quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Financiamento dos partidos.


Um dos maiores feitos de Abril foi assegurar que em Portugal existisse pluralismo partidário. O pluralismo incide na possibilidade de todo e qualquer cidadão poder formar um partido mediante o preenchimento de várias condições. Este direito está previsto no Artigo 51º nº1 da Constituição. O pluralismo partidário potencia aquilo que não havia no Estado Novo, a possibilidade de a nossa opinião (nossa, dos portugueses) ser representada na Assembleia da República, nas Autarquias. Claro que não é possível num regime como o actual, e duvido que em qualquer outro, todas as opiniões sejam susceptíveis de representação.

No entanto, os partidos de hoje em dia podem estar a incorrer num precedente grave. Hoje a nova lei do financiamento dos partidos mostra-o.

"A nova lei do financiamento dos partidos políticos, das campanhas eleitorais e dos grupos parlamentares, ontem aprovada na especialidade em tempo recorde, sobe em mais de um milhão de euros — de 22.500 para 1.257.660 euros — o limite das entradas em dinheiro vivo nos partidos."

"Um aumento de mais de 55 vezes em relação ao tecto actual e que se aplica às quotas e contribuições dos militantes e ao produto das actividades de angariação de fundos." Público.

Apenas António José Seguro do PS votou contra. 1 deputado em 230. Também apenas 1 se absteve, Matilde Sousa Franco, independente eleita pelo PS. 3 fizeram declarações de voto.

A lei foi alterada no sentido de se aproximar à proposta do PCP, que pretendia alcançar 1,8 milhões de euros como limite para a entrada de dinheiro vivo nos partidos e assim cobrir as quotas dos militantes sem conta bancária e parte das receitas obtidas na Festa do Avante!.

Fala-se também em transparência, no entanto é fantástico que nestas questões os deputados são quase unânimes, já noutras...
Como disse Seguro:

“A lei aprovada esta quinta-feira «aumenta o financiamento privado mas não diminui os dinheiros públicos», o que se traduz «numa menor exigência quanto à justificação do dinheiro» que entra nos partidos". TSF.

Fica o reparo.

25 de Abril por Tiago Gonçalves.

Comemorar @bril todos os dias

Celebrámos ontem, dia 25 de Abril, mais um aniversário – o 35º – da Revolução dos Cravos, cujo valor mais elevado que nos conferiu foi a Liberdade. E, é fruto dessa liberdade que existem comemorações desta data para todos os gostos. Uns não a celebram, como é o caso do PSD da Madeira, que deixou de realizar na Assembleia Legislativa a sessão solene, outros evocam a memória do ditador Salazar, como é o caso do PSD e do CDS-PP de Santa Comba Dão. Outros há, militantes do PCP ou da JCP, que optam por vaiar o Secretário-Geral da JS, um dos subscritores do manifesto do desfile da Avenida da Liberdade e que pasme-se o surrealismo da questão, alguma imprensa qualifica, o dito documento, como crítico do Governo, o que perfeitamente transmite por um lado a cegueira política habitual dessa militância mas também a finalidade com que celebram o 25 de Abril.

O nosso país necessita de discursos positivos e de confiança. Muito foi feito no pós revolução. É inegável e choca-me principalmente quando oiço ou leio o contrário, que só pode ser explicado por um desconhecimento ou uma descrença que não são justificáveis de que se elimine a história e os feitos já alcançados.

Mas, entendo, pessoalmente, que o mais importante é celebrarmos Abril todos os dias, nas nossas atitudes, na nossa conduta, na nossa acção. É por isso, que devemos cada vez mais optar por boas práticas, tais como os orçamentos participativos, a gestão transparente, mas também, empenharmo-nos enquanto cidadãos, para que as liberdades e os propósitos da revolução continuem a ser cumpridos – desde o desenvolvimento que todos ansiamos até à liberdade de imprensa, cuja dependência de aspectos económicos e de interesses políticos tem estado a saque.
No entanto, acredito, convictamente que, todos, seremos capazes de com consciência e responsabilidade comemorar o 25 de Abril durante 365 dias por ano.

Tiago Gonçalves, estudante do 3º ano da Faculdade de Direito de Lisboa, Dirigente nacional da JS e blogger do Peniche Quem Te Viu E Quem te Vê.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

25 de Abril por AD.

A grande REVOLUÇÃO DE ABRIL (à Portuguesa)

Mas afinal o que se passou em Abril 1974? Um golpe militar. Qualquer pessoa com “dois dedos de testa” consegue ver isto. No entanto ainda há alguns que negam esta realidade. Muito pouca gente comemora esta dia. É apenas mais um. Claro que fica bem comemorar quando se é “político à séria”.

O 25 de Abril foi um aborto elaborado por meia dúzia de macacos fardados que estavam fartos da guerra e foram atrás da cantiga do PCP. Outros, um bocado mais inteligentes, simplesmente queriam parar com aquele esquema do pessoal, milicianos que ia fazer umas comissões a África para cozer batatas (óbvio que para outros não foi o caso) e e iam subindo na carreira “roubando” lugar aos oficiais de carreira. Portanto, isto foi tudo uma grande fantochada e provavelmente esta ideia de A Revolução de Abril, apoiada no pais inteiro não passou de propaganda de esquerda. De Rio Maior para cima não punham lá os pés porque eram todos corridos. Há pessoas que teimam em falar das liberdades conseguidas com a revolução. Então porque é que o MFA, juntamente com o PCP, aprovou um plano que limitava a Assembleia, eleita por sufrágio em 75 com, creio eu, 90 e tal por cento de presença nas urnas, de votar no quer que seja além da constituição? Ou porque é que esse plano também incluía a decisão de o Estado tomar o controlo dos meios de comunicação, pois estes estavam a perturbar a revolução?

No fundo o que se pode dizer do 25 de Abril? Foi o maior embuste do século XX em Portugal. Muito no espírito daquele episódio que se passou nos USA nos anos 60, se não me engano, em que alertaram na rádio que estavam a ser invadidos por Aliens e a maioria do pessoal acreditou. Ridículo!!

Economicamente, foi uma desgraça. Não sei se muita gente tem noção das implicações e de maneira a nossa sociedade é, ainda hoje, afectada por isto. Não é só o comércio de cravos que interessa. Passo a explicar o pouco que percebo disto. Uma coisa muito engraçada que o senhor Cunhal tentou e consegui-o fazer, foi transformar a Constituição de 76 num autêntico manifesto comunista, por exemplo: Artigo 80º, “a organização económica e social assenta no desenvolvimento das relações de produção e socialistas, mediante a apropriação colectiva dos principais meios de produção e solos,(...)recursos naturais, e o poder democrático das classes trabalhadoras” ou ainda “a Reforma Agrária é um dos instrumentos fundamentais para a sociedade socialista”; e pior, isto tudo eram “ conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras ”. Só em 80s é que se começou a devolver terrenos e casas ocupadas. Isto tudo pôs todo o investidor ou cabeça com ideias para inovar e arriscar, a tremer de medo e escolher outras paragens. O dinheiro que entrava durante o Estado Novo de investidores, que havia, fugiu para fora. As remessas de emigrantes, a única coisa que suportava a nossa balança de pagamentos, pararam e os défices saltaram. O turismo desapareceu. Resumindo, estávamos mais pobres e a crescer -4% em 1975. Com o fim da guerra colonial o estado decidiu, para não parecer mal e tendo em conta o ambiente que se vivia, encher a maquina estatal com muito do pessoal que vinha do ultramar ao ponto de se inventar departamentos e burocracia, “só para encher chouriço”. Esta é a razão pela qual temos hoje uma função pública atolada e entupida. Outro grande disparate, que veio depois a complicar os futuros orçamentos de estado, foi o aumento nominal dos salários de um dia para o outro que não tinha contrapartida na produção nacional o que levou a mais importações, muito endividamento e muita inflação. O Estado ainda nos fez o favor de entrar numa política de expansão de investimentos públicos como se tivéssemos dinheiro para queimar, endividando as gerações futuras; O governo de Vasco Gonçalves "estoirou" com as reservas de ouro para tentar suportar o défice e pagar dívidas e deixou-nos numa crise de divisas, à beira da banca rota que só foi ultrapassada com a ajuda o FMI em 78.

Claro que nos anos 80, 90 e ainda hoje, vivemos repercussões daquele ano em que pessoas geniais fizeram coisas geniais. Óbvio que os governantes dos últimos 20 anos não tiveram coragem ou lucidez para atacar os problemas de fundo, como a falta de produtividade, no entanto passávamos bem sem o dia 25 de Abril. Se queremos comemorar devíamos comemorar o 25 de Novembro. Que tal?!!
AD

Duas entrevistas, dois mundos diferentes.

Por estes dias os líderes dos dois maiores partidos deste país foram entrevistados. Estas entrevistas foram pautadas por registos diferentes. Percebe-se que sim e porquê. Porém, isso não impede uma análise crítica dos motivos para tal bem como o desempenho de ambos. Cabe por isso uma análise separada, sem prejuízo de uma ou outra comparação que possa ser feita.

A entrevista do Primeiro-Ministro foi muitíssimo complicada para o mesmo. Os entrevistados pareceram bastante mais incisivos, contundentes do que na entrevista de Manuela Ferreira Leite (doravante MFL). Esse facto terá motivado o mesmo tipo de reacção de José Sócrates (doravante PM, não JS para evita confusão com a juventude partidária), apesar do seu estilo já de si mais de defesa-ataque.

Três factos tornaram esta entrevista mais “azeda” por assim dizer.

Desde logo, tratava-se do Primeiro-Ministro. Os chefes de governo são habitualmente dos titulares dos cargos políticos mais criticados num país, em antítese com o Presidente da República, por exemplo. Diziam no outro dia no “Eixo do Mal” da Sic Notícias, que Santana Lopes e o actual PM foram os primeiros-ministros mais atacados deste país desde que há democracia. Interessante o facto de serem os dois mais recentes.

Em segundo lugar, a comunicação social faz veicular quase todos os dias notícias do envolvimento do líder do PS no chamado caso “Freeport”. No entanto, lembro que o PM nem sequer foi chamado a neste processo. Apesar de tudo, este noticiado envolvimento, custa-lhe caro, e poderá ainda ser pior, a nível eleitoral, por exemplo.

Em terceiro lugar, o facto de perto de uma dezena de jornalistas terem sido alvo de um processo judicial por difamação (chamemos-lhe lato sensu) do PM nada ajuda, estando o senhor perante dois “representantes” dos profissionais daquele ofício.

Quanto ao conteúdo, o PM defendeu-se como pôde. Porém, poder-se-á dizer que medidas anti-crise precisam-se e não terão sido clarificadas nesta entrevista. Porém, pouco mais se pode pedir numa entrevista deste cariz. A auto-propaganda é quase inevitável. Coloquialmente falando/escrevendo, se te queres defender ou dizes o que fizeste de bom ou dizes o que os outros fizeram de mal antes de ti .

Já a líder do PSD teve uma entrevista mais calma. Não estava perante dois jornalistas e o que a entrevistava normalmente revela maior serenidade aquando das intervenções faladas, ao contrário do que faz por escrito, por exemplo nas crónicas que faz nos jornais. Aí é claramente crítico. Não censuro, aplaudo. Não interrompeu, deixou falar, mas podia ter sido mais acutilante. Terá pecado por escasso naquilo em que os outros (os da RTP) pecaram por excesso.

Para além disto, o exercício que fiz relativamente ao PM posso fazer relativamente a MFL, inversamente. É líder do maior partido da oposição, logo é aquela a quem apontam o dedo quando se fala em alternativa ao Governo porque invariavelmente temos PS ou PSD no Governo, salvo condições muitíssimo excepcionais.

Depois, nenhum processo envolve, nem sequer nos media, MFL. Isto apesar do caso BPN, do qual MFL se esquivou bem.

Em terceiro lugar, MFL não processou qualquer jornalista. Diga-se também que não foi difamada, que se saiba.

Em suma, MFL esteve bem, sem ser extraordinária. Achei graça (eufemísticamente) à última intervenção da entrevista.

Jornalista: “Não sei se é impressão minha mas não a tenho visto tanto no Supermercado de Bairro onde era frequente vê-la às compras.”

MFL: “Então é porque não tem lá ido aos fins-de-semana. (…) Eu continuo a ir lá aos fins-de-semana.”

Jornalista: “Muito obrigado. É bom saber isso. Obrigado por ter vindo.”

Será exagero da minha parte se disser que isto é conversa de elevador?
Estejam descansados, não o farei.

Fica apenas o reparo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ainda a propósito do 25 de Abril

Recomendo vivamente a leitura:

http://cafeodisseia.blogspot.com/2009/04/kanimanbo.html

25 de Abril por Tibério Dinis.

Uma das grandes dificuldades dos filhos de Abril é a de definir o que se celebra neste dia. As gerações que não viveram os dias de ditadura em Portugal encontram esta dificuldade, pois, os excessos revolucionários e contra revolucionários estão menos distantes que os excessos do Estado Novo.

Neste dia, podemos celebrar a coragem de um grupo de militares, denominado capitães, que romperam com as amarras de um regime opressivo, que controlava as liberdades dos cidadãos, que mantinha uma guerra colonial sem razão. O grito de raiva de um país sem infra-estruturas, no qual, a esmagadora maioria da população vivia na pobreza, tempo no qual, a educação, a qualidade de vida e até mesmo a higiene básica eram uma miragem. Podemos celebrar o fim deste regime ditatorial e a intenção de criar uma democracia virtuosa.

Uma coisa não podemos celebrar, a democracia do pós-25 de Abril até ao 25 de Novembro, os excessos de extrema-esquerda, a libertinagem justificada com a revolução. Nem a crueldade destes excessos deve justificar o esquecimento das não menos terríveis crueldades no Estado Novo, como as crueldades do Estado Novo nunca deverão justificar os excessos do pós-25 de Abril. É impossível celebrar o 25 de Abril da Liberdade e da Democracia sem celebrarmos simultaneamente o 25 de Novembro, sem celebrarmos o controlo dos excessos revolucionários.

Aquilo que se comemora hoje, não é para mim a democracia do pós-25 de Abril, é todo um processo revolucionário que se iniciou no dia 25 de Abril e que terminou em 1982 com a extinção do Conselho de Revolução. O processo revolucionário foi substituído pelo processo democrático evolutivo que devemos continuar e que terá sempre que continuar. É este todo que devemos celebrar.

Eu celebro o primeiro passo para a criação de uma Democracia, o inicio de uma caminhada, que nunca estará terminada, a busca por um Estado de Direito Democrático garante de Liberdade e Igualdade.

Tibério Dinis, estudante do 3º ano da Faculdade de Direito de Lisboa e blogger do In Concreto.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

25 de Abril por Samuel de Paiva Pires



Em primeiro lugar, quero aqui expressar o meu agradecimento pelo simpático convite para endereçar umas breves palavras aos leitores deste blog.

Já muito se escreveu por aí sobre o 25 de Abril. Já há alguns anos que não via um revivalismo tão grande em relação a esta efeméride. Talvez porque vivamos tempos perigosos em que alguns mais atentos vão sentindo que algo vai mal, que algo vai ameaçando aquelas que foram algumas das conquistas de Abril.

Por isso, vou evitar fazer uma interpretação exaustiva do que foi ou deixou de ser o 25 de Abril. Não quero aqui fazer uma análise dicotómica que oponha o antes e o depois do 25 de Abril. Sou apologista de que temos que saber lidar com o nosso passado da forma o mais distanciada e imparcial possível para poder projectar devidamente o futuro e é precisamente nisso que prefiro centrar-me.

Sendo assim, algo está mal nesta III República cuja legitimidade em muito se baseia na oposição ao Estado Novo. O Estado Novo foi fruto de uma época, consequência directa de 16 anos de caos da I República. Teve, como tudo na vida, coisas boas e coisas más. Há, aliás, uma clara divisão em pelo menos dois períodos, o antes de 1945 e o pós-1945, que correspondem, grosso modo, a um período mais bom que mau e a um período mais mau que bom, períodos sobre os quais a III República fez descer um obscurantismo com propósitos que não escapam aos mais atentos, tal como faz descer sobre o caos da I República características positivas que em nada lhe corresponderam. No seu todo, tanto a I República como o Estado Novo servem, acima de tudo, para nos lembrarmos do que é um regime caótico, sem rei nem roque, e do que é um regime com uma ordem excessiva e autoritária – ambos adversários da liberdade.

Porém, é necessário arquivar definitivamente estes capítulos da nossa História. Estamos presos ao passado, especialmente ao Estado Novo, e não admira o revivalismo que se vai vivendo por aí em torno da figura de Salazar. Estamos mentalmente estagnados e agarrados a um passado que é reivindicado por aqueles que se reclamam donos da revolução e da democracia, quando, na verdade, a democracia foi inventada para deixarmos de ter um dono. Urge requalificar a democracia em Portugal, e cumprir os ideais de Abril mas com responsabilidade, em liberdade mas respeitando as regras, e não com a liberdade que degenerou abusivamente em libertinagem e serviu para muitos fazerem apenas o que lhes apetece, escravizando assim a sociedade portuguesa – dois claros exemplos são o discurso em torno da luta contra o Estado Novo que muitos invocam como forma de legitimar os seus intentos, e a Constituição da República Portuguesa, de cariz social e socializante, que tem na sua base princípios de servidão total dos portugueses perante o Estado, veja-se o que Rui Albuquerque assinalou no Portugal Contemporâneo (25 de abril, sempre!):

Enfim, como pode então o povo português chegar a uma nova república, à 4ª, mais precisamente? Apenas e só como chegou à 3ª: por via do golpe de estado e da revolução.
Porque como afirmou Fernando Pessoa, "a ânsia de liberdade é comum ao homem superior e ao mendigo que não quer trabalhar. Assim, as instituições liberais tanto podem significar a expressão da liberdade, como a expressão da incúria e do desleixo", temos o dever de arquivar os capítulos da nossa História e saber aperfeiçoar a democracia em torno dos ideais da liberdade e da responsabilidade. Temos de saber preparar-nos para o futuro, para o século XXI com uma realidade internacional em constante mudança e indefinição. Temos, no fundo, que definir um novo Conceito Estratégico Nacional, como ultimamente o Professor Adriano Moreira nos vai recordando.

Sem isto, a democracia e a liberdade estão claramente ameaçadas no nosso país, restando apenas saber se virá uma nova I República ou Estado Novo, repetindo-se os erros do passado de golpes de estado e revoluções sem nexo. Nenhuma das hipóteses é aprazível para quem ama a liberdade acima de tudo. Recordemos o que Abril nos deu, mas recordemos também que muito está por cumprir, e isso cabe-nos a nós, líderes do amanhã. Só precisamos de nos permitir deixarmos de ser tratados como escravos, porque invocando novamente Pessoa, "O Estado está acima do cidadão, mas o homem está acima do Estado". Acima de tudo, é ter fé nas palavras de Chico Buarque e acreditar que "esta terra ainda vai cumprir seu ideal / Ainda vai tornar-se um imenso Portugal".

Samuel de Paiva Pires, aluno do 4º ano de Relações Internacionais, blogger do Estado sentido.

Também a propósito do 25 de Abril


Ainda a propósito do 25 de Abril, subscrevo na integra o que escreve Samuel de Paiva Pires no Estado Sentido. E aconselho a leitura na integra deste e do artigo da Silvia Vermelho sobre o tema.

"3 - É, portanto, necessário sabermos lidar com o nosso passado de forma distanciada, para que possamos concentrar-nos em projectar o nosso futuro. Urge relembrar que os ideais de Abril sairam em parte defraudados e que muitos jovens interpretam esses ideais à luz do estado de coisas que está à vista de todos, tal como afirmou Nuno Melo ontem na RTP N. Liberdade, Justiça, Democracia e Desenvolvimento são para mim quatro conceitos que necessitamos de requalificar em Portugal, mas de forma o mais desideologizada possível, isto é, não em oposição a outros regimes, para que a Democracia se possa solidificar definitivamente. O passado é passado, é História, serve para estudarmos e vermos por onde não devemos ir. Temos que acabar com a escravidão que nos vem sendo imputada pelos democratas do pensamento único, das maiorias absolutas, dos jobs for the boys, da corrupção e da fuga à responsabilidade. Os ideais da Abril, creio, deveriam levar-nos no sentido da responsabilidade e responsabilização de cada indivíduo no papel que desempenha na sociedade e comunidade onde se insere. Porque a liberdade não é fazermos o que nos apetece relativizando tudo para que possamos defender e praticar tudo e o seu contrário (o duplopensar, sempre o duplopensar orwelliano...). A liberdade acarreta responsabilidade perante os outros, e isso tem faltado e cerceado essa mesma liberdade.
"

domingo, 26 de abril de 2009

25 de Abril por Tiago Mendonça.

Em primeiro lugar, cumpre agradecer o convite formulado pela equipa do Blogue do Caraças para aqui dialogar convosco sobre a revolução que instaurou um regime democrático em Portugal.

Escrever sobre o 25 de Abril implica suscitar a controvérsia, a divergência de opinião. Nem mesmo o meu primeiro parágrafo está livre de ser questionado. A revolução dos cravos instaurou mesmo um regime democrático?

Tentarei abordar o 25 de Abril, analisando 4 tópicos, que me parecem de capital importância numa análise sistemática e abrangente do marco histórico em causa.

O contexto histórico do 25 de Abril de 1974
Os objectivos da revolução
A verdadeira democracia
25 de Abril, um legado para as gerações futuras.

O 25 de Abril de 1974 põe fim a um período de autoritarismo, cujo expoente máximo foi Oliveira Salazar, que durante décadas governou, com mão de ferro o nosso país, após o descrédito gerado pelos múltiplos governos da 1ªRepública, a instabilidade político-partidária e a humilhação sofrida, no contexto da Primeira Grande Guerra. Os portugueses estavam sedentos de rigor e organização financeira, crescimento económico, segurança. Os portugueses queriam voltar a ter orgulho no seu país, surgindo o governo da II República como representante de todo este conjunto de valores.

A revolução comunista de 74, vem assentar num descontentamento que existia em grande parte da sociedade lusitana, por via da supressão de liberdades que o regime autoritário propiciou. Liberdade de Associação, Reunião e Imprensa. O Partido Único, o culto ao chefe. Alguns traços deste regime, que ainda assim, tecnicamente não poderá ser considerado um regime fascista, não sendo comparável aos regimes de Mussolini ou Hitler, por exemplo.

A segurança, o crescimento económico, a neutralidade no conflito mundial eram as grandes marcas positivas de Salazar e do seu regime. As liberdades completamente suprimidas e a alegada tortura os grandes contras.

Mais quais eram os reais objectivos da revolução de 74? Não estaríamos em presença de algo próximo do que sucedeu em Cuba, após o derrube do regime de Batista, substituído por Fidel Castro? Olhemos para o propugnado na Constituição de 76, que emana da revolução de 74.

Dois grandes objectivos: Implementar o Socialismo como “pensamento obrigatório” em Portugal e transformar a sociedade portuguesa numa sociedade sem classes. A criação de um Conselho da Revolução, não electivo, com poderes alargadíssimos, não me deixam grandes dúvidas. O objectivo de grande parte dos mentores da revolução era instaurar um regime ditatorial de esquerda. Deixávamos a ditadura de Salazar, para iniciarmos uma outra ditadura.

O período até 82, é um período de democracia com entorses, numa expressão do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Verdadeiramente, quanto a mim, muito pouco de democrático tinha este período, tendo sido, o 25 de Novembro, que evitou, que verdadeiramente caminhássemos para um ponto sem retorno de ditadura comunista.

A ideia da propriedade comum, abolindo completamente a ideia de propriedade privada e economia de mercado, eram completamente desadequadas para o momento político que se avizinhava. Um Portugal moderno, era cada vez mais um Portugal Europeu e a CEE estava aí à porta. Quanto a mim, a entrada na Comunidade Económica Europeia foi um facto decisivo para que Portugal caminhasse para uma democracia.

Hoje se olharmos para trás, diremos que o 25 de Abril foi bom. Estamos hoje, na globalidade dos aspectos, melhor do que na ditadura salazarista. Mas o 25 de Abril na sua origem, na sua génese, foi bom? Não me parece. A sua intenção não era benéfica. Queria reforçar a ideia de que, a revolução de 74 poderia ter encarreirado de duas formas distintas: Democracia ou Ditadura. Uma panóplia de factores, levaram a que, felizmente, se seguisse o primeiro caminho. E por isso, posso hoje, estar aqui a escrever este texto, sem qualquer constrangimento.

Gostaria de, em 7 linhas, deixar um tópico reflexivo sobre a liberdade que vivemos nos nossos dias. Será que um ponto máximo de liberdade não está muito próximo da não liberdade? Será que a forma como usamos a liberdade hoje, não é uma manifestação de uma não liberdade? Será que estamos mesmo em liberdade quando fumamos sem nos preocuparmos com a saúde alheia ou quando, selvaticamente, marimbamos nas questões ambientais e nas gerações futuras? E a liberdade de imprensa pode hoje ser afirmada, com total certeza, como verdade inequívoca no nosso país? Para pensar.

Entrando na fase derradeira deste documento, na expectativa que algum corajoso ainda leia o que escrevo e, numa perspectiva ainda mais ambiciosa, na expectativa de que o texto seja base para a reflexão de alguém, importa afirmar o legado do 25 de Abril para as gerações futuras.

Neste ponto, a juventude de hoje é uma juventude que não viveu o 25 de Abril nem os Verões quentes que o sucederam. Uma juventude cada vez mais desligada desse marco, que em alguns inquéritos de rua, nem sabe a que se refere a data. Verdadeiramente, uma nota optimista a este respeito, não será uma nota verdadeira. Hoje, muitos jovens não querem, pura e simplesmente, saber do 25 de Abril, nem a evolução do sistema político deste então.

O grande legado do 25 de Abril para as gerações futuras, é pois a liberdade. A enorme a liberdade que continuamos a dispor, mas muitas vezes continuamos a estragar. Felizmente alguns jovens, como estes, que compõem a equipa do Blogue do Caraças utilizam essa liberdade para nos brindar a todos com esta excelente iniciativa.

Tiago Mendonça, estudante do 3º ano da Faculdade de Direito de Lisboa, Presidente da JSD Moscavide, blogger do Laranja Choque.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril por o Senhor Doutor.

O Blogue do Caraças vai ter a honra de poder contar, esta semana, com a colaboração de diversos pontos de vista, da direita à esquerda, acerca do mesmo tema, o 25 de Abril. Sairá um texto por dia acerca do tema.

Começo eu (sem qualquer pretensiosismo), hoje, por dar inicio a esta ronda de pontos vista que fomentam o desenvolvimento do fim último deste blogue que é o pluralismo e a partilha de ideias neste que pretende ser um espaço de debate.

O dia 25 de Abril de 1974 sempre representou para mim o dia em que Portugal, ou antes, os portugueses se tornaram livres. Claro que para o nascimento e desenvolvimento da democracia em Portugal foi essencial o dia 25 de Novembro, dia que colocou um travão na criação de um novo regime totalitário, o comunista. Por isso vai também uma referência e distinção para aquele momento. No entanto, foi no dia 25 de Abril que se pôs termo a quase 50 anos de ditadura. Compreendo a posição de alguns que não entendem o 25 de Abril como algo de um benefício e utilidade extremos. Porém, é ainda com alguma perplexidade que tenho assistido a uma espécie de “nouvelle vague” de credibilização do Estado Novo.

O facto de já terem passado 35 anos pode ser uma das causas de justificação deste fenómeno. Um dos sinais desta nova onda é, para além, do que vou ouvindo, aquele programa do “Melhor Português de Sempre” vencido por Salazar. Poderá também sê-lo a série que alegadamente mostrava um lado mais humano e menos estadista do senhor. Programas com este registo seriam impossíveis (ou pelo menos perto disso) 10 anos pós Abril. Agora aceitam-se sem grandes alarmismos. Parece-me que a Democracia já foi ponto mais assente do que é hoje. Tome-se cuidado, muito cuidado…

Lembrando aqueles que com o tempo se vão esquecendo do que foram aqueles quase 50 anos de ditadura, recorro ao jornal Expresso que tem, nos últimos meses, disponibilizado artigos antigos que só não foram publicados por terem sido cortados pela censura sob o título “O que a censura cortou”.

Bem sei que em tempos o Estado Novo fora fundamental para uma estabilização da economia nacional. Porém, a ideia de que o Regime propugnara sempre uma economia estável é errada.
Em 1973 "Portugal aparece no relatório relativo a 1973 da OCDE com uma taxa de inflação da ordem dos 20,6% (…)”.

Para além disto, recorde-se a impossibilidade de manifestação de opinião e de greve.

"Aproximadamente dois mil trabalhadores (entre operários, empregados de escritório, técnicos especializados, etc., englobando homens e mulheres) da Sorefame, uma das maiores empresas nacionais do ramo da construção metalomecânica (...), encontram-se parados desde o meio-dia da última terça-feira"

Evitou-se a expressão greve mas o artigo foi ainda assim cortado.

Se hoje em dia a gasolina sobe e ficamos todos a saber, sem ser preciso ir abastecer o carro, na altura, só abastecendo, pois no jornal não se obtinha grande informação. Não por falta de vontade dos jornalistas mas porque a censura não deixava.

Nas palavras do Expresso “O aumento do preço da gasolina, que na semana anterior fora a manchete, desta feita foi proibido. No miolo, um trabalho sobre a mesma matéria levou dois golpes. O título passou de "A subida continua" para "Preços: a subida". E na abertura foi riscada a expressão "numa escalada imparável", que caracterizava o aumento dos preços.”

Voltando a manifestações e reuniões veja-se o caso de 5 alunos com processos disciplinares e 151 estudantes detidos por manifestarem os seu desagrado.

“Na retoma do ano lectivo, a crise académica agudizou-se. No ISPA, "o início das aulas foi marcado por processos disciplinares instituídos a cinco alunos, de que resultou a suspensão destes por um período de dois anos". O resultado foi "um movimento de protesto que se traduziu durante o primeiro período por ausência às aulas". Nada saiu. Uma outra notícia sobre a crise levou dois cortes. Uma reunião de alunos do ensino secundário, realizada na Faculdade de Medicina de Lisboa, foi "considerada ilegal pelas autoridades escolares e policiais. Os alunos, de idades compreendidas entre os 13 e os 19 anos, foram detidos pela PSP e transportados ao Governo Civil, onde foram identificados e revistos". Ao todo, eram 151.”

Poderia estar aqui a referir artigos até à exaustão, mas creio que o leitor já percebeu a ideia. De qualquer modo poderá ver aqui vários dos artigos cortados pelo lápis azul.

Apesar de alguma necessidade de um regime com estes traços no inicio, este revelou-se prejudicial para o país. Em suma ficam pontos essenciais (negativos) do Antigo Regime:

· Fechamento do país ao exterior.
· Censura.
· Parco desenvolvimento económico e social (acima de tudo).
· Limitação das liberdades de voto, reunião, manifestação, pluralismo partidário, de opinião. Por exemplo, um blogue seria impensável.
· Inexistência de independência entre os vários poderes.
· Aprisionamento determinado por motivos políticos.
· Guerra Colonial.

Ainda acha (caso achasse) que aquele era um bom regime?

Viva a Democracia. Viva Portugal.

Fica o reparo.

Sondagem: análise dos resultados.

Já aqui escrevi o que achava das eleições europeias, por isso cingo-me, neste texto, aos resultados da sondagem, sem grandes considerações realtivamente aos mesmos. Deixo também os resultados de outra sondagem, da TVI/Intercampus, que poderá abranger um eleitorado mais significativo que a sondagem deste blogue, mas que salvo o erro, em tempos avançou com a vitória de Carrilho nas eleições autárquicas de Lisboa...
Na Sondagem do Blogue oPSD arrecadou 21 votos 40%, o PS 20 votos 38%, o BE 5 votos 9%, o PCP 3 votos 5%, a hipótese Outro 2 votos 3%, o CDS PP 1 voto 1%.
Sondagem da TVI/Intercampus (após distribuição equitativa dos votos dos que não sabem ou não respondem): o PS: 34%, o PSD: 33,5%, o BE: 18%, o CDU (PCP e PEV): 7,9%, o CDS: 6,9%.

1 dia, 3 factos.

O dia 21 de Abril, foi recheado com 3 factos dignos de registo aqui no blog, que são enquadráveis num mesmo plano, o da intolerância.

Desde logo foi o dia em que Hitler faria 120 anos se fosse vivo. Aquele Ditador é notoriamente o estadista mais conhecido de todos. Podemos perguntar a um aluno do 4º ano, quem era Hitler, que ele provavelmente saberá. Já se perguntarmos se sabe quem era Estaline, dificilmente obteremos resposta afirmativa. Isto é um sinal. Pergunto-me porque é que no Mundo Oidental sempre pintámos a tons mais negros a ditadura de direita que a de esquerda apesar de nos dois regimes em comparação (Nazi da Alemanha, Comunista da URSS), a chacina tenha sido sensivelmente a mesma.

A proximidade geográfica poderá ser a resposta. No entanto, a resposta poderá ainda estar no facto de Hitler ter expandido a sua intolerância além fronteiras, já Estaline, ficou-se as mais das vezes pelo seu país.












O segundo ponto foi a marca histórica do dia do Holocausto que foi celebrado. O que poderia aqui escrever seguiria a bitola dos textos "Não deixem cair Auschwitz-Birkenau" e "Enorme Documento". Por isso deixo apenas uma referência, que embora de poucas palavras, está carregada de simbolismo. Também não coloco imagens pois em anteriores textos já o fiz.

Já o terceiro facto digno de registo, que vem no seguimento dos anteriores, é a Conferência da ONU contra o racismo. Esta cimeira começou logo mal com países com grande influência global a boicotarem a mesma. Caso dos EUA, Alemanha, Austrália, Israel, entre outros. Fizeram-no quase que entevendo o que se iria passar, e passou naquele dia. Ahmadinejad fez uso da palavra para fazer o oposto daquilo que era suposto numa conferência daquelas. Os representantes dos países europeus saíram da sala em sinal de protesto. Poder-se-á dizer que deveriam ter ficado e manifestado o seu desagrado com a participação na cimeira mas o abandono da sala terá sido o mais adequado para demonstrar indignação. Compreendo, não censuro.

Fica o reparo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Por uma UE Unida!

(Furtada daqui)

Esta reflexão surgiu-me no outro dia, parece parva (se calhar é) mas fica à vossa discrição.

Portugal, para além das contribuições óbvias e conhecidas do público para a construção europeia, deve ser dos países mais cometidos à causa comunitária. Isto porque se formos a ver tem sido estratégia portuguesa pressionar os parceiros europeus nos diversos dossiers. Ora vejamos:
- Ainda não definiu um conceito estratégico nacional, muito menos um plano estratégico, que procurem mais do que a presença portuguesa na sociedade internacional. Assim, aparenta estar activo, surge como um Estado incontornável. Mas na verdade não prossegue nenhuma agenda conclusiva - tem sido táctica do país pressionar assim os parceiros europeus a definirem a UE e a sua estratégia no plano global;
- Não adoptou medidas anti-crise concretas, não porque o PM foi licenciado pela Univ. Independente mas sim como medida de pressão - os parceiros europeus vão sendo assim sempre embaraçados e relembrados do que os espera se não se mexerem;
- Mesma táctica tem sido usada no que diz respeito às questões de justiça e assuntos internos - Portugal está determinado a que estas pastas do seu governo não funcionem convenientemente até que a UE defina concretamente como irão funcionar no espaço europeu.
E a lista continua...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Debate no Prós e Contras.

Ontem fui surpreendido pela RTP ao ver o anúncio de que o Prós e Contras iria contar com os 5 candidatos às eleições europeias. Achei surpreendente porque só na semana passada se ficaram a conhecer todos os nomes dos cabeças de lista. Não pude ver grande parte do debate, aliás terei visto os 10 minutos finais, se tanto. Não por falta de interesse, mas por manifesta falta de disponibilidade. Aliás, reitero o que anteriormente escrevi, estas eleições suscitam-me interesse. Apesar de não ter visto o debate na totalidade sempre contei com um resumo de pessoas que considero de confiança. Antes dos 10 minutos que tive oportunidade de ver parece que aquilo foi uma confusão e um deserto de ideias. Nos 10 minutos que vi, continuou a mesma dose de "não debate". Para mim aquilo chegou a um limite quando um dos intervenientes diz a outro "Vai ler o Tratado pá!". Um debate quere-se com ideias, com propostas, não com conselhos/ordens com um tão português "pá" no final dos mesmos. O "pá" até se poderá usar por vezes. Mas num debate...
De qualquer modo e pelo que me contam, foi fraco. Fica ainda o aplauso para o que foi dito no final pela moderadora que anunciou que os partidos que ainda não tivessem entregue a candidatura mas que o fizessem até ao dia 27, teriam espaço de debate na RTP. Porque criticar (negativamente) o canal do Estado não é tudo, cabe aplaudi-lo quando actua bem.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Democracia vs Autocracia

Uma das grandes questões de cidadania que nos vêm assolando tem sido a de definir democracia e a análise e avaliação daquelas democracias que presenciámos. Desde pequeno ouvimos os mais distintos membros da sociedade abrirem a boca, enchendo-se de si, para dizerem que " este regime é mau mas é o menos mau que conheço!" ou " de todos os regimes políticos este é o menos imperfeito" ou então, os menos modestos, "é o melhor regime político até hoje inventado! E funciona!". É com esta facilidade ou outra semelhante que descartamos milénios de experiências governativas e as ideias de milhares de pensadores políticos, filósofos (bem como os de jovens pensantes).

Desculpem a minha ingenuidade, mas a mim parece-me que tais afirmações não são mais do que actos de fé. Isto porque a esmagadora maioria desses donos da verdade nunca conheceram outro regime e aqueles que realmente tiveram a in/felicidade de experimentarem outros regimes apenas terão conhecido uma pequena amostra, demasiado pequena, das alternativas conjecturadas ou vividas até esta. Quero com isto dizer que ninguém sabe realmente se a democracia é o melhor regime apenas sabem que aparentemente é melhor que as alternativas actuais e a partir daí têm fé, talvez por medo do desconhecido, talvez porque as pessoas precisam de ter fé nalgumas coisas.

Posto isto chegamos a um outro problema metafísico: o que é a Democracia?
Eu pouco ou nada percebo disto, se bem que se a memória não me falha será um regime político. Então para definir democracia teríamos também que pensar o conceito de política. Um conceito demasiado difuso e abrangente para que possamos aqui analisá-lo extensivamente. Por isso, tomemos como possíveis definições: a arte de governar (o povo); a luta pela aquisição, manutenção e exercício do poder; demagogia, no sentido em que apenas serve para ludibriar o povo.

Se é isso a política, temos que perceber o que será a democracia. Desde logo sabemos que existe mais do que uma forma de lá chegar, desde a democracia eleitoral à representativa, temos as socialistas e as liberais. Nem os ocidentais vêem a democracia da mesma forma. Se uns a definem como a expressão da vontade de uma maioria e outros a vêem como garante dos direitos liberdades e garantias Individuais. Se uns são republicanos outros monárquicos. O que raio então é uma democracia?

Sinceramente, não sei. Sei, que alegadamente é um regime caracterizado por permitir ao povo decidir, de forma cíclica, quem o governará e onde a Liberdade é um garante e o Direito assegura o normal funcionamento do Estado.

Hoje, tomamos por Autocracia, tudo o que não é Democrático, para tal pensamos nas alianças do regime em causa e a ausência de um destes dois elementos. É um erro. Primeiro, porque a construção de uma sociedade democrática é um processo social que embora possa encurtar etapas não as pode saltar. Quero com isto dizer que nem o dito "ocidente", apesar de se aproximar mais do que os restantes, detém reais democracias, não o deve esquecer e muito menos está em posição de fazer exigências. Segundo, a instrumentalização do regime político para o jogo internacional acaba por funcionar como elemento descredibilizante da democracia porque obriga os governos a recorrerem a faltas de coerência brutais. Como seja o apoio dado ao governo Saudita e a condenação do regime Venezuelano.

Com este longo texto de "lugares comuns" pretendia apenas lançar um apelo: Por Favor, parem com isso! Bem compreendo que vivemos 45 anos num mundo dividido em blocos e que é difícil não ter inimigo mas dizer que o novo bloco será um composto pelas autocracias é procurar conflitos onde eles não existiam (a par da lógica do choque de civilizações) Democratizar à força numa lógica de estão connosco ou contra nós é assegurar o conflito. Creio que Bush demonstrou com a sua política do "eixo do mal" que o mundo não está para essas divisões. O apoio chinês em África é um indicador dos resultados de uma postura "ocidental" de auto-alienação.

Concluo então que vivemos em tempos idiotas, onde a confusão derivada da ausência de inimigos nos obriga a inventá-los. Por isso vemos homens, alegadamente, geniais surgir com teorias que apesar de uma grande coêrencia teórica não tinham base prática inicial. Assim senhores como o Huntigton, o Kagan, entre outros, formularam teorias que servem de quadro mental. A meu ver, estes apenas servem para isolar. O "ocidente" vai-se isolando e o isolamento além de sair caro vai ser impossível de engolir.

Viva o Futebol VII.

O futebol continua a ser fértil em momentos extraodinários. Depois de muito se ter falado em erros de arbitragem nos jogos em que o Benfica alegadamente foi beneficiado, estranho o silêncio, ou pelo menos o "recato" de alguns.
Esta jornada foi estraodinária. Pelos vistos para os lados de Alvalade agora não se podem mostrar cartões amarelos a jogadores com 4 amarelos acumulados quando estes até merecem o cartão. Pelos vistos mostrar um cartão amarelo em vez do vermelho adequado passou a ser um roubo para a equipa do jogador "amarelado".
Melhor. As equipas portuguesas têm de se habituar à ideia de que só contra um grande terão hipóteses de serem beneficiados. Os jogadores da Académica ficaram mal habituados. Tanto benefício numa jornada...tinha que surgir a emenda. Emenda essa que prejudica sempre os mesmo na luta pelo título.
Então agora abrir o braço ostensivamente de modo a tocar na bola já não é falta, no caso penalty.
Também já não se assinalam aquelas situações em que no momento do passe só existe um defensor entre a baliza e o jogador a quem foi passada a bola. Achava e acho que se chama fora de jogo.
No fundo mais do mesmo. Viva o Futebol.

sábado, 18 de abril de 2009

Agradecimento.

Já passaram alguns dias mas venho por este meio agradecer o "Prémio Jovens que Pensam". O Melekh Salem já aqui expressou a sua gratidão bem como a minha mas, ainda assim, achei que seria pertinente agradecer.

Obrigado.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Eleições Europeias 2009.

Estas eleições têm sido alvo de comentários maioritariamente negativos, seja pela suposta fraca notoriedade dos cabeças de lista, seja pelo interesse que suscitam no cidadão comum português, seja porque são em Junho e a malta quer mas é ir para a praia ou...estudar.
Por isso, passo a uma análise das eleições em geral e das listas dos partidos com assento parlamentar em particular.

As europeias suscitam-me sempre interesse. Podem ser aquelas eleições em que está mais de meio Mundo a marimbar-se para as mesmas, mas para mim revestem enorme importância. O Parlamento Europeu é um dos órgãos mais importantes da União Europeia e ganhará importância com o Tratado de Lisboa. Sim é um facto, o Tratado ainda vai vigorar acreditem, e não sou só eu que o digo. Até posso estar enganado mas não creio.
Ora, se este é um dos órgãos mais importantes com funções como a adopção de actos legislativos europeus, controlo democrático e o poder orçamental, porque mereçerá menos respeito que as eleições nacionais? A resposta é bastante simples. Por um lado só um cidadão minimamente interessado encontra informação sobre o que é debatido naquele lugar. Se para encontrar informação sobre a nossa AR basta no fundo abrir o site do Expresso, para encontrar sobre o PE, possivelmente a busca será maior, a menos que seja uma bacorada monumental lançada por um qualquer eurodeputado, ou um insulto, ou uma palhaçada qualquer. Depois, há aquela ideia muito estranha de que aquilo é outro Mundo, e que não nos afecta. Nada mais falso. Depois admiram-se de cortes nas pescas e na agricultura.
Posto isto aviso à navegação. Votem, mas votem mesmo!

Cabe agora analisar cada um dos candidatos a estas eleições, a ordem será a do nº de deputados no Parlamento nacional por ordem descrescente.

O PS lança Vital Moreira. Já ouvi dizer tudo e mais alguma coisa acerca deste senhor. Provavelmente para o cidadão comum português com menos de 30 anos, seja um ilustre desconhecido. Porém, é um mero engano. Antigo deputado pelo PCP, e juiz do Tribunal Constitucional, este senhor é ainda conhecido no Mundo do Direito como Professor. Este nome causou surpresa, mas é uma aposta nos votos à esquerda por parte do PS que quer recuperar aquele eleitorado. Fica a dúvida sobre se este era o nome certo. O slogan escolhido “Nós, europeus” pareceu-me adequado. No entanto, aquela prespectiva ainda pouco europeísta do português médio poderá não ser receptiva à mensagem. Creio, com muita dúvidas, que consegue os 25-30% que o PS normalmente garante. A ver vamos se consegue algo mais até porque há que ter em conta o possível cartão amarelo que é usado em eleições como estas (se bem que é mais frequente nas autárquicas) para mostrar descontentamento perante medidas governamentais.


O PSD avança com um nome que há um ano atrás só conhecia dos debates na RTP, creio que era o Estado da Nação, o programa onde o senhor entrava. Com a entrada de Manuela Ferreira Leite em cena, Paulo Rangel passou a ser um nome mais conhecido por se ter tornado Líder da Bancada Parlamentar do PSD. É uma grande dúvida mas tal como Vital, deve garantir o eleitorado habitual do PSD mas será que consumirá eleitorado socialista? Não sei até porque carregará consigo a imagem de Ferreira Leite por quem tenho o maior respeito mas que, de acordo com as sondagens, não tem sido um polo dinamizador. Contar ainda com o candidato do PP é também importante e é a esse que passaremos.


O PP escolhe Nuno Melo para a luta europeia. Parece ser um nome forte para os recursos do partido, mas daí a ser um nome forte para o português comum vai um passo. Aliás tanto o PP como o BE escolheram nomes que são fortes no interior do partido, mas que não sei se conseguirão ter o apoio proporcional nas eleições, ao que têm no aparelho partidário. Voltando a Nuno Melo, poderá, a revelar-se um forte candidato, ser uma séria ameaça ao PSD mas recordo que ambos os partidos elegem deputados que vão para a mesma família política, o Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e Democratas Europeus.


O PCP lança Ilda Figueiredo, o que constitui uma aposta na constinuidade. É de facto, digamos, diferente, ter um candidato a um órgão de uma Organização na qual não se acredita mas consigo perceber o propósito. Quanto a resultados creio que conseguirá o resultado habitual do partido até porque o eleitorado comunista é pouco móvel.


O BE também apostou na continuidade de Miguel Portas, o nº 2 do Partido. É um sério critico da Europa e poderá ser um candidato a ter em conta pelo PS que poderá perder votos numa eventual amostragem do cartão amarelo ao Governo.

Em suma, estas eleições são uma quase-incógnita. Sê-lo-ão até sairem as sondagens, algo que não aprecio muito (como já aqui no blog escrevi) mas com as quais estou habituado a conviver. Que vença o melhor.

Em jeito de conclusão espero que a abstenção seja reduzida desta feita, embora não esteja iludido. A não participação deve andar aí na ordem dos 50/60%.

Votem!

Obrigado.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Prémio Jovens que Pensam

Fomos galardoados pelo Samuel de Paiva Pires com esta maravilhosa distinção. Apesar da nossa curta e inconstante experiência na blogosfera, da nossa parvoíce e idiotice recebemos a distnição de jovem pensante. Por isso agradeço-lhe caro Samuel (bem sei que excluiu a reciprocidade mas é o meu primeiro prémio, bem como o do blogue e, ou muito me engano, do Senhor Doutor também).



Ficam por isso estes humlides agradecimentos, também em nome do Senhor Doutor e d'Um Blogue do Caraças.



Cumprimentos do Caraças ao Estado Sentido!



terça-feira, 14 de abril de 2009

Há Espera do nunca

(Um dia a preguiça mental tornar-se-á algo mais)


Procurando uma resposta, passivamente, sem nada fazer e sem nada conseguir, sem solução ou alternativa. O turbilhão de ideias: um tormento! O futuro (que futuro?!), o passado (quê?!). Abstraímos-nos na procura metafisica de uma solução real. Chegado o fim de um ciclo (deves mesmo acabar este ano, deves!) deparamo-nos com a procura. Ao fim de meses de perguntas ...nada...


(Um dia a preguiça mental tornar-se-á algo mais)


Queremos tanto, esperamos tanto do mundo. Pusemos demasiadas esperanças nessa tal vida. Tal qual Obama, o capital político é demasiado grande. Não há como não desiludir.


(Um dia a preguiça mental tornar-se-á algo mais)


Assim nos tranquilizamos neste vazio de projectos, neste vazio de sentido, de vontade. Aguardamos, qual Aladino, a chegada do génio.

(Um dia a preguiça mental tornar-se-á algo mais)

A juventude vai lentamente cedendo, dá lugar à falta de: fulgor, rigor, exuberância, robustez, a esperança torna-se sonho e este utopia.


Um dia a preguiça mental tornar-se-á um desgosto. Até lá, aguardamos. E temos saudades.

Cenas do Caraças

Declaro o seu óbito.

domingo, 12 de abril de 2009

E o Mundo ficou mais rico...

Cão de água português é o escolhido dos Obama

O novo animal de estimação da Casa Branca vai chamar-se Bo.

(notícia do Expresso aqui)

(Imagem de "um Bo" aqui)

Não acham que o Mundo ficou mais rico?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Um tema complicado, uma decisão...diferente.

A relação pai/mãe-filho é uma relação complicada, praticamente de dar de um lado e receber do outro, claro que com deveres de respeito de parte a parte. É chato mas acaba por ser um facto. Um pai dá muito mais a um filho que um filho a um pai. Porém, um filho tem que ser mais que um mero ser egoísta que nada deve (para além do respeito) a um pai. Numa prespectiva um pouco egoísta, pelo menos um filho tem que retribuir um pouco daquilo que os pais lhe deram, no fundo ser amigo de quem seu amigo é.
É uma situação complicada, a relação paterno-filial pós-maioridade e emancipação. Se por um lado os pais têm saudades dos filhos, por outro cabe aos filhos procurar uma vida melhor. Isto pode até parecer uma treta, uma balela pseudo-filosófica, e possivelmente até o é. Embora discorde.

Um caso deste problema transversal na sociedade é o desta notícia.

Ora bem, parece que pelas bandas da Áustria, que tem aparentado ser um poço de novidades, uma mãe foi condenada por assédio, por ter telefonado 49 vezes num dia ao filho. Esta decisão é extraordinária, pelo menos parece-me que em Portugal dificilmente poderia ser tomada. Ora, a mãe argumentou que só queria falar com o filho e ver o neto que já tinha 15 anos e do outro lado o filho no fundo disse que a mãe era uma chata. Resumindo e concluindo a querela, a mãe tem que pagar 360 euros e anunciou que vai deserdar o filho, algo que em Portugal não deveria ser possível pois aparentemente não preenche os requisitos para a mesma previstos no Código Civil.

Em suma, e olhando para esta notícia, a relação paterno-filial deve ser pautada por equilíbrio (relativo). Não pretendo com este texto afirmar-me como um exemplo máximo de filho perfeito mas pelo menos alertar as pessoas para um problema que só com equilíbrio poderá ser controlado. Obrigado.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Voltei

Caríssimos leitores,
Em jeito de comunicado venho por este meio informar que me encontro de regresso. Bem sei... não comuniquei a minha ausência mas isso é tudo parte do passado. Regressei e em força!
Por hoje deixo-vos uma pequena reflexão:
O telejornal da RTP1 teve hoje como notícia de abertura uma peça que dava conta da vitória do FCP e da recepção feita à equipa no aeroporto do Porto. Eu pergunto-me em que escala doentia de importância é que a vitória de uma equipa de futebol é considerada mais importante do que... sei lá... os sismos em Itália por exemplo? Ou tantas outras notícias, enfim... É a televisão pública que se tem...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Enorme Documento.

Depois de aqui ter escrito acerca do estado de degradação em que se encontrava o Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau, surge uma notícia (aqui) que é enquadrável no mesmo tema mas que, ao contrário daquela, é positiva. Encontrou-se a “Lista de Schindler”! Sim, a Lista de Schindler. Aquela lista que foi motivo para um filme que mostrava dois lados do extremínio judeu. O lado monstruoso e terrível daqueles que (ou embuídos de uma mentalidade hedionda ou simplesmente a cumprir ordens) tentavam terminar com aqueles que envergavam “a estrela de David”, e o lado que podemos apelidar de louvável daqueles que arriscaram a própria vida para salvar outras.
Para aqueles que não sabem ou não se recordam do que é/foi a lista de Schindler, lembro-vos.
Na segunda Guerra Mundial em pleno extremínio por parte dos nazis aos judeus houve um cidadão que quis pôr uma espécie de travão ao que se passava. Claro, não o fez de modo generalizado, seria difícil, mas ao que consta salvou 800 e muitos judeus. Consta que o seu objectivo lucrativo passou para segundo plano apesar de nunca ter resistido anteriormente ao regime nazi. Sendo patrão de muitos judeus numa fábrica polaca, Schindler apercebeu-se do que ali se fazia e tomou medidas. Fez uma lista que enumerava os judeus que pretendia salvar, colocando-os a trabalhar, evitando que fossem para as câmaras de gás.
Este documento é como o campo de Auschwitz-Birkenau, um facto histórico que não poderá ser esquecido. Poderá não ter tantos anos como documentos mediavais e romanos mas tem um valor inestimável e tal como o campo de concentração, é importante para não deixar no esquecimento o que de pior já se fez neste Mundo.
Obrigado.

sábado, 4 de abril de 2009

Mas que raio?



(Imagem tirada daqui)

Fica o reparo.