domingo, 14 de junho de 2009

Eleições Europeias de 2009.

Estas eleições europeias suscitam uma série de considerações a fazer acerca das mesmas. Seguir-se-á uma análise que se pretende não exaustiva das várias questões que surgem, a meu ver, em torno deste tema. Antes de mais gostaria de aqui demonstrar o meu repúdio pelo modo como estas eleições foram conduzidas quer pelos partidos, quer pelos media, quer ainda e porque não, pelo eleitorado.

A colagem europeias-legislativas é totalmente descabida, faz lembrar, com que numa metáfora, duas peças de puzzles diferentes que em princípio não se juntam, e só com algum jeito se conseguem unir, com prejuízo para o puzzle. Passo a explicar. Cedo me debati, neste blogue, por uma europeização do discurso dos actores políticos nestas eleições. Fi-lo em vários textos mas parece que ainda não somos assim tão vistos ou então desconsideraram a minha opinião. Ora, a meu ver, as eleições europeias são para eleger deputados europeus para o Parlamento Europeu.
Qualquer espécie de colagem às legislativas não passa de um artifício que engana o eleitorado (aquele que se deixa enganar). Assim, parece até que estas eleições servem de pré-época para as legislativas de Outubro e que outra finalidade não terão. Desenganem-se! O PE é fundamental, como já escrevi. Porém, esse parece não ter sido o entendimento generalizado, que desconsiderou quase na totalidade o papel basilar que o PE tem na integração europeia, no crescimento em conjunto de uma Europa una.

Vimos inúmeras vezes os partidos, os cabeças-de-lista e outros actores políticos a trocarem acusações e criticas de índole nacional. OS partidos da oposição fizeram-no porque sabem que é aí que conseguem ir buscar votos pois o descontentamento relativamente ao Governo é, nesta altura, crescente. Já relativamente ao partido que suporta o Governo não se compreende o não afastamento deste tipo de debate. De resto também não se compreende o não afastamento dos restantes partidos, mas o deste até por uma questão de capitalização de votos é bastante incompreensível. Seria de todo benéfico ao PS um afastamento das questões nacionais porque seria aí que perderia mais votos. Não o fez, houve consequências.

Atrás deste movimento foram os media e o eleitorado que na sua grande maioria, em português razoável, não quis saber da Europa para nada. O que importava ali era votar contra o Governo. Claro que muita gente não o terá feito por aqueles motivos mas acreditem que a maioria procedeu desse modo. Esta situação só desvirtuou o carácter europeu destas eleições.
Aliás, importa dizer que um dos canais de TV no dia das eleições mostrou uma sondagem relativa às legislativas que em bom rigor está claramente toldada pela proximidade deste acto eleitoral. Não posso concordar com este tipo de informação, corre o risco de manipular opiniões, pontos de vista.

Para além disto, o debate foi marcado por trocas de acusações menos simpáticas com o imiscuir de processos judiciais pelo meio, o que em nada beneficiou o debate político.
Apesar de tudo, há resultados e as pessoas votaram (30 e tal %). Indo daqui o meu profundo desagrado pela abstenção generalizada que tem origem na degradação do debate político.

Resultados dos partidos que elegeram deputados (numa altura em que falta contabilizar o mandato aferido em função do voto dos emigrantes.
  • PSD 31, 70%
  • PS 25, 58%
  • BE 10, 73%
  • CDU 10, 66%
  • CDS-PP 8, 37%

O PSD venceu estas eleições com uma certa e possivelmente curta vantagem. Apesar de tudo, tal parece ter sido motivo de regozijo para grande parte dos militantes daquele partido. Compreende-se porquê. O P.S. com maioria absoluta e a crítica constante (agora mais ténue) à direcção do PSD estarão da fundamentação para a satisfação de tal resultado. Sou forçado a fazer o raciocínio da colagem europeias-legislativas pois foi assim orientado que o eleitorado (na sua grande maioria) terá votado. O PSD pode assim ganhar um novo élan para as legislativas que há uns meses se consideravam perdidas irremediavelmente para o PS. No entanto, aquela sondagem de que vos falei à pouco suscita um diferente entendimento. De acordo com aquela sondagem o PS venceria as eleições legislativas. Isto é, dá ideia que as pessoas estão dispostas a mostrar um cartão amarelo mas não o vermelho. A ver vamos. Aquela ideia afiançada por alguns, de que o Governo só tem legitimidade para agir como um Governo de Gestão não me parece de acolher. Os períodos relativos aos governos de gestão estão plenamente previstos na Constituição e só porque o partido do Governo perde umas eleições, que não são legislativas, isso não significa que deva alterar as suas políticas. Apesar de tudo há um partido que ganhou as eleições e por isso parabéns ao PSD que soube capitalizar votos durante a campanha eleitoral. Nota ainda para grande parte dos JSD’s que por ali andavam a entoar cânticos como se se tratasse de uma claque de futebol. Frases como “O povo não esquece que a crise é do PS” são de um e fundamento e de uma profundidade incríveis.

O PS perdeu as eleições e perdeu-as numa altura em que a larga maioria das sondagens lhe atribuíam vitória. As causas para esta derrota estão identificadas. A colagem às legislativas não os ajudou, mas eles também não fizeram muito para o mudar, e a escolha do cabeça-de-lista que não terá agradado a muita gente.
A sala vazia não ajudou à imagem do partido. Passou a ideia do desencanto, do desalento face aos resultados. O que se compreende que exista mas que se deve evitar mostrar, tendo em conta o ano eleitoral em que estamos e a possibilidade de isso poder influenciar o sentido de voto do eleitorado. A ver vamos se estes resultados terão influencia na atitude governativa pois pode haver tendência para tomar medidas que serão mais populares mas que podem não ser as mais apropriadas. Dou um exemplo: O governo baixar os impostos numa altura em que o não deve fazer com prejuízo das receitas do Estado.

O BE obteve um bom resultado. Consta que foi o único partido da esquerda que subiu em toda a Europa. Grande parte do voto de protesto foi para este partido que ganhou muito eleitorado socialista descontente com o Governo mas que se recusa a votar na direita. Se mantiverem esta performance, atingem os 20 deputados no Parlamento com alguma facilidade.

A CDU fez o que se esperava. Tem o eleitorado do costume. Não surpreendeu nem pela negativa nem pela positiva. Os resultados podem ter deixado os responsáveis da coligação preocupados com a ultrapassagem do BE à CDU que tem perdido espaço no eleitorado esquerdista.

O CDS-PP fez um discurso de vitória quando foi o 5º melhor nos resultados. Muito bem que as sondagens lhe davam um resultado fraco e que obtiveram bem mais que isso. Porém, o discurso pareceu-me bastante semelhante ao do V. de Setúbal ou Marítimo quando conseguem chegar à Taça UEFA ou do Estrela da Amadora quando consegue a permanência na 1ª Liga. Apesar de tudo, não foi um muito mau resultado.

Fica o repto para um melhor debate político.

1 comentário:

Tiago Mendonça disse...

Bem, quase que não consigo comentar isto.

Apenas fica o conselho: Nesta altura, é mesmo má ideia referires sondagens.

Parece que não se aprende a lição.