terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Crise e os seus efeitos I.

Ouvir falar de crise é para a generalidade dos portugueses um cenário quase sempre constante desde há alguns anos para cá. Antes era uma crise já de si complicada, a nacional, mas apesar disso muito menos ardilosa que a actual, internacional. Apesar de muitos órgãos de comunicação social terem começado a referir-se à crise em cenários que não a comportavam, a crise de que tanto se fala, é hoje em dia, de facto muito complicada de se resolver. Um dos efeitos que já se verificam é o proteccionismo, ou melhor, a possibilidade de começar a ser defensável ou mesmo defendido um proteccionismo feroz do mercado nacional, seja ele qual for. Exemplo disso é o que se passou em Inglaterra no final de Janeiro.

“Trabalhadores das refinarias britânicas cumpriram esta sexta-feira um dia de greve contra a contratação de portugueses e italianos a custo mais baixo. Os sindicatos acusam o Governo de não defender os postos de trabalho dos britânicos. O principal problema vive-se na refinaria da TOTAL, a petrolífera francesa recorre a uma empresa italiana para contratar os trabalhadores portugueses e italianos.” (fonte SIC).


Os fundamentos daquela greve não fazem sentido num Estado-membro da União Europeia. Esta comunidade pressupõe entre outros desígnios, a liberdade de circulação de pessoas, seja para turismo ou trabalho. Muito bem, percebo a angústia de muitos destes cidadãos que vêm uma possibilidade de emprego ser afastada. Porém este desagrado, como se pode ver, cedo acaba em xenofobia e/ou racismo, sentimentos repugnantes.
Ainda para mais, diga-se que a refinaria é francesa que recorre a uma empresa italiana para contratar portugueses e italianos. Isto é, fora o facto de a empresa praticar a sua actividade em Inglaterra (o que não deixa de ser importante), todas as características destes empregos são internacionais, mais precisamente europeias. Posto isto, poder-se-á falar em trabalhos britânicos? Sim, no que respeita ao elemento territorial, mas será suficiente?
Em suma questiona-se se esta greve faz sentido ou não, e se pode ou não ser apenas um começo para uma onda de xenofobia que poderá propagar-se por todo o Mundo. Espero que não.

Fica o reparo.

2 comentários:

João Francisco disse...

Sendo o tema desta publicação deveras interessante, não posso deixar de expressar a minha opinião. Em primeiro lugar gostaria de salientar que o Reino Unido apenas faz parte do acordo de Schengen no que respeita a aspectos judiciais e policiais, logo a liberdade de movimentação não se eplica tão levemente como nos outros Estados membros da Uniao Europeia.
Em segundo lugar, sendo lamentável a atitude dos trabalhadores ingleses, esta situação serve de lição para os portugueses. Cada vez mais se ouvem protestos contra os imigrantes em Portugal, que vêm roubar os nossos postos de trabalho e contribuir para o desemprego. Parece-me aqui que há alguma hipócrisia nas criticas que se fazem aos trabalhadores ingleses. Posto isto gostaria de perguntar se quer em Portugal como em Inglaterra, será que os imigrantes estão a roubar os postos de trabalho dos trabalhadores locais, ou simplesmente a fazer o trabalho que os locais não querem fazer?

Jorge Wahnon disse...

Caríssimos!
Pois bem, eu, quanto a isto devo deixar aqui uma breve reflexão. Antes de mais o reparo. O senhor Apu tem uma argumentação que julgo ser falaciosa. Não sou especialista no assunto, é certo, e corrijam-me se estiver errado. Porém, contudo, no entanto, parece-me que o estatudo de cidadão da U.E. e a criação de um mercado interno comum são as razões que validam... não... que garantem o direito de qualquer cidadão da União Europeia de trabalhar num Estado membro. Visto que o primeiro pressupõe esse direito aos indíviduos e o segundo pressupõe a livre circulação dos trabalhadores.
Posto isto, vejo com muitos bons olhos estas tendências xenófobas. Já não era sem tempo! Já chega de evoluir. A malta hoje em dia precisa é de regredir. Os Britânicos, como povo ultra-avançado que têm sido de há dois séculos para cá já se aperceberam disso. Quem melhor que os pais da democracia liberal, do mercantilismo, da fisiocracia, percursores do capitalismo e, outrora, acérrimos defensor da liberalização dos mercados para não quererem lá emigrantes que roubam trabalho!
Agora só precisamos de estimular aquele nacionalismo exacerbado, aperfeiçoar os sistemas de controlo, diminuir as liberdades individuais e militarizarmos, ou paramilitarizarmos a sociedade, para podermos ter um novo estado de segurança na União Europeia. Deve ser a crise
É um tempo fascinante este em que vivemos...

P.S.- O Senhor hitler e o senhor mussolini ascenderam ao poder num período em que a economia prosperava, não foi?