.



Apesar de tudo, nem tudo é ouro. Se no básico tenho orgulho, no secundário predomina a preocupação mas não a surpresa, de todo. A Escola Secundária Fernando Lopes Graça, vulgo “Escola da Madorna”, está numa posição medíocre. O 274º lugar não pode suscitar qualquer contentamento. Uma média de exames na casa dos 10 valores é um resultado fraco, muito fraco.

É-o ainda mais numa altura em que os exames são considerados fáceis, algo com repercussões no que a entradas no ensino superior diz respeito. A escola tem de facto muitos problemas, que pelos vistos ainda não foram resolvidos. Apesar do “saneamento” entretanto realizado (expressão infeliz por certo mas que retrata bem o que se passa), a crer nos relatos que me foram noticiados, a Escola não dá sinais de melhoria.

Falemos do tal saneamento. A escola tinha nas suas “fileiras” estudantis inúmeros alunos alegadamente pouco preocupados com o que ali faziam, mais apostados no insucesso escolar que propriamente no sucesso. Procedeu-se à exclusão desses alunos, com vista à melhoria da qualidade do ensino. Resultados: poucos ou nenhuns.

Apesar de a minha passagem ter sido bem menos duradoura nestes estabelecimento de ensino que no anterior, não posso deixar de manifestar preocupação com o estado das coisas. O argumento de que é uma escola pública não colhe, veja-se qual é o modelo de ensino da escola que ocupa o primeiro lugar do ranking. É Público. Espera-se trabalho.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Novo programa de Governo.

Parece que o novo programa de Governo é igual ao programa apresentado pelo PS nas eleições legislativas como pode ver aqui. Vejamos se ainda assim alguém terá coragem ou loucura suficientes para propôr uma moção de rejeição ao Programa. Para quem não conhece o programa apresentado aquando das eleições pode dar aqui uma vista de olhos.