quarta-feira, 29 de abril de 2009

Duas entrevistas, dois mundos diferentes.

Por estes dias os líderes dos dois maiores partidos deste país foram entrevistados. Estas entrevistas foram pautadas por registos diferentes. Percebe-se que sim e porquê. Porém, isso não impede uma análise crítica dos motivos para tal bem como o desempenho de ambos. Cabe por isso uma análise separada, sem prejuízo de uma ou outra comparação que possa ser feita.

A entrevista do Primeiro-Ministro foi muitíssimo complicada para o mesmo. Os entrevistados pareceram bastante mais incisivos, contundentes do que na entrevista de Manuela Ferreira Leite (doravante MFL). Esse facto terá motivado o mesmo tipo de reacção de José Sócrates (doravante PM, não JS para evita confusão com a juventude partidária), apesar do seu estilo já de si mais de defesa-ataque.

Três factos tornaram esta entrevista mais “azeda” por assim dizer.

Desde logo, tratava-se do Primeiro-Ministro. Os chefes de governo são habitualmente dos titulares dos cargos políticos mais criticados num país, em antítese com o Presidente da República, por exemplo. Diziam no outro dia no “Eixo do Mal” da Sic Notícias, que Santana Lopes e o actual PM foram os primeiros-ministros mais atacados deste país desde que há democracia. Interessante o facto de serem os dois mais recentes.

Em segundo lugar, a comunicação social faz veicular quase todos os dias notícias do envolvimento do líder do PS no chamado caso “Freeport”. No entanto, lembro que o PM nem sequer foi chamado a neste processo. Apesar de tudo, este noticiado envolvimento, custa-lhe caro, e poderá ainda ser pior, a nível eleitoral, por exemplo.

Em terceiro lugar, o facto de perto de uma dezena de jornalistas terem sido alvo de um processo judicial por difamação (chamemos-lhe lato sensu) do PM nada ajuda, estando o senhor perante dois “representantes” dos profissionais daquele ofício.

Quanto ao conteúdo, o PM defendeu-se como pôde. Porém, poder-se-á dizer que medidas anti-crise precisam-se e não terão sido clarificadas nesta entrevista. Porém, pouco mais se pode pedir numa entrevista deste cariz. A auto-propaganda é quase inevitável. Coloquialmente falando/escrevendo, se te queres defender ou dizes o que fizeste de bom ou dizes o que os outros fizeram de mal antes de ti .

Já a líder do PSD teve uma entrevista mais calma. Não estava perante dois jornalistas e o que a entrevistava normalmente revela maior serenidade aquando das intervenções faladas, ao contrário do que faz por escrito, por exemplo nas crónicas que faz nos jornais. Aí é claramente crítico. Não censuro, aplaudo. Não interrompeu, deixou falar, mas podia ter sido mais acutilante. Terá pecado por escasso naquilo em que os outros (os da RTP) pecaram por excesso.

Para além disto, o exercício que fiz relativamente ao PM posso fazer relativamente a MFL, inversamente. É líder do maior partido da oposição, logo é aquela a quem apontam o dedo quando se fala em alternativa ao Governo porque invariavelmente temos PS ou PSD no Governo, salvo condições muitíssimo excepcionais.

Depois, nenhum processo envolve, nem sequer nos media, MFL. Isto apesar do caso BPN, do qual MFL se esquivou bem.

Em terceiro lugar, MFL não processou qualquer jornalista. Diga-se também que não foi difamada, que se saiba.

Em suma, MFL esteve bem, sem ser extraordinária. Achei graça (eufemísticamente) à última intervenção da entrevista.

Jornalista: “Não sei se é impressão minha mas não a tenho visto tanto no Supermercado de Bairro onde era frequente vê-la às compras.”

MFL: “Então é porque não tem lá ido aos fins-de-semana. (…) Eu continuo a ir lá aos fins-de-semana.”

Jornalista: “Muito obrigado. É bom saber isso. Obrigado por ter vindo.”

Será exagero da minha parte se disser que isto é conversa de elevador?
Estejam descansados, não o farei.

Fica apenas o reparo.

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