sábado, 12 de dezembro de 2009

O que esperar de 2010

“A crise demonstrou o quão dificil é prever certos acontecimentos” diz o nosso caro cherne, presidente da comissão europeia, numa daquelas frases que resume o seu pensamento: uma quantidade de nadas em forma de frase, parágrafo e texto. De facto, a elite política, em tempo de crise, em tempo de crise no qual também têm responsabilidade enquanto decision e opinion makers, afirmam alguns clichés para se afastarem da responsabilidade que têm neste cenário. Deste modo ilibam também a elite económica, com quem se confundem por vezes, sendo mais moralmente reprovável (como na Europa) ou aceite (como nos EUA), aparando os golpes desta, justificando com o “bem da nação”. Esta, costuma por seu lado, justificar a sua necessidade de lucro nestas épocas com “em tempo de crise é necessário reajustar” como quem diz cortar e despedir para reduzir custos, mas na verdade mais que outra coisa qualquer para manter a margem de lucros, o Estado como dito passivamente aceita e colabora e o resultado são dados indicadores de que em 2010 teremos mais 60 milhões de desempregados em todo o mundo do que relativamente a 2008. A possibilidade de no novo ano a crise ter um fim é cada vez mais ficção científica, já que indicadores de confiança da população e o real estado da economia deixam perceber que a excitação de alguns comentadores e agentes económicos sobre uma possível saída da recessão não são mais que boatos.
Os Estados podiam aproveitar para fazerem duas coisas durante a crise, como medidas sustentadoras de crescimento a curto e médio prazo: por um lado, aproveitar a crise como uma oportunidade “uma vez numa geração” e renovar os seus quadros, limpando os cantos à casa e trazendo mais valias que até agora se encontravam incapazes de atrair em competição com o sector privado, podendo assim ter pessoas mais capazes, melhor gerindo aquilo que será nos próximos tempos menos em comparação com anos anteriores. Mas o peso da “máquina” é enorme e a renovação desta uma clara irrealidade, demonstrando que nem quando a oportunidade se apresenta algo muda. Por outro lado regular o mercado de modo claro para que crises similares não se sucedam. Tardam medidas mais claras, talvez os catalizadores de uma maior confiança dos próprios mercados, numa época em que o sector económico passa do 80 ao 8, fechando-se em copas e arriscando muito pouco, risco este catalizador de uma economia saudável (atenção disse risco, não disse medidas kamikaze).
Num último apontamento, mudando mais para o um campo eminentemente político e geográficamente definido, a administração Obama é também alvo de pouco entusiasmo, pela incapacidade de sair da crise e por se encontrar enredada num sistema nacional de saúde que os republicanos aproveitam para fazer o tema alongar e deste modo prejudicar os democratas. Just another day in the park I guess. Sobre isto deixo um video.


The Daily Show With Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
You're Not Helping - Senate Health Care Debate & Homeless Man
www.thedailyshow.com
Daily Show
Full Episodes
Political HumorHealth Care Crisis

Um texto de Frederico Neves, estudante do 4º ano de Relações Internacionais do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Viva o Circo III!

Há muito que esta rubrica não via sequela, não por falta de oportunidade mas antes por falta de paciência minha. Desta feita, não podia deixar passar aquilo que é mais um momento do dia a dia Assembleia da República Portuguesa. Divirtam-se (que não vale a pena chorar)!


sábado, 5 de dezembro de 2009

Hans Christian Andersen ou um modelo Educativo?

Quem nunca ouviu falar da história do “Patinho Feio”, do “Soldadinho de chumbo”, d’ “O Rei vai nu” ou da “Princesa e a Ervilha”? Foi Hans Christian Andersen quem escreveu estes contos infantis e inspirou muitos outros que se seguiram. Foi um dos primeiros escritores a pensar e criar literatura, especialmente, dirigida a jovens e crianças, mas não só - já Fernando Pessoa dizia “Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças”.

Para encontrarmos um género literário semelhante teríamos, provavelmente, de recuar ao tempo em que os animais falavam (ou tomavam papéis principais), com as fábulas de La Fontaine e, muito antes, com as fábulas de Esopo.

A forma, mais até que o conteúdo, de ambos os géneros são bem distintos. Porém, existem grandes semelhanças. Centramo-nos no principal: a simplicidade da história e da estética (principalmente semântica).

Estas características, como não poderia deixar de ser, fazem sentido: eram histórias contadas às crianças na escola, em casa, eram histórias de embalar. Eram contos que estavam presentes na consciência de todos, que formavam. Porque a formação começa desde o dia em que deixamos a placenta para trás, estas histórias tinham um grande relevo na educação dos mais novos.

A comparação que pretendo fazer é do tempo em que estas histórias eram lidas e ouvidas, para os tempos de agora em que estas histórias parecem esquecidas, aborrecidas e pouco estimulantes aos jovens.

Nas histórias infantis da actualidade reina a violência e o desequilíbrio. E isso tem implicações nas brincadeiras do dia-a-dia das crianças. Em vez de jogarem às escondidas e à apanhada, todas as brincadeiras que lhes vejo acabam, invariavelmente, em cenas de pancadaria.

O problema é complexo demais para o expor sem ser superficialmente. A verdade é que cada vez mais se diz que a educação e a cultura devem ser os motores de desenvolvimento de um país e cada vez mais se constata que a educação é fraca, elitista e estatística. Acrescento um adjectivo: a educação é desumanizada.

Não se estimula o raciocínio, a compreensão, a inter-acção humana. Os personagens das histórias, heróis e modelos das crianças, levam-nas a uma não evolução.

Isto tem consequências em toda a formação humana – note-se que nos referimos, aqui, somente à formação humana –, primeiro da criança, depois do jovem e adulto. Num suposto momento de auge civilizacional regredimos numa educação que nos forma para um Estado Natureza no qual terminamos todos, invariavelmente, mortos.

Por tudo isto, parece-me que deveríamos recuperar a matriz dos contos de Andersen para a formação juvenil. As bases sólidas da educação são os alicerces do Homem.

Um texto de João Ascenso, estudante do 4º ano e Presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sugestão para o Fim-de-Semana

Hoje, trago apenas uma sugestão aos nossos leitores. Estando já farto da novela das escutas e das brincadeiras políticas à custa de um tal Estado de Direito, de uma suposta Democracia e de um qualquer Sentido de Estado; deixei de assistir aos telejornais portugueses. E ainda não me arrependi. Não é nenhuma revelação nem é nada de original dizer que os telejornais portugueses são longos, entediantes e de um vazio de conteúdo brutal. Lugar comum ou não, não deixa de ser verdade. Por isso, sugiro a quem tenha tempo este fim-de-semana que veja um telejornal a cada hora certa. Começando por um português, à escolha, digamos às 13h, e que, de hora em hora, veja a CNN, a Aljazeera, a BBC World e termine com a France 24. Bem sei que o desafio não é para todos, sendo apenas possível para quem fale inglês e tenha os canais mencionados. No entanto não deixa de ser interessante ver como os diferentes canais vêem o mundo e constatar o quão pobres os noticiários portugueses são. A titulo de curiosidade, digo que os meus favoritos são a France 24 e a Aljazeera.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um referendo tenebroso.

Há uns tempos, a propósito da deterioração do campo de concentração de Auschwitz, aqui escrevi, citando Gilbert Chesterton que "dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis".

Na realidade, cada vez mais parece haver aqui e ali uma reedição do que de pior se passou na história, por vezes de forma tão semelhante que chega a ser assustador. Para quem não sabe, há dias houve um referendo na Suiça que perguntava aos cidadãos se concordavam com a proibição de construção de minaretes (as torres dos templos muçulmanos).



O referendo avançou por iniciativa dos ultra-conservadores suiços que aproveitando o facto de naquele país serem suficientes 100000 assinaturas para espoletar um referendo, colocaram a tal questão por forma a travar a construção de mais um minarete. Para quem quiser conhecer melhor a história veja aqui.

Ora, só a própria pergunta já seria susceptível causar repúdio por violar a liberdade de culto, no entanto, o sim venceu muito por influência dos votos das zonas mais rurais. Este resultado é muitíssimo preocupante. As semelhanças com o que se passou há 70 anos são demasiado evidentes. Tenho receio que não haja bom senso. Tenho confiança, contudo, que se ponha travão nisto.