sábado, 12 de dezembro de 2009

O que esperar de 2010

“A crise demonstrou o quão dificil é prever certos acontecimentos” diz o nosso caro cherne, presidente da comissão europeia, numa daquelas frases que resume o seu pensamento: uma quantidade de nadas em forma de frase, parágrafo e texto. De facto, a elite política, em tempo de crise, em tempo de crise no qual também têm responsabilidade enquanto decision e opinion makers, afirmam alguns clichés para se afastarem da responsabilidade que têm neste cenário. Deste modo ilibam também a elite económica, com quem se confundem por vezes, sendo mais moralmente reprovável (como na Europa) ou aceite (como nos EUA), aparando os golpes desta, justificando com o “bem da nação”. Esta, costuma por seu lado, justificar a sua necessidade de lucro nestas épocas com “em tempo de crise é necessário reajustar” como quem diz cortar e despedir para reduzir custos, mas na verdade mais que outra coisa qualquer para manter a margem de lucros, o Estado como dito passivamente aceita e colabora e o resultado são dados indicadores de que em 2010 teremos mais 60 milhões de desempregados em todo o mundo do que relativamente a 2008. A possibilidade de no novo ano a crise ter um fim é cada vez mais ficção científica, já que indicadores de confiança da população e o real estado da economia deixam perceber que a excitação de alguns comentadores e agentes económicos sobre uma possível saída da recessão não são mais que boatos.
Os Estados podiam aproveitar para fazerem duas coisas durante a crise, como medidas sustentadoras de crescimento a curto e médio prazo: por um lado, aproveitar a crise como uma oportunidade “uma vez numa geração” e renovar os seus quadros, limpando os cantos à casa e trazendo mais valias que até agora se encontravam incapazes de atrair em competição com o sector privado, podendo assim ter pessoas mais capazes, melhor gerindo aquilo que será nos próximos tempos menos em comparação com anos anteriores. Mas o peso da “máquina” é enorme e a renovação desta uma clara irrealidade, demonstrando que nem quando a oportunidade se apresenta algo muda. Por outro lado regular o mercado de modo claro para que crises similares não se sucedam. Tardam medidas mais claras, talvez os catalizadores de uma maior confiança dos próprios mercados, numa época em que o sector económico passa do 80 ao 8, fechando-se em copas e arriscando muito pouco, risco este catalizador de uma economia saudável (atenção disse risco, não disse medidas kamikaze).
Num último apontamento, mudando mais para o um campo eminentemente político e geográficamente definido, a administração Obama é também alvo de pouco entusiasmo, pela incapacidade de sair da crise e por se encontrar enredada num sistema nacional de saúde que os republicanos aproveitam para fazer o tema alongar e deste modo prejudicar os democratas. Just another day in the park I guess. Sobre isto deixo um video.


The Daily Show With Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
You're Not Helping - Senate Health Care Debate & Homeless Man
www.thedailyshow.com
Daily Show
Full Episodes
Political HumorHealth Care Crisis

Um texto de Frederico Neves, estudante do 4º ano de Relações Internacionais do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Viva o Circo III!

Há muito que esta rubrica não via sequela, não por falta de oportunidade mas antes por falta de paciência minha. Desta feita, não podia deixar passar aquilo que é mais um momento do dia a dia Assembleia da República Portuguesa. Divirtam-se (que não vale a pena chorar)!


sábado, 5 de dezembro de 2009

Hans Christian Andersen ou um modelo Educativo?

Quem nunca ouviu falar da história do “Patinho Feio”, do “Soldadinho de chumbo”, d’ “O Rei vai nu” ou da “Princesa e a Ervilha”? Foi Hans Christian Andersen quem escreveu estes contos infantis e inspirou muitos outros que se seguiram. Foi um dos primeiros escritores a pensar e criar literatura, especialmente, dirigida a jovens e crianças, mas não só - já Fernando Pessoa dizia “Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças”.

Para encontrarmos um género literário semelhante teríamos, provavelmente, de recuar ao tempo em que os animais falavam (ou tomavam papéis principais), com as fábulas de La Fontaine e, muito antes, com as fábulas de Esopo.

A forma, mais até que o conteúdo, de ambos os géneros são bem distintos. Porém, existem grandes semelhanças. Centramo-nos no principal: a simplicidade da história e da estética (principalmente semântica).

Estas características, como não poderia deixar de ser, fazem sentido: eram histórias contadas às crianças na escola, em casa, eram histórias de embalar. Eram contos que estavam presentes na consciência de todos, que formavam. Porque a formação começa desde o dia em que deixamos a placenta para trás, estas histórias tinham um grande relevo na educação dos mais novos.

A comparação que pretendo fazer é do tempo em que estas histórias eram lidas e ouvidas, para os tempos de agora em que estas histórias parecem esquecidas, aborrecidas e pouco estimulantes aos jovens.

Nas histórias infantis da actualidade reina a violência e o desequilíbrio. E isso tem implicações nas brincadeiras do dia-a-dia das crianças. Em vez de jogarem às escondidas e à apanhada, todas as brincadeiras que lhes vejo acabam, invariavelmente, em cenas de pancadaria.

O problema é complexo demais para o expor sem ser superficialmente. A verdade é que cada vez mais se diz que a educação e a cultura devem ser os motores de desenvolvimento de um país e cada vez mais se constata que a educação é fraca, elitista e estatística. Acrescento um adjectivo: a educação é desumanizada.

Não se estimula o raciocínio, a compreensão, a inter-acção humana. Os personagens das histórias, heróis e modelos das crianças, levam-nas a uma não evolução.

Isto tem consequências em toda a formação humana – note-se que nos referimos, aqui, somente à formação humana –, primeiro da criança, depois do jovem e adulto. Num suposto momento de auge civilizacional regredimos numa educação que nos forma para um Estado Natureza no qual terminamos todos, invariavelmente, mortos.

Por tudo isto, parece-me que deveríamos recuperar a matriz dos contos de Andersen para a formação juvenil. As bases sólidas da educação são os alicerces do Homem.

Um texto de João Ascenso, estudante do 4º ano e Presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sugestão para o Fim-de-Semana

Hoje, trago apenas uma sugestão aos nossos leitores. Estando já farto da novela das escutas e das brincadeiras políticas à custa de um tal Estado de Direito, de uma suposta Democracia e de um qualquer Sentido de Estado; deixei de assistir aos telejornais portugueses. E ainda não me arrependi. Não é nenhuma revelação nem é nada de original dizer que os telejornais portugueses são longos, entediantes e de um vazio de conteúdo brutal. Lugar comum ou não, não deixa de ser verdade. Por isso, sugiro a quem tenha tempo este fim-de-semana que veja um telejornal a cada hora certa. Começando por um português, à escolha, digamos às 13h, e que, de hora em hora, veja a CNN, a Aljazeera, a BBC World e termine com a France 24. Bem sei que o desafio não é para todos, sendo apenas possível para quem fale inglês e tenha os canais mencionados. No entanto não deixa de ser interessante ver como os diferentes canais vêem o mundo e constatar o quão pobres os noticiários portugueses são. A titulo de curiosidade, digo que os meus favoritos são a France 24 e a Aljazeera.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um referendo tenebroso.

Há uns tempos, a propósito da deterioração do campo de concentração de Auschwitz, aqui escrevi, citando Gilbert Chesterton que "dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis".

Na realidade, cada vez mais parece haver aqui e ali uma reedição do que de pior se passou na história, por vezes de forma tão semelhante que chega a ser assustador. Para quem não sabe, há dias houve um referendo na Suiça que perguntava aos cidadãos se concordavam com a proibição de construção de minaretes (as torres dos templos muçulmanos).



O referendo avançou por iniciativa dos ultra-conservadores suiços que aproveitando o facto de naquele país serem suficientes 100000 assinaturas para espoletar um referendo, colocaram a tal questão por forma a travar a construção de mais um minarete. Para quem quiser conhecer melhor a história veja aqui.

Ora, só a própria pergunta já seria susceptível causar repúdio por violar a liberdade de culto, no entanto, o sim venceu muito por influência dos votos das zonas mais rurais. Este resultado é muitíssimo preocupante. As semelhanças com o que se passou há 70 anos são demasiado evidentes. Tenho receio que não haja bom senso. Tenho confiança, contudo, que se ponha travão nisto.

sábado, 28 de novembro de 2009

Luzes de Natal.

Ainda me lembro, quando era uma criança, da importância que tinha para mim aquela visão fenomenal: as luzes da baixa. Eram sempre lindas, brilhantes, coloridas com formas tão engraçadas. Não eram só as luzes, era tudo: o cheiro das castanhas, aquele frio de que eu já tinha saudades, o som das pessoas.

As luzes lembravam-me da magnífica época que se aproximava, que já era altura de montar a árvore de Natal, que já iam começar a aparecer presentes, vinham aí as férias, vinha aí o Natal. Estava na altura de vestir o meu casaco mais quentinho (leia-se mais fashion, apesar de ser ainda apenas uma miúda!) e sair com a minha mãe em direcção à minha parte preferida da cidade naquela contenda que era a busca das prendas de natal.

Hoje já não é assim…

Dizia-me uma amiga no outro dia “odeio estas luzes de Natal acesas no início de Novembro, só apelam ao consumismo das pessoas e tiram o espírito natalício todo”. É verdade, o Natal actualmente é mais uma manobra publicitária que uma ocasião para as famílias se reunirem. E disse-me outra pessoa “não sei como é que és capaz de ficar tão feliz nesta altura, eu só consigo pensar nos testes, exames e frequências que começam nessa época”. Pois, é verdade… nem me tinha lembrado.

As luzes estão cada vez mais foleiras e acendem-nas cedo demais, as castanhas estão caras e já não têm piada nenhuma (o que é que aconteceu à tradicional folha das Páginas Amarelas? Que é esta panisguice do saco castanho com compartimento especial para as cascas?!), o frio agora tem sido acompanhado de chuvas horríveis e a as pessoas fazem um barulho extremamente incomodativo!

Eles têm razão e de certa maneira, agora que penso um pouco mais no assunto, cada vez que olho para as luzes eu devia ficar um bocadinho deprimida, elas lembram-me aquela fase horrível pré-frequências acrescida de todos os stresses natalícios que podem surgir e todas aquelas memórias que eu tinha se forem analisadas com atenção não são tão felizes como eu julgava.

Mas eu não quero saber. O truque é não pensar muito. Já dizia o outro, que felizes são os ignorantes. Por isso eu decidi render-me, não à realidade, mas à fantasia, ao meu lado infantil e agora sempre que consigo arranjar um bocadinho saio de casa e vou dar uma volta à Baixa para ir ver as luzes.

Sugiro a todos que façam o mesmo. Esqueçam a faculdade, os dramas do dia-a-dia e tudo aquilo que vem com o facto de já sermos “crescidos”. Rendam-se às luzes e vão ver tudo como se fossem miúdos outra vez, sem preocupações. Mesmo que seja só por um bocadinho, vale a pena.

Vão ver as luzes e já agora comam umas castanhas.

Um texto de Teresa Ferreira, estudante do 4º ano da Faculdade de Direito de Lisboa.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Política, uma Ciência Falhada

" A Política é a Arte de bem governar" Platão

"A Ciência Política, em sentido restrito, é a ciência dos factos políticos isolados dos fenómenos sociais em que se inscrevem, sendo facto político todo o evento relacionado com a aquisição, manutenção e exercício do poder político" António de Sousa Lara



A Politica é a eterna ciência sem aplicabilidade. Sofrendo sempre, sem excepções, nem equivalente entre as outras ciências, uma mutação entre a sua teoria e a sua prática. Existindo enquanto arte do possível, vive tanto da teoria quanto as outras ciências, falhando, todavia, a sua execução.
Falha, também, por ser porventura a ciência menos flexível de todas. Tal como nos explica Popper, entre outros, uma ciência qualquer que ela seja, vive de paradigmas, que apenas subsistem enquanto sobreviverem a testes que lhes forem sendo feitos e enquanto não surgir um melhor que os substitua.
Falha ainda porque tendo sempre (ou quase) uma concepção virtuosa, a prática política muito raramente é virtuosa.
Podemos, para melhor ilustrar o que foi dito, dar 4 simples exemplos:
1° O Comunismo, a Democracia Liberal, e outros tantos, nunca conseguiram ser executados tal quanto foram propostos (nem sequer perto);
2° Mesmo depois de ter caído a URSS, sendo o comunismo um paradigma mais do que ultrapassado, ele subsiste em Cuba, na Coreia do Norte e no PCP;
3° Nas últimas eleições legislativas em Portugal foram marcadas por um debate político encapotado, que versou sobre pessoas, os seus defeitos e qualidades, erros e sucessos e a forma como governaram no passado, seja ele próximo ou distante. Não houve debate sobre a forma de governar nem preocupação com isso. Os partidos degladiaram-se pela vitória, procurando levar o poder para equipa onde jogavam e nunca pela virtude do governo., sempre apontando o quão pior o adversário era. Qual equipa num campeonato de futebol preocupada com a taça e não em ajudar o bairro onde está sediada;
4° Continuamos a viver em função de um confronto político entre esquerda e direita, e eu pergunto, então: e os conservadores de esquerda? E os liberais com preocupações sociais? E os beatos de extrema esquerda? E os centristas tradicionalistas? E os homossexuais conservadores?...
Há já muito que a distinção entre esquerda e a direita diz pouco às pessoas, porém, persiste.

Como vemos, a política consegue viver da teoria na prática, falhando enquanto ciência.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Começo a ficar para lá de farto...


A polémica gerada em torno do caso "Face Oculta" é entediante mas esperada. São naturais os oportunismos políticos dada a suspeita que recaiu sobre o PM. Como estamos em Portugal também é natural que o segredo de justiça seja chutado para baixo do tapete por todos, tenham cargos de relevo no Estado ou não- ao ponto de se dizer no canal do estado que o conteúdo das escutas deve vir ser publicado nos jornais num futuro próximo. Por estes lados, é natural, que magistrados, procuradores e que tais, falem sobre tudo o que lhes apetece. Nem é preocupante que o maior partido da oposição considere que "Ninguém é obrigado a aceitar um cargo político. Quando aceitamos um cargo político, aceitamos o escrutínio das nossas palavras. Das nossas conversas. Aceitamos porque somos moralmente obrigados a prestar contas a quem nos elegeu” (in Publico).
Natural porque falamos de um país em que todos enchem a boca para falar de Estado de Direito, princípios democráticos, éticas e morais; quando não importa saber o que isso é. Não importa a salvaguarda do indivíduo, da sua pessoa e da sua privacidade. Não importa se as instituições do Estado dito democrático são fracas e se o personalismo político é cultivado em detrimento das mesmas... Nada importa. O que importa é ganhar eleições porque isso é democracia - e se der para uma boa novela melhor!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Escutas

Caros leitores, após prolongada ausência estou de volta para fazer um comentário curto e da maior seriedade.
Depois do Procurador Geral da República ter levantado a hipótese de estar a ser escutado, de ter sido levantada a suspeita de o Presidente da República estar a ser escutado pelo Governo e de agora vir a público que o Primeiro Ministro José Sócrates foi escutado, lamento informar que também eu fui escutado. Desde a sua criação que o Blogue do Caraças fala sobre temas controversos, sem medo de pressões externas, pelo que terá desagradado algumas altas figuras. De algum tempo a esta parte o meu telemóvel tem feito ruídos estranhos e as chamadas perdidas multiplicam-se pelo que a única conclusão possível é a de que estou a ser escutado.Ou então é um problema de falta de qualidade da TMN.

domingo, 22 de novembro de 2009

O Muro de Berlim Caíu ou foi Derrubado?

Bem sei que o tema se banalizou e que foi sendo esquecido desde 9 de Novembro , não obstante, e espero não maçar ninguém, gostaria apenas de aqui deixar a minha interpretação dos factos. Assumindo uma posição, pouco consensual, de um debate que ainda não se consegue ter com grande isenção e frieza, pois, embora eu tenha nascido em 88, para este efeito, o muro caiu ontem.

Terá o muro caído ou sido derrubado?
Antes de mais, importa esclarecer que a questão é meramente semântica - embora revestida de uma carga simbólica importantíssima, própria do fim de uma guerra que antecipa uma nova ordem internacional que, ainda por cima, ninguém venceu- pois sabemos perfeitamente que não houve terramoto em Berlim e o muro só pode ter sido derrubado (por pessoas).
Dito isto, devo desde logo assumir que sou adepto daquela ideia da queda. Gosto de pensar que o muro, e depois a RDA, e depois o Pacto de Varsóvia e depois a URSS caíram. Apenas não sei se nessa ordem ou se na ordem inversa.
Foram muitas as circunstâncias que levaram ao colapso do sistema, dependendo da ideologia uns louvarão Reagan e o capitalismo e outros culparão Gorbachev, a perestroika e o glasnost. Independentemente, creio que o bloco soiético caiu por si: por causa do Afeganistão, porque não conseguia competir com os EUA, porque já não conseguia silenciar o povo e mantê-lo "off the streets"... Não importa, não acredito que a culpa recaia sobre uma pessoa ou um evento, foi culpa do tempo que pôs à prova um regime que, como todos os outros, lhe sucumbiu.
O que nos traz ao nosso mote, então e o muro? O muro foi um sintoma dessa queda. Caiu porque os tanques não entraram nas cidades, porque houve uma abertura do regime, porque era menos rígido, porque os governos satélites já não eram tão satélites assim, porque as pessoas se podia congregar, por causa da Solidariedade, porque a Hungria abriu as fronteiras, por causa do comboio, por causa da igreja... e tantas outras coisas.
O muro caiu porque o sistema caía. Foi um sintoma de uma série de eventos dependentes e consequentes e não um evento isolado, antecipado em algumas horas por uma conferência de imprensa e pela tv.
Por estas e por outras, parece-nos que o muro caiu. A menos que se considere que foi o tempo que o derrubou e aí não há como argumentar contra.

sábado, 21 de novembro de 2009

A (des)reforma da União Europeia.


A reforma da União Europeia, que culminou no Tratado de Lisboa, deteve-se na forte oposição dos europeus. Os que foram chamados a pronunciarem-se em referendo repetidas vezes disseram não e só com a insistência do assunto é que acabaram por dizer sim. Outros europeus – mas não menos europeus – decidiram pelos seus representantes – forma tão legítima como o referendo -, deixando dúvidas se o resultado teria sido o mesmo em referendo.

Não obstante a estes sinais, continua-se a construir a União Europeia sem um elo determinante com os europeus. Nos referendos os não à Europa são recorrentes, a participação nas eleições para o Parlamento Europeu têm abstenções recorde em vários países, pouco se sabe sobre os processos de decisão, história ou representantes.

A União Europeia ao esbarrar várias vezes na opinião dos europeus tinha a obrigação de abrir-se e tornar a execução do Tratado de Lisboa, mas ampla, aberta e esclarecedora.

Como saberão, o Tratado de Lisboa criou dois cargos: Presidente da EU e Alto Representante para a Política Externa. Ora, estes cargos de extrema importância e com vastas competências serão ocupados por dois nomes absolutamente desconhecidos da esmagadora maioria dos europeus. Ocupados por dois nomes absolutamente desconhecidos da esmagadora maioria dos europeus: Herman Van Rompuy será o Presidente da União Europeia e Catherine Ashton a Alta Representante para a Política Externa. Nomes que dizem-me muito pouco e que a partir de 1 de Janeiro influenciarão em muito a minha vida.

A União Europeia necessita abrir-se e traduzir aquilo que sentem os europeus. Se o processo do Tratado de Lisboa foi atípico, estes nomes ainda o são mais. Se ao primeiro houve resistência e dúvidas quanto ao futuro, estes nomes deixam muitas mais dúvidas. No mínimo, eram exigidos nomes de dimensão Europeia.

Um texto de Tibério Dinis, estudante do 4º ano da Faculdade de Direito de Lisboa e blogger do In Concreto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

França: extraordinário.

No dia a seguir àquele em que a França vence a eliminatória com a Irlanda para o Mundial de 2010 de forma vergonhosa com um golo marcado precedido de uma mão na bola escandalosa, deixo-vos um outro jogo da qualificação para o Mundial. Tome-se atenção do minuto 1:14 em diante. Incrível.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Novo Governo.

Escrevi este texto há uns tempos no Laranja Choque. Apesar de já não ser muito actual, o Governo ainda está no ínicio de funções e fica uma reflexão minha acerca do assunto.

Está constituído um novo Governo, o XVIII desta feita, com o mesmo Primeiro-ministro que o anterior, mas algumas caras novas, quer em Ministérios quer em Secretarias de Estado.

Este novo Governo foi alvo de várias críticas, como não podia deixar de ser. Uns acharam que era um Governo que cheirava a “tampas”, isto é um Governo feito de segundas escolhas. Outros afirmaram que este não parecia um novo Governo, mas sim uma aposta na continuidade do anterior. Ainda outros criticaram o novo executivo por este ter demasiados tecnocratas e poucos políticos.

Ora bem, a primeira crítica poderá fazer sentido. De facto não há grandes nomes (falo de nomes, não de competência). Quase todos os nomes são desconhecidos do grande público. Percebe-se porquê. Os possíveis “candidatos” a ministro com nome na praça dificilmente alinhariam num governo com maioria relativa, com a necessidade de fazer acordos no Parlamento, possivelmente com mais que uma força política, e debilitado pelo efeito causado pelas críticas apontadas ao anterior executivo. Estes tubarões (como alguém lhes chamou) só alinhariam num Governo forte, restando assim ao Primeiro-ministro convidar personalidades menos conhecidas que poderão encarar o cargo ministerial como um ponto alto na carreira, como um trampolim para o futuro (sem querer atribuir a esta situação qualquer carga negativa, entenda-se).

A segunda crítica pode também ser encarada como consequente mas não na sua totalidade. Este Governo está fortemente marcado pelo executivo anterior, muitos ministros mantiveram-se assim como secretários de Estado, alguns apenas mudaram de pasta. No entanto, houve alguma remodelação. Veja-se que em pastas sensíveis, em que a contestação era muita os titulares do cargo foram alterados. Casos da Educação, Obras Públicas, Agricultura. Posto isto, houve alguma tentativa por parte de Sócrates no sentido de conseguir aproximar o Governo das inquietações da sociedade e de afastar vagas de contestação logo no início do mandato.

Já a terceira crítica mais comum merece uma reflexão aprofundada, mas que terá aqui apenas alguns comentários. De facto este Governo tem poucos políticos e mais tecnocratas. Isto é, foram-se buscar pessoas à sociedade civil e menos ao aparelho partidário. Segundo alguns críticos, numa altura destas, num Governo marcado pela falta de maioria absoluta com tudo o que isso poderá acarretar, seriam necessários políticos e não professores ou pessoas com actividade no sector (os ditos tecnocratas). Dizem alguns, o desempenho de um político é medido em função da sua capacidade para gerir crises, e é de gestores de crises que o país precisa, de pessoas que saibam lidar com a oposição. Percebo a crítica mas não sei se procederá. Por um lado, um ministro marcadamente afecto a um partido será menos bem recebido pelos outros partidos que um que o não seja. Por outro lado, um dos problemas hoje em dia vigentes na política é o dos chamados “políticos profissionais”. Se há muitos políticos que dedicam grande parte da sua vida à política e pouca atenção prestaram a uma actividade profissional extra-política, desempenhando, no entanto, com competência as suas funções, outros há que na mesma situação apenas se agarram ao poder para dali tirar dividendos. Podemos chamar a ambos os casos, casos de políticos profissionais. No entanto, o primeiro não constituirá problema, já o segundo é um caso grave e que receio abundar, pelo menos aparentemente. Posto isto, apostar em políticos profissionais pode não ser a melhor medida, afinal os tecnocratas por não estarem agarrados ao chamado “tacho” e por terem actividade no sector podem desempenhar melhor a sua actividade governativa e proceder a reformas estruturantes.

Acima de tudo o que se quer é que este Governo cumpra com determinação as suas políticas e que a oposição forneça o seu apoio sempre que for necessário desde que não contraproducente. Pede-se trabalho.

domingo, 15 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Este texto será rotineiro e vulgar.

Este texto será rotineiro e vulgar. Será sobre a rotina. Tentarei que não seja um rol de queixas infundadas nem um daqueles textos próprios de diários intimistas mas não será, certamente, um texto “útil”.

Tinha prometido, a mim mesma, que não iria sucumbir aos ímpetos poderosos da Razão, que se havia promissoramente assumido como o objecto último desta minha pseudo-reflexão, mas… comecei mal. Tinha logo que declarar a inutilidade do meu texto, de forma pesarosa e ressentida, até arrependida!

Começa tudo de manhã. Pré-formatad@s, levantamo-nos a tentar dar um sentido ao toque estridente do despertador.

(Tenho de ir trabalhar.)

Pelo caminho, tentamos dar um sentido ao facto de optarmos por transportes públicos ruidosos, em vez de ter chamado um táxi ou tirado o carro da garagem.

(Tenho de poupar dinheiro.)


À chegada ao local de trabalho, urge a necessidade de dar um sentido àquilo que fazemos.

(Tenho de ganhar dinheiro.)

Decorrem as horas e o dia pede, ele mesmo, um sentido.

(Tenho de parar de pensar estas coisas.)

Um despertador nada vespertino, alimentado de cafeína e pastilhas elásticas de mentol, pede-nos, a nós mesm@s, um sentido.

(Penso nisso depois.)

À saída do trabalho, tentamos dar um sentido àquela pressa de chegar a casa.

(Tenho de ir descansar.)

Pelo caminho, o dia, no seu fecho, pede, novamente, um sentido.

(Mais tarde.)

À chegada a casa, todas as coisas parecem gritar: “EU SOU O TEU SENTIDO!”. Reclamando a atenção para si mesma, a despensa cheia grita que deu um sentido ao dia. Ela é a razão e fim último de todo este esquema rotineiro.

Ao deitar, há um murmurinho que não nos deixa dormir sem a lembrança de que, também e até a cama, sim, a cama!, é o sentido do nosso dia.

Há um vazio do dia, que é o vazio de não termos encontrado sentido para nós mesm@s. A isso, resoluto e sempre útil, o cansaço preenche-o por nós.

(Penso nisso depois.)

E, entretanto, será outra manhã, até chegar o dia em que o único sentido que se pede é uma resposta automática da alma, a uma pergunta nunca formulada, e que dirá apenas: porque sim.

E o cansaço embala-nos o vazio preenchido de (in)utilidades,permitindo-nos concentrarmo-nos no que “tem de ser” e no que “é preciso”, fazendo com que as pessoas tenham uma despensa cheia e uma alma vazia.

Esta é a minha tese sobre a forma como o cansaço é, afinal, o melhor catalisador do sistema capitalista, que reclama produção em nome de um lucro que nunca se sente nessa busca de um sentido.

(Com todo o sentido e sem vazio, um abraço de agradecimento ao Um blogue do caraças pelo convite. ;) )

Um texto de Sílvia Vermelho, licenciada em Ciência Política pelo ISCSP, blogger do Estado Sentido.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Rua Sésamo.

Comemoram-se por estes dias os 40 anos da série infantil Rua Sésamo. Por cá, em Portugal, a série existe há 20 anos, fazendo as delícias da pequenada. Era uma grande série. O Poupas, o Egas, o Becas, o Monstro das Bolachas, e todos os outros grandes artistas contribuíram para o sucesso da série que conjugava o ensino de português e matemática (básicos) com a animação e o imaginário infantil. Das melhores séries infantis que já se fizeram. Fiquem com um vídeo com a canção de abertura. Divirtam-se.


Incrivelmente incompreensível.




De acordo com uma notícia do Diário de Notícias, o Seleccionador Carlos Queiróz ficou aborrecido com Gilberto Madaíl por este ter optado pelo Estádio da Luz para a realização do primeiro jogo do play-off do Mundial de 2010 contra a Bósnia. Segundo Queiróz o Dragão seria melhor porque "considera que o público do Norte é mais entusiasta com a selecção."

A confirmar-se esta notícia, algo vai mal no reino da selecção. Então o público do Norte é mais entusiasta? Em que é que se baseia o treinador de Portugal para afirmar tal blasfémia? É incrível. Não é preciso ser benfiquista para achar que o Estádio da Luz é a melhor opção. É o Estádio que consegue albergar mais gente. Só isso é suficiente. Escusado será trazer à colação o argumento de que é na capital, embora este só reforce o que venho aqui afirmar.

Esta ideia peregrina do Dragão vem alimentar a ideia de que parece haver "marosca" (sem querer desrespeitar o treinador) nestas relações entre Selecção e FCP. Os jogadores do Porto são convocados sem merecerem tal distinção (sim jogar na selecção é uma distinção apesar de por vezes parecer ser um favor dos jogadores ao País); os do Benfica são preteridos, veja-se o caso dos guarda-redes, Quim é titular no Benfica e não é convocado, Beto é suplente do Porto e é chamado; dizem por aí que as relações entre seleccionador e o distintissímo Presidente do FCP são boas. Tudo isto me leva a crer que "marosca" é eufemismo.

Apesar de tudo, trata-se da Selecção e há que apoiá-la. Força Portugal!

sábado, 7 de novembro de 2009

A Redefinição Ideológica do PSD.

Desde já, no início deste post, agradeço ao Bruno a oportunidade que me concedeu de escrever este post e de contribuir para um blog que acompanho o mais frequentemente possível, o qual entendo que tem mostrado grande potencial e excelentes escritos.

O tema que me traz hoje é um tema que está muito em voga na actualidade política interna, se bem, da minha perspectiva, com o enfoque nas questões laterais. A tal “redefinição ideológica” por vezes deve ser vista como um objectivo comum de uma associação de indivíduos que tenta frisar e atingir o seu objectivo comum: num partido, conquistar o poder e servir a comunidade de forma eficiente e prestável. Partindo desta premissa podemos, de forma prévia, chegar a uma conclusão: uma reestruturação ideológica não se deve fazer a partir de um líder que é escolhido de entre os pares, depois de uma guerra de facções; deve sim, surgir de uma acção concertada da maioria que, ao ver o estado decrépito a que chegou o partido, entende que toda a estrutura de pensamento e todo o ideário se deve modificar para enfrentar os novos desafios.

Mas para que isso seja possível é preciso que esse grupo de homens e mulheres tenha pensamentos estruturados e comuns; ideias que façam sentido e que acreditem de alma e coração; planos que sejam possíveis de ser estruturados no momento específico em que aparecem, mas sempre com a noção de que, por vezes e devido à situação do caso concreto, têm que ser adiados ou reestruturados. Quando se atinge o caos desordenado e onde se zangam as comadres; onde o líder de cada feudo apenas olha pelo seu pequeno castelo e arrigementa os seus homens para tentar conquistar o castelo maior em cima da colina; a “redefinição ideológica” deve servir para encarreirar de novo o grupo na direcção de que nunca deveria ter saído, através do surgimento de uma nova geração de líderes que, naturalmente, trarão consigo novas ideias. Ideias essas que devem ser adaptadas ao tempo em que são apresentadas, sempre com o pensamento e o bom senso de não serem imutáveis por mera teimosia pessoal.

O PSD actualmente pode-se, tentar, resumir a esta imagem: quando a aura de vencedor, trazida do cavaquismo, desaparece e se instala o vazio, o pior que pode acontecer é que esse vazio signifique a divisão em feudos dentro desse projecto. Divisão essa que adensa o vazio e que amarra a vida interna numa espécie de espectáculo romano onde os gladiadores se degladiam à procura do prémio supremo: o poder, de agradar, de se libertarem, de seguirem a sua vida e um dia poderem, quiçá, ter o verdadeiro poder, alicercados numa força seguidora de autómatos cegos que cobiçam os despojos e os lugares livres conquistados.

A confusão inerente à indefinição ideológica, confusão essa com outros projectos e outras ideias que se tornam semelhante às nossas, apenas desajuda quem faz parte desse projecto em crise. Isto porque a diferença é fundamental para a afirmação própria, quer pessoal, quer em grupo. Eu distingo-me do outro porque sou diferente, porque defendo ideias diferentes, porque defendo caminhos diferentes para um mesmo objectivo final. E é isso que me torna único ao ponto de as pessoas quererem falar comigo, descobrirem-me, etc. E assim também se passa com um projecto em grupo; essa ideia é diferente porque comporta perspectivas próprias e não um emaranhado de ideias desgarradas que a certa altura serviram mas que, hoje em dia, não servem. E a persistência nesses mesmo princípios, desgarrados e caducos, faz com que nos assemelhemos ao projecto do lado, onde a distinção é ténue e praticamente invisível. E aqui o PSD tem falhado, tem faltado a distinção com o PS, a meu ver, a principal razão de não ter conseguido ganho as últimas eleições legislativas.

Em política, a diferença e a novidade são armas poderosas. Porém esta novidade não deve querer significar a demagogia total de prometer o paraíso eterno da felicidade e do crescimento. Fácil é de constatar que a novidade comporta uma aura de aglutinação em torno dessa ideia nova, mas apenas pode vingar se for transmitida através da melhor mensagem e das melhores palavras. Quando a indistinção e a confusão se ameaçam tornar no principal e derradeiro problema, a mudança urge ser feita e quanto mais tempo se passa sem a fazer, mais se caminha para o marasmo eterno.

Um país, uma Nação, envolta no manto da Democracia, precisa de alternativas. É o seu oxigénio, uma das suas identidades mais prementes e necessárias. Porque através de dois ou mais caminhos alternativos, o indíviduo tem a possibilidade de escolher uma delas; de confrontá-las, de as debater e destruir criticamente ou de as apoiar criticamente. E o próprio país se desenvolve e se projecta para o futuro com essas visões distintas; porque elas todas visam o bem comum, o objectivo final. Claro que não se nega que há caminhos mais viáveis do que outros, uns que se ajustam melhor à realidade humana e económica que se vive nos dias que correm; mas no final, e de uma perspectiva puramente teórica desprovida de qualquer inclinação sobre o “bom” e o “mau”, todos são caminhos para o mesmo destino. O que não pode acontecer é a crise total de identidade, porque o país, num todo, sofre com isso.
O PSD tem que se livrar das guerras de barões, das tricas pessoais e das intrigas constantes. Tem que saber marcar a diferença perante o PS em matérias tão essenciais como a privatização da Segurança Social; a assunção do papel dos privados na Saúde; a defesa de um novo método educacional desprovido dos fantasmas do PREC, onde o mérito é exigido e premiado e onde existe uma maior oferta de escolas e cursos; uma nova reconfiguração dos investimentos públicos, de proximidade e de apoio às populações; uma nova reconfiguração administrativa, dando impulso a uma verdadeira regionalização; a diminuição do peso do Estado na economia, dando total liberdade e espaço aos privados para actuarem. A lista poderia ser mais extensa, o post mais extenso, mas isso seria abusar da boa vontade do leitor.

Urge a mudança; urge a discussão, não de pessoas mas sim de ideias. Antes da pessoa, líder, há um conjunto de ideias. Por mais líderes que o PSD tenha, sem antes se redefinir, todos estarão condenados ao fracasso. Ou a partir das bases, desapegadas ao aparelho partidário e imunes às tricas internas onde o poder se quer pelo poder, parte um movimento genuíno de mudança; ou o PSD arrisca a definhar lentamente, muito longe do poder. E para o bem da nossa Democracia, isso não pode acontecer. De novo um muito obrigado ao Bruno e um bem-haja e muito boa sorte ao blog!

Um texto de Pedro Rodrigues, Estudante do 4º ano de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ranking das escolas de 2009.

Bem sei que o ranking das escolas de 2009 já foi notícia há bastante tempo mas só agora me debrucei convenientemente sobre o mesmo.



Foi com algum orgulho que verifiquei que no ranking das escolas básicas figura a Associação Escola 31 de Janeiro em 34º lugar com uma média de 3.82 nos exames.

Foi um bom resultado tendo em conta que neste ranking constam 1304 escolas de todo o país. É certo que não colaborei directamente neste relativo sucesso pois estes são resultados deste ano, no entanto a minha passagem por aquela casa que durou vários anos, deixa-me (conforme já afirmei) orgulhoso. Sinto que de algum modo contribuí para o crescimento daquela casa que conta com quase 100 anos.

A escola tem fragilidades, não o escondamos. A falta de espaço, que quando lá andei já se fazia notar, é um dos maiores problemas criado pelo crescimento (físico) repentino que se iniciou há 10 anos. Uma escola que passa de 4 anos escolares (para não falar da pré-escolaridade) para 9, em poucos anos (na altura 5) pode ter dificuldades em reestruturar-se e de facto neste caso teve-as.

No entanto, as virtudes desta Escola superam enormemente os problemas. Apesar do súbito crescimento, a escola hoje em dia já conta com a experiência no ensino do 5º ao 9º ano. O sucesso no programa de Xadrez levou este estabelecimento de ensino a uma posição de alguma excelência no que à exigência no ensino e na aprendizagem diz respeito. Em suma, diga-se, os resultados estão à vista.



Apesar de tudo, nem tudo é ouro. Se no básico tenho orgulho, no secundário predomina a preocupação mas não a surpresa, de todo. A Escola Secundária Fernando Lopes Graça, vulgo “Escola da Madorna”, está numa posição medíocre. O 274º lugar não pode suscitar qualquer contentamento. Uma média de exames na casa dos 10 valores é um resultado fraco, muito fraco.

É-o ainda mais numa altura em que os exames são considerados fáceis, algo com repercussões no que a entradas no ensino superior diz respeito. A escola tem de facto muitos problemas, que pelos vistos ainda não foram resolvidos. Apesar do “saneamento” entretanto realizado (expressão infeliz por certo mas que retrata bem o que se passa), a crer nos relatos que me foram noticiados, a Escola não dá sinais de melhoria.

Falemos do tal saneamento. A escola tinha nas suas “fileiras” estudantis inúmeros alunos alegadamente pouco preocupados com o que ali faziam, mais apostados no insucesso escolar que propriamente no sucesso. Procedeu-se à exclusão desses alunos, com vista à melhoria da qualidade do ensino. Resultados: poucos ou nenhuns.

Apesar de a minha passagem ter sido bem menos duradoura nestes estabelecimento de ensino que no anterior, não posso deixar de manifestar preocupação com o estado das coisas. O argumento de que é uma escola pública não colhe, veja-se qual é o modelo de ensino da escola que ocupa o primeiro lugar do ranking. É Público. Espera-se trabalho.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Novo programa de Governo.

Parece que o novo programa de Governo é igual ao programa apresentado pelo PS nas eleições legislativas como pode ver aqui. Vejamos se ainda assim alguém terá coragem ou loucura suficientes para propôr uma moção de rejeição ao Programa. Para quem não conhece o programa apresentado aquando das eleições pode dar aqui uma vista de olhos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Estado Zero ou Estado Intervencionista? No meio é que está a virtude.

O meu colega e amigo Bruno Antunes desafiou-me a escrever um texto relacionado com uma intervenção que fiz numa aula de Direitos Fundamentais, onde sustentei a minha concordância com o Tribunal Constitucional, aquando da pronuncia do TC pela não inconstitucionalidade da norma do Código Penal que incrimina o lenocínio.

Para quem não sabe, o crime de lenocínio traduz-se basicamente no facto de alguém profissionalmente ou com intenção lucrativa fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa da prática de prostituição.

O acórdão em causa, relacionava-se com um recurso interposto, em que a arguida sustentava, em traços gerais, que proibir o lenocínio violava a Constituição, nomeadamente porque era um factor impeditivo da livre escolha da profissão. Considerei eu, que este argumento é inadmissível, que não poderia ser considerado que a livre escolha da profissão tinha um âmbito que permitisse ainda considerar como licito escolher a profissão de ter ganhos económicos com a objectificação do corpo humano, indo esta prática contra toda a lógica Kantiana do Homem como fim em si mesmo e da não objectificação do ser Humano.

Uma colega advogou que talvez pudesse não ser assim, no sentido em que poderia esta ser uma esfera da autonomia pessoal, em que o Estado não deveria interferir. Eu considerei pelo contrário, que existem algumas situações, escassas é certo, em que a intervenção do estado é fundamental para a manutenção de certos valores e direitos fundamentais. Questionei a colega, e foi este o facto que despertou a atenção do meu amigo Bruno Antunes, fazendo com que este me solicitasse este texto, convite que aceito com gosto, que nesta perspectiva do Estado nunca intervir (Estado totalmente liberal) a ideia de salário mínimo também não faria qualquer sentido, já que o Estado não se teria que preocupar com o Direito fundamental de um mínimo de existência condigna, aliás, decorrente igualmente do principio da dignidade da pessoa humana.

Se o Estado fosse minimamente intervencionista, se tivéssemos um estado liberal puro e duro, existiam um conjunto de valores e direitos fundamentais que ficariam desprotegidos. O exemplo, claríssimo, dos Direitos Económicos, Sócias e Culturais, essencialmente direitos a prestações por parte do Estado, que subordinados à reserva do possível, se reconduzem ao Estado assegurar, por exemplo, um Direito à Saúde ou a um Direito à Educação.

Regressando, e terminando este pequeno texto, à problemática do salário mínimo, dizer que o estabelecimento de um salário mínimo, em termos de Economia, se reconduz à fixação de um preço máximo abaixo do preço de equilíbrio, factor que efectivamente poderá ter efeitos adversos, como seja, desde logo, a não contratação de pessoas que estariam dispostas a trabalhar por 300, mas que não podem ser contratadas por um valor abaixo de 500, por exemplo. Ainda assim, considero que em nome desse direito fundamental da dignidade da pessoa humana, com inúmeras decorrências na nossa Lei fundamental, deve ser assegurado um salário mínimo, por um imperativo de Justiça. Mas considero, que neste particular, poderia existir lugar à discussão. Já não, na criminalização do lenocínio, diferentemente, note-se, da questão da criminalização da prostituição, que em Portugal não sucede.

Agradeço ao Bruno a oportunidade.

Um texto de Tiago Mendonça, estudante do 4º ano da Faculdade de Direito de Lisboa, Presidente da JSD Moscavide, blogger do Laranja Choque.

Textos de convidados.

O Um Blogue do Caraças vai ser palco de uma iniciativa que pretende promover e melhorar o debate que é característica deste espaço. Desse modo, convidamos a escrever aqui várias pessoas que demonstrarão alguns pontos vista. Esta é uma iniciativa que já teve lugar aquando do 25 de Abril mas nesse caso o convidado estava adstrito a um tema. Desta feita, o sistema é diferente. Pode dar-se o caso de o convidado estar adstrito a um tema pré-definido por alguma razão, mas também pode dar-se o caso de ser o próprio convidado a sugerir um tema, tendo liberdade de conteúdo. Sairá um texto por semana, em princípio aos sábados. Dentro de pouco tempo sairá o primeiro. Não percam por isso este blogue que continua na senda de uma blogosfera melhor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mundial de 2018.

Portugal e Espanha apresentaram a sua candidatura à realização do Mundial de 2018, como se refere aqui. Em princípio parece uma boa iniciativa. Provavelmente preferiria que Portugal o realizasse sozinho. O prestígio decorrente daquela prova seria todo para o nosso país. Aliás, esta candidatura parece estar a ter muito menos adesão que a do Euro 2004. Os motivos são vários. O facto de ter avançado sozinho em 2004, concorrendo inclusivamente com (contra) a Espanha, é um factor determinante. No entanto, também o facto de na altura Portugal estar a passar por uma fase de “vacas gordas” o é.

Apesar de em princípio ser globalmente favorável a esta candidatura, há pontos em que vários problemas são suscitados e para os quais esperava diferente resposta daquela que foi dada.

Desde logo causa-me algum espanto que Portugal só receba uma pequena parte dos jogos do Mundial e tenha que pagar 40% dos custos. Não me parece minimamente proporcional porque não creio que Portugal receba 40% dos jogos.

Outro ponto muitíssimo discutível é a questão do financiamento. De acordo com as palavras do presidente da FPF ainda não se sabe como se vão suportar estes 40% do orçamento da candidatura. Como é que Portugal avança para este projecto sem ter a certeza da origem dos fundos? Onde está o rigor?

Ainda outro ponto é o relativo aos Estádios. Pelos vistos Portugal vai só apresentar 3 estádios. Luz, Alvalade e Dragão. Portugal fez 10 Estádios para o Euro 2004 dos quais 5 se encontram a maior parte do tempo “às moscas”. Se em vez de se ter gasto o dinheiro em tantos estádios, se tivessem melhorado aqueles que previsivelmente terão maior número de espectadores, o cenário seria bem diferente. Apesar de Portugal continuar a apresentar apenas 3 Estádios (nesse ponto nada mudaria) esses 3 Estádios seriam maiores. Pelo menos 1 deles mereceria maior capacidade. O Estádio da Luz. As estatísticas mostram que o Estádio tem tendência a encher quando o Benfica lá joga. Poderia então fazer sentido na altura em que se construiu o novo Estádio da Luz que se tivessem feito mais lugares. Seria uma medida controversa acredito, no entanto, creio que poderia ser mais satisfatória. Nesse caso o Estádio da Luz seria susceptível de albergar a final do Mundial, algo que ainda assim seria muito difícil devido ao peso político, económico e desportivo de Espanha.

Vamos ver se Portugal consegue juntamente com Espanha vencer a candidatura, mas será muito difícil. Vai defrontar-se com a candidatura conjunta de Holanda e Bélgica, e as individuais de Inglaterra e Rússia.

Esperemos.

Fica o reparo.

domingo, 18 de outubro de 2009

Eleições Autárquicas: Análise nacional.

Este é um texto que escrevi para a rúbrica semanal no Laranja Choque. Fiquem com a minha opinião relativamente à eieções autárquicas.

Estas eleições de 2009 foram realizadas 2 semanas depois das legislativas o que retira a carga de possível penalização ao Governo que muitas vezes lhe é atribuída pelos eleitores. Bem sei que análises nacionais de eleições autárquicas tornam-se muitas vezes num exercício enviesado, no entanto há que fazer uma análise mais abrangente sob pena de analisar concelho a concelho. Façamos então o comentário partido a partido. Começando pelo que mais Câmaras ganhou e seguindo por ordem decrescente.

PSD: Obteve um resultado razoável. Venceu em 136 Câmaras Municipais. No entanto importa afirmar dois pontos. Em primeiro lugar 19 dessas Câmaras foram ganhas em coligação com o CDS. Naqueles municípios onde o CDS não terá sido preponderante para a vitória (mas foi-o em alguns) foi-o para a maioria absoluta. Em 19 Câmaras desta coligação 17 tiveram maioria absoluta. Em segundo lugar importa dizer que o PSD perdeu várias Câmaras, tendo o PS recuperado ou conquistado pela primeira vez 20. Quanto a Lisboa, o PSD coligado perdeu numa grande aposta que havia feito. Santana Lopes fez uma boa campanha mas não foi suficiente para levar de vencido António Costa. Importa dizer que a direita coligada (conforme António Costa disse) perdeu para o PS (ainda que este contasse com Helena Roseta e Sá Fernandes). No Porto Rui Rio esmagou a concorrência. Elisa Ferreira que levava consigo o fardo da “gamela” do PE foi penalizada, apesar de essa não ser a única razão para a derrota avassaladora. O PSD conseguiu assegurar a Câmara de Faro por 0,4%. Macário Correia vence assim um segundo município no Algarve. Boa nota para as vitórias em Felgueiras e Marco de Canaveses. Em suma como escrevi acima, o resultado foi razoável. Não foi mau porque foi o que mais Câmaras venceu mas terá que se ter em conta que o PS subiu (e de que maneira!) e que daqui a 4 anos os muitos “dinossauros” autárquicos não vão poder candidatar-se outra vez. Nota para o facto de muitos desses “dinossauros” serem do PSD. Posto isto, mesmo em eleições tradicionalmente ganhas pelo PSD este partido não obteve uma vitória categórica, vejamos de que modo este facto pode e se vai influenciar ou acelerar o processo de reestruturação do PSD.

PS: Teve um resultado também razoável. Podemos considerá-lo bom se tivermos em conta que foi o vencedor em números de votos nacionais, número de mandatos e que obteve um crescimento de 20 Câmaras de 2005 para agora. A maior vitória foi a de Lisboa em que António Costa conquistou a maioria absoluta por 5,3%, apesar de ter perdido a Assembleia Municipal. Para além de Lisboa foram também importantes as vitórias em Beja (antigo bastião comunista) e Leiria (há anos do PSD). Dir-se-ia que a perda de Faro foi a mais significativa apesar de ter sido por escassa margem. Convém ainda dar nota de candidaturas que pareciam desde cedo condenadas ao fracasso, não por incompetência dos candidatos mas porque de alguma forma ou de outra notava-se que tinham pouquíssimas hipóteses de serem eleitos. Casos do que vos escrevo são Ana Gomes em Sintra e Elisa Ferreira no Porto. Importa fazer uma nota. O PS perdeu grande parte das suas importantes Câmaras em 2001 e ainda hoje se vê a relutância das pessoas em votar no PS. Vejam-se os casos do Porto, Cascais, Sintra e Coimbra. Para isto poderá ter contribuído a vontade de grande parte dos portugueses querer mostrar o cartão (que se tornou vermelho) ao Governo de Guterres, mas também o trabalho dos autarcas socialistas desenvolvido até então. O PS tem razões para sorrir um bocado mas terá que ter em conta o futuro de Municípios como aqueles que referi supra.

CDU: Francamente derrotado, a CDU perdeu em quase tudo, inclusive Beja para o PS. Só elegeu um mandato no Porto. Deixou fugir a hipótese de ser o fiel da balança em Lisboa elegendo apenas 1 mandato e ficando Santana Lopes com 7. O eleitorado da CDU é pouco móvel mas ainda assim parece que nas autarquias essa parca mobilidade esfumou-se um pouco.

CDS: Resultado normal do CDS. 1 Câmara vencida. Foi importante nas vitórias e maiorias absolutas em coligação com o PSD.

BE: Péssimo resultado. Perde um mandato em Lisboa e não consegue eleger nenhum no Porto. Só consegue a Câmara de Salvaterra de Magos. Siga a dança.

Vejamos como se portarão os novos (e não só) autarcas e como serão desempenhadas as funções do Governo da República agora que começa um novo ciclo eleitoral.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um momento ridículo.

Circula por estes dias um vídeo (que não vou sequer colocar aqui) em que Maitê Proença faz piadas de índole um tanto ou quanto xenófoba acerca dos portugueses. Não achei piada nenhuma e a primeira reacção que um português pode ter é responder na mesma moeda, até porque há muitos brasileiros em Portugal e no seu país também há muitos problemas susceptíveis de serem objecto de piadas. No entanto há que resisitir a esse tipo de resposta, isso seria cair no mesmo erro da actriz brasielira. O que tem paida sim é que a mesma actriz andou por este país à beira mar plantado a publicitar um livro seu e agora parece querer vir pedir desculpa. Palavras como estas "E não falei mal de Portugal, amo Portugal, os portugueses, tenho amigos e visito o país sempre que dá. Meus livros são publicados na terrinha e vendem muito bem." só servem para piorar as coisas. Pelos vistos somos uns tipos porreiros porque por cá se compram os livros da dita moça. Apesar de tudo, como Luís Filipe Menezes disse ontem na SIC Notícias "Quem é Maitê Proença?". Que notoriedade e importância tem aquela acrtiz para darmos tanta importância ao que disse? Pouca ou nenhuma.

Fica o reparo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Parabéns ao Blogue: 2 anos.

Cabe fazer a devida homenagem a este blogue que cumpre hoje o seu segundo aniversário. è um blogue que teve os seus altos e baixos. Este muito bem em Abril, Maio, Junho e Julho, perdeu o gás nas férias mas agora parece estar a reencontrar o bom caminho. Esperos então que este blogue continue na senda de uma blogosfera melhor. Parabéns ao Um Blogue do Caraças.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Eleições Autárquicas: Cascais.

Cascais é o meu concelho e é um dos melhores concelhos para se viver em Portugal sem sombras de dúvida. Apesar disso, a qualidade de vida das pessoas não se mantém intacta ao longo dos tempos, é necessária uma intervenção adequada por parte da Câmara Municipal para essa qualidade de vida melhore.

Nestas eleições autárquicas em Cascais confrontaram-se como adversários principais na corrida à Câmara António Capucho (da coligação PSD/CDS e Presidente da Câmara) e Leonor Coutinho (do PS), contando este escrutínio com candidatos da CDU, do BE, DO PPM, do PCTP/MRPP e do PNR.

Os resultados mostram uma vitória esmagadora do PSD/CDS em Cascais com 53.04% dos votos elegendo 7 mandatos. Já o PS obteve apenas 26.66%, isto é, perto de metade, conseguindo 3 mandatos. A CDU conseguiu 9.19% e assegurou o restante mandato.

Há por isso que procurar razões para tal resultado, completamente arrasador.

Em primeiro lugar, António Capucho mostrou algum trabalho. O paredão é hoje um óptimo local para os cascalenses (e turistas) passearem e desfrutarem o seu tempo livre. A área recuperada é enorme. Os espaços verdes são hoje abundantes no concelho de Cascais. Há infrastruturas que suportam a população de modo satisfatório. A Câmara parece assim ter feito um razoável trabalho nestes anos de governação, apesar de não haver só pontos positivos.

Em segundo lugar, a candidata do PS (sem desprimor para a sua competência) não era um nome suficientemente forte, nem tinha reputação suficiente para disputar uma Câmara com um Presidente que já lá está há 8 anos.

Em terceiro lugar, existe em Cascais o já crónico efeito Judas. Passo a explicar. Judas foi Presidente da Câmara de Cascais enquanto candidato do PS durante 8 anos, de 1993 a 2001. Nesse período a governação deste autarca foi bastante criticada, sendo que em 2001 o candidato do PS perdeu para o do PSD por larga margem, isto apesar do candidato do PS ter nome e competência. Um facto é que pela terceira vez consecutiva o PS não consegue chegar aos 30% em Cascais, e pela terceira vez consecutiva Capucho chega à maioria absoluta.

Estes parecem ser os motivos para tais diferenças junto do eleitorado. Posto isto, ou o PS consegue inverter esta onda de derrotas em Cascais, ou este permanecerá durante muito mais tempo arredado da Presidência da Câmara e delegará essa função no PSD que colhe bastante eleitorado de Cascais na medida em que é um município em que as pessoas vivem maioritariamente bem ou muito bem, em que as preocupações sociais são menores e em que a esquerda perderá necessariamente para a direita.

Cabe agora fazer umas quantas notas.

1. Em todo o concelho de Cascais só São Domingos de Rana votou maioritariamente no PS (fá-lo desde 1993) para a Assembleia de Freguesia apesar de não ter abdicado de dar um voto de confiança no PSD/CDS na Câmara.

2. A diferença entre o PS e o PSD/CDS para a Assembleia Municipal (20,76%) é menor do que para a Câmara (26,38%) o que poderá levar o PS a repensar tudo isto. A candidata do PS à Câmara tem menos votos que João Proença (que creio não ter filiação socialista), candidato à Assembleia. O motivo para isto também pode residir na tentativa de parte do eleitorado no sentido de conseguir algum contraponto, alguma fiscalização.

3. O PSD/CDS consegue maioria absoluta na Câmara e na Assembleia. Demolidor.

4. Bom sinal para o parco número de votantes no PNR. Apenas 285.

5. Má nota para a abstenção. 55,94% é demasiado.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Prémio Nobel da Paz

Parece que o Presidente dos Estados Unidos da América recebeu o Prémio Nobel da Paz, resta é saber por o quê...
Não me interpretem mal, fico bastante feliz por o senhor ter sido galardoado com um prémio de tamanha distinção. Ficam desde logo a minha congratulação e os meus votos de felicidade!
Posto isto, há que reflectir.
Ao longo dos tempos a fundação do Sr.Nobel tornou-se uma instituição respeitada e louvada por esse mundo fora. Aparentemente isenta, tem celebrado o mérito daqueles que dentro de uma ou outra categoria contribuíram para o mundo, para o seu progresso e para a sua humanidade, dando-lhes um prémio.
No entanto, o mais recente Nobel não deixa de surpreender. Será que ele foi atribuído pela promessa de retirada do Iraque? Porque prometeu enviar mais tropas para o Afeganistão? Porque é o primeiro presidente norte-americano negro (o que é um feito, mas agora digno de Nobel?)? Ou simplesmente porque é um tipo moreno e simpático que inspira muita gente?...Fica a dúvida.
A mim é que ninguém me convence que é por ele ter revolucionado as relações internacionais. Até esta vi mais promessas do que feitos e pouca alteração da política externa da superpotência. Aliás nem tal era esperado, porque todos sabemos que não se muda assim, de presidente para presidente, a política externa de um Estado e muito menos a de uma potência.

Pessoalmente, apenas pude chegar a uma conclusão: o mundo está tão mal que já que não há candidatos (dignos) a Nobel da Paz e - "mal por mal" - já agora vai para ali.

Foto tirada daqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Aniversário da República em Portugal.

Nunca, desde que me recordo, se falou tanto em Monarquia num aniversário da República. Devem ser saudosismos repentistas, e daí…nunca se sabe…Na realidade falou-se bastante em Monarquia, o que não é mau, não necessariamente. Fomenta-se o debate, contrapõem-se os dois modelos, cada um retira a sua própria conclusão. No entanto, acho alguma graça esta nova onda de monárquicos que gosta de passar algum do seu tempo a colocar bandeiras monárquicas em edifícios públicos. Acho piada de facto, e devo dizer que lhes correu bem a atitude. Ganharam projecção, e agora até já aparecem na televisão, lançando ideias como a criação de um referendo perguntando às pessoas o que preferem, a República ou a Monarquia. Eu devo dizer que apesar de todos os argumentos favoráveis a uma Monarquia que residem essencialmente na estabilidade que um monarca pode dar e que alegadamente um Presidente não, eu tenho posição contrária. Só a simples possibilidade de um Chefe de Estado sê-lo “porque sim”, isto é, de o ser sem qualquer legitimidade a não ser, ser filho de alguém, faz com que a ideia de uma monarquia caia por terra como cenário aceitável. Um Presidente pode ser ou não competente mas caso o povo o queira retirar do cargo, tem mecanismos para o fazer, as eleições de 5 em 5 anos. Com um Monarca já não será esse o caso. Vai para lá “porque sim” e fica lá “até quando quiser”. Esta é a principal razão para se rejeitar tal ideia. No meu entender, que continue a República rumo aos 100, e que faça muitos.


1.

"Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser; podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.

A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, fica-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.

Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito a leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.

Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética, mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.

Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a de aquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.

Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia, por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego "composto por Bernardo Soares ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa"

sábado, 3 de outubro de 2009

O Candidato a Presidente pelo PS.

A confirmar-se esta notícia avançada pelo Público de que o candidato pelo PS em 2011 é Jaime Gama, já sei quem não vai ficar nada alegre.



Perdoem-me o trocadilho.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Da (Nova) Ordem Internacional - Reflexões Soltas I

Ultimamente tenho reflectido sobre o estado actual do mundo. Da dita ordem, ou desordem, internacional, do seu significado e do seu possível futuro. Tenho sido acusado de pessimismo, fatalismo - qualidades ao que parece próprias de um senhor velhote no leito da morte e nunca de "quem tem a vida pela frente".
Tudo começou quando dei a minha, inusitada, opinião sobre a ONU. Afirmei considerá-la uma organização internacional pretensamente universal, suposta responsável pela manutenção da paz e segurança internacionais. Cujo real objectivo sempre fora desenvolver e sustentar uma nova ordem internacional no pós-guerra em beneficio dos seus vencedores (os cinco grandes, ou por outra, a URSS e os EUA). E que como tal, até esta, falhou redondamente o seu principal objectivo.
As Nações Unidas não só não se demonstraram em tempo algum capazes de garantir paz e segurança algumas, como foram ainda menos capazes de organizar qualquer ordem internacional. A verdade é que foi vitima de uma era conturbada. Uma era de oposição ideológica onde as novas potências procuravam desesperadamente uma nova forma de interacção.
Nessa medida a ONU, foi um fracasso. Teve grandes êxitos, claro está, nomeadamente na promoção do direito internacional, nas ajudas ao desenvolvimento e humanitárias e noutras áreas. Porém, não acredito que tenham sido seus êxitos a não eclosão de uma guerra entre as grandes potências, nem as independências e muito menos a paz relativa que hoje vivemos. No primeiro caso, devemos tudo à intimidarão nuclear, ao MAD e ironicamente à corrida armamentista. No segundo à mudança de paradigma, onde quem mandava acordava em poucas coisas, sendo uma delas o direito de auto-determinação. Aí poderei reconhecer à organização um papel de catalizador mas não de mãe das independências.
Quando digo que a ONU falhou, digo-o com um certo sabor amargo na boca. Entristece-me, embora não me surpreenda, constatar que o maior fórum internacional alguma vez criado, com grandes laivos de democraticidade, se tornou, após o conflito silencioso, o maior legitimador da ordem "ocidental". Tal como noutros tempos a Santa aliança ou o exército romano, o seu principal papel tornou-se manter a actual balança de poderes.
Bem... poderão discordar, dizendo que o seu papel não é esse que apenas é manipulada para tal. Pese embora isso poder ser verdade, o facto é que em termos práticos o efeito se não for igual é muito semelhante. Bem sei também que o Direito Internacional é um importante factor na construção da actual ordem visto que ele é tendencialmente respeitado. Resta saber até quando e se o Direito é ou não um agente do sistema, neste caso se ele não existe e serve os interesses de uns em detrimente dos restantes.
Existe ainda a questão da idade da organização. Reconheço que entre a sua criação e subida dos E.U.A. à posição de líder mundial passaram aproximadamente 45 anos. Acontece que enquanto assim foi o mundo era bipolar e aí a ONU nada podia. Tendo sido pouco mais que um palco de espectáculos onde se brincava à nova ordem internacional democrática. Tendo também servido pontualmente de marioneta ora nas mãos de um ou doutro bloco. Tendo ainda sido paralisada por inúmeras vezes pelos vetos, de uns e outros, que impediam o que quer que fosse de acontecer, ou já esquecemos os primeiros anos das Nações Unidas?

Correrá a Organização das Nações Unidas hoje o risco de desaparecer ou de se tornar obsoleta com a alteração de paradigma que se avizinha?


P.S.- Falo aqui da ONU, estando bem ciente, que esta não se cinge ao Conselho de Segurança. O leitor deverá no entanto compreender que para este post é a ordem internacional, logo o Conselho de Segurança, que importam.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Por uma Democracia Secular

Para aqueles que ainda não compreendem a sua importância


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Comentário às Eleições Legislativas de 2009.

Neste dia 27 de Setembro realizaram-se as eleições legislativas, por ventura aquelas consideradas como as mais importantes na medida que é através delas que os portugueses se vêm representados na Assembleia da República e que posteriormente se formará um Governo. Isto é, é a partir destas eleições que se conhecem os actores do poder legislativo e executivo.

Estas eleições tiveram os seguintes resultados (sem os votos dos emigrantes): PS (36, 56%) 96 deputados, PSD (29, 09%) 78 dep., CDS (10, 46%) 21 dep., BE (9, 85%) 16 dep., CDU (7, 88%) 15 dep.

Desde logo importa afirmar que a análise a estes resultados não deverá ser feita através de uma comparação entre as eleições de 2005 e as de 2009. Temos que ter em conta tudo o que aconteceu entretanto. Contestação, escândalos, sondagens, tudo…

Posto isto, passemos à análise partido a partido.

PS: Vence estas eleições com clara vantagem sobre o PSD (apesar de ter perdido deputados para todos os outros partidos) depois da onda de contestação gerada durante o mandato conferido em 2005, depois dos resultados das eleições europeias e depois de algumas sondagens terem previsto um empate técnico entre os dois partidos. Este facto sucede acima de tudo pela excelente campanha dos socialistas e a prestação convincente de José Sócrates nos debates. A prestação menos boa do PSD e da sua líder foram também preponderantes. No entanto, estas eleições trazem algum “amargo de boca” ao PS. Por um lado o PSD e o CDS juntos têm mais deputados que o PS. A pergunta que se coloca é se correrá o PR o risco de convidar a governar os dois partidos de direita. Creio ser difícil tal cenário pois debilitaria a imagem do PR e contaria com uma oposição dilacerante da esquerda em maioria no Parlamento. Por outro lado, o PS (afastado que está o cenário do Centrão) só consegue ter maioria absoluta com o CDS, algo que também parece muito complicado pois este partido parece não estar disposto para tal. O PS parece estar numa situação em que governará sozinho tendo de contar necessariamente com outros partidos para viabilizar diplomas importantes como o Orçamento de Estado. Não esquecer a possibilidade de uma moção de censura, se bem que importa não esquecer 1987 em que “saiu o tiro pela culatra” ao PRD.


PSD: Estrondosamente derrotado (apesar de ter ganho 3 deputados) pois não soube capitalizar para si a onda de contestação em torno de Sócrates e do seu Governo. Essa contestação traduziu-se sobretudo em votos nos outros 3 partidos. O PSD não fez uma boa campanha e prestação de Manuela Ferreira Leite nos debates não foi a melhor conforme já escrevera aqui no blogue. Mesmo com o resultado do CDS dificilmente formará Governo até porque não surgiram afirmações que sequer pudessem pôr sobre a mesa esse cenário. Está neste momento em causa a permanência da líder do PSD enquanto tal. Provavelmente dever-se-á manter até às eleições autárquicas, mas será dificílimo continuar a liderar, isto apesar de o PSD provavelmente ganhar as eleições (que é um dado recorrente e que não decorre normalmente da performance do líder).


CDS: Bons resultados para este partido que nas sondagens se encontrava bastante atrás. Bons debates e campanha de Paulo Portas que conseguiu chegar a mais de 10%. Será um elemento fundamental neste novo Parlamento. A ver vamos em que moldes.

BE: Apesar dos 16 deputados eleitos e de ter duplicado o número relativamente a 2005, este resultado deverá desiludir os bloquistas, apesar de alguns manifestarem agrado perante tal cenário. É que em todas as sondagens o BE aparecia destacado em 3º lugar e mesmo nas sondagens à boca das urnas parecia que poderiam eleger 20 deputados. O papel fundamental que poderiam ter na AR fugiu para…o CDS.

CDU: Ganhou um deputado mas mantém o papel que obteve em 2005. O eleitorado comunista é pouco móvel e por isso não surpreende este resultado.



Convém ainda fazer dois apontamentos.

Em primeiro lugar importa lembrar os números da abstenção. 39, 4% dos cidadãos eleitores não votaram, o que é muito. São números que deverão suscitar reflexão aos eleitores e aos eleitos.

Em segundo lugar é necessário fazer uma referência às sondagens que têm falhado demais, mesmo à boca das urnas, algo que me parecia pouco provável.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cenários.

Escrevi este texto no domingo para a rúbrica semanal no Laranja Choque. Fiquem com o meu ponto de vista acerca de uma sondagem recente relativa às eleições legislativas.

Já me perguntei sobre a real utilidade das sondagens para as pessoas num texto que pode ver aqui. Por isso, não vou aqui discutir esse tema. O tema também envolve sondagens mas de um modo diferente.

Como se costuma dizer, e é muitas vezes dito pelos políticos, as sondagens valem o que valem, mas não deixam de mostrar tendências de voto. Recentemente surgiram novas sondagens que provavelmente já demonstram as reacções dos portugueses aos debates entre os líderes de cada partido/coligação com assento parlamentar.

Uma delas, a da Universidade Católica para a Antena 1, RTP, o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, dava para além da vitória do PS nas eleições, uma possibilidade que ainda não havia sido avançada por nenhuma sondagem recente. A possibilidade de dois partidos (que não o PS e o PSD) conseguirem formar uma maioria absoluta em coligação. Na realidade, o PS nesta sondagem dispõe de 38% e o BE de 12%, juntos formam mais do que o nº de votos necessário para a tal maioria. Assim como o PS e a CDU juntos formam 45%. O que também será suficiente. A pergunta que se coloca é: Estará Portugal preparado para um Governo de Coligação entre um partido de centro-esquerda e outro de extrema-esquerda? Não creio que esteja, apesar de se dizer que em Portugal a maioria das pessoas é de esquerda (entenda-se do centro para a esquerda). Aliás, nem creio que os líderes dos dois partidos apontam esse caminho como solução. Mais depressa governará o PS sozinho.

No entanto, mesmo que estas sondagens acertem na muche, o PS pode não conseguir governar. A razão para tal afirmação encontra-se vertida nos resultados que a sondagem aponta ao PSD e ao CDS-PP. Juntos conseguem 39% por virtude da soma dos 32% do PSD e dos 7% do CDS-PP. Estes 39% dão a essa possível coligação (bem mais plausível que a do PS-BE, ou do PS-CDU) um ponto percentual acima do PS. No entanto, existem dois pontos contra este cenário. Por um lado não creio que o PSD apreciará uma coligação pós-eleitoral que nem sequer é suficiente para formar uma maioria absoluta. Para que é que o PSD quereria levar o CDS para um Governo de Maioria Relativa onde teria que ceder pastas ministeriais e afins? Responderão possivelmente: Para ganhar as eleições. Bem visto, é um facto. Esse é o único cenário passível de levar o PSD para o Governo (repito se o cenário destas sondagens se verificar) afastada que está uma coligação com o PS, CDU E BE. No entanto, avanço mais um dado. O PSD só durante 2 anos governou em maioria relativa. Foi de 1985 a 1987. É possível que essa falta de hábito se concretize numa inibição de se lançar para este projecto de Governo em maioria relativa. Por outro lado, mesmo com aquele 1% acima do PS, isso pode não ser suficiente para ter mais deputados que os socialistas. Esta situação constitui um empate técnico.

Perante este cenário, parece-me que o panorama mais plausível será o de o PS governar sozinho tendo de contar com o apoio dos vários partidos para conseguir prosseguir com as suas políticas. A ver vamos.

"Agarra que é ladrão!" terão dito.

Vi agora no Público online que o quadro "Olympia" de Magritte foi roubado num Museu de Bruxelas. A senhora retratada é jeitosa mas creio que a real motivação para este roubo foi outra, o seu valor monetário. Vai daqui o desejo de que encontrem o quadro. Fiquem com a imagem de uma senhora dos anos 40 (a esposa de Magritte).

Bonita pintura, não acham?

O Clube.


Vejo por estes dias alguma preocupação de muita gente com o momento do Benfica. Vejo gente a escrever em jornais a sua inquietação com a euforia desmesurada em torno deste clube alegando que é sol de pouca dura e que todas as expectativas sairão, mais tarde ou mais cedo, goradas. Vejo gente a ir a programas em que alegadamente se discute futebol afirmar que o Benfica começa a ter direito a decisões muito duvidosas, algo que faz adivinhar uma época em que o clube da Luz vai ser levado ao colo. Vejo tanta gente que “tão distinta” e depreciativamente afirma que o Benfica é o clube do “povão”, como se isso fosse algum problema. Vejo esta balbúrdia de comentários de todos os lados mas maioritariamente de dois clubes. Um que ganhou nos últimos 10 anos 6 campeonatos de forma duvidosa (duvidosa é um eufemismo engraçado) e que nos anos 90 conseguiu um penta sabe-se lá como. Ou saber-se-á? O outro tem uma dificuldade imensa em galvanizar gente, em encher estádios, em jogar bem, no fundo, em ser um clube. Olha por isso com desdém para o outro lado da rua. FC Porto e Sporting deviam, em vez de criticar o Benfica, olhar para si, para os seus jogos, e procurar soluções. Todo este burburinho só surge porque o Benfica enche estádios e joga que se farta. Tudo isto acontece porque o Benfica é um grande, é O Grande, é O Clube.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Legislativas 2009.

A Campanha eleitoral anda aí e já muito se viu acerca do que cada partido alega querer para o país e o que cada líder alega e quer parecer aos olhos do eleitorado. Nesta semana decisiva para os candidatos a deputado para a AR proponho-me a fazer um exercício de avaliação da prestação dos líderes dos partidos representados na AR quer nos debates (que foram substancialmente bons), quer nas entrevistas dos Gato Fedorento, quer também nas suas acções de campanha, arruadas, cartazes, etc.

Quanto aos debates, ordenaria numa classificação do 1º ao 5º lugar (do que esteve melhor ao que esteve pior) os seguintes nomes.

1º Paulo Portas
2º José Sócrates
3º Francisco Louçã
4º Jerónimo de Sousa
5º Manuela Ferreira Leite

Apesar de assim ordenada, esta classificação poderá conter meios empates por assim dizer. Isto é, há nomes que podem estar muito perto no que ao desempenho diz respeito mas acabam por ter classificações distintas. Caso disto é o de Portas e Sócrates que estiveram bem em todos os debates, vencendo-os com alguma tranquilidade. É no debate entre ambos que poderá haver uma nano/mini/micro/pequena/média diferença (surripiando a bem apanhada crítica dos Gato Fedorento). Neste debate Portas terá levado a melhor a Sócrates ainda que por muito pouco. De resto, outro facto é o de Portas ter ganho mais confortavelmente os debates com os restantes líderes que Sócrates. Em suma boa prestação de ambos. Outro caso de meio empate ou empate técnico é o de Jerónimo de Sousa e Manuela Ferreira Leite mas para pior. Jerónimo não tem o dom da oratória, ou pelo menos não o mostrou, o que não é necessariamente mau, porque assim não engana ninguém com artifícios, mas num debate faz falta. Manuela teve alguma dificuldade em se exprimir e nos debates que tinha que ter ganho parece ter perdido, designadamente com Portas que dominou. Segundo dizem e consigo concordar, Louçã prometia mais mas creio que o 3º lugar não lhe escapa.

Quanto às entrevistas dos humoristas, todos estiveram bem. Não se esperavam tiradas humorísticas monumentais de políticos. Esperava-se antes a sua presença e todos foram e esperava-se também alguma boa reacção às críticas pintadas de piada. Os que melhor se safaram foram, parece-me, Sócrates e Portas. O primeiro teve algum benefício da dúvida por ser o primeiro e partilhou algumas histórias na sua vida de político e nesse aspecto Jerónimo de Sousa portou-se muito bem também. Já Portas lidou muito bem com as perguntas que lhe foram colocadas e aquela do táxi foi muito bem agarrada. Os restantes não andaram longe.

Quanto a campanhas, o PS parece ser o partido com a máquina propagandística mais bem oleada. A quantidade de gente naquela espécie de comícios é enorme. A CDU conseguiu juntar também muita gente no Porto o que não deixa de ser de valorizar. O CDS-PP faz aquelas habituais arruadas com cumprimentos para tudo e todos e parece capitalizar muitos votantes entre os mais desfavorecidos, o que não deixa de causar surpresa. Poderá ser mera aparência mas dia 27 veremos se assim é. Os restantes cumprem sem grande alvoroço.

Há a salientar um aspecto relativamente importante das campanhas, os cartazes. Os cartazes não dizem muito. Muitas vezes contêm um slogan com aquilo que as pessoas querem ouvir. Porém há cartazes bastante engraçados nesta campanha. Destaco dois. O do MMS e o do BE que também tem um tempo de antena fora do comum. Quando digo "fora do comum" não digo mal “enjorcado” como o do PTP.




Já que falo de campanha, importa dizer que as últimas querelas entre PS e PSD relativamente a quem é patriota e conservador e quem não é patriota e moderno constituem um exercício de desconversa gritante. Algo que agora deverá ser prática comum. Todos os partidos vão agarrar em todas as tábuas de salvamento que puderem, nem que sejam meramente artificiais. Espero alguma contenção e ainda alguma troca de ideias.

Votem!