O Blogue do Caraças vai ter a honra de poder contar, esta semana, com a colaboração de diversos pontos de vista, da direita à esquerda, acerca do mesmo tema, o 25 de Abril. Sairá um texto por dia acerca do tema.
Começo eu (sem qualquer pretensiosismo), hoje, por dar inicio a esta ronda de pontos vista que fomentam o desenvolvimento do fim último deste blogue que é o pluralismo e a partilha de ideias neste que pretende ser um espaço de debate.
O dia 25 de Abril de 1974 sempre representou para mim o dia em que Portugal, ou antes, os portugueses se tornaram livres. Claro que para o nascimento e desenvolvimento da democracia em Portugal foi essencial o dia 25 de Novembro, dia que colocou um travão na criação de um novo regime totalitário, o comunista. Por isso vai também uma referência e distinção para aquele momento. No entanto, foi no dia 25 de Abril que se pôs termo a quase 50 anos de ditadura. Compreendo a posição de alguns que não entendem o 25 de Abril como algo de um benefício e utilidade extremos. Porém, é ainda com alguma perplexidade que tenho assistido a uma espécie de “nouvelle vague” de credibilização do Estado Novo.
O facto de já terem passado 35 anos pode ser uma das causas de justificação deste fenómeno. Um dos sinais desta nova onda é, para além, do que vou ouvindo, aquele programa do “Melhor Português de Sempre” vencido por Salazar. Poderá também sê-lo a série que alegadamente mostrava um lado mais humano e menos estadista do senhor. Programas com este registo seriam impossíveis (ou pelo menos perto disso) 10 anos pós Abril. Agora aceitam-se sem grandes alarmismos. Parece-me que a Democracia já foi ponto mais assente do que é hoje. Tome-se cuidado, muito cuidado…
Lembrando aqueles que com o tempo se vão esquecendo do que foram aqueles quase 50 anos de ditadura, recorro ao jornal Expresso que tem, nos últimos meses, disponibilizado artigos antigos que só não foram publicados por terem sido cortados pela censura sob o título “O que a censura cortou”.
Bem sei que em tempos o Estado Novo fora fundamental para uma estabilização da economia nacional. Porém, a ideia de que o Regime propugnara sempre uma economia estável é errada.
Em 1973 "Portugal aparece no relatório relativo a 1973 da OCDE com uma taxa de inflação da ordem dos 20,6% (…)”.
Para além disto, recorde-se a impossibilidade de manifestação de opinião e de greve.
"Aproximadamente dois mil trabalhadores (entre operários, empregados de escritório, técnicos especializados, etc., englobando homens e mulheres) da Sorefame, uma das maiores empresas nacionais do ramo da construção metalomecânica (...), encontram-se parados desde o meio-dia da última terça-feira"
Evitou-se a expressão greve mas o artigo foi ainda assim cortado.
Se hoje em dia a gasolina sobe e ficamos todos a saber, sem ser preciso ir abastecer o carro, na altura, só abastecendo, pois no jornal não se obtinha grande informação. Não por falta de vontade dos jornalistas mas porque a censura não deixava.
Nas palavras do Expresso “O aumento do preço da gasolina, que na semana anterior fora a manchete, desta feita foi proibido. No miolo, um trabalho sobre a mesma matéria levou dois golpes. O título passou de "A subida continua" para "Preços: a subida". E na abertura foi riscada a expressão "numa escalada imparável", que caracterizava o aumento dos preços.”
Voltando a manifestações e reuniões veja-se o caso de 5 alunos com processos disciplinares e 151 estudantes detidos por manifestarem os seu desagrado.
“Na retoma do ano lectivo, a crise académica agudizou-se. No ISPA, "o início das aulas foi marcado por processos disciplinares instituídos a cinco alunos, de que resultou a suspensão destes por um período de dois anos". O resultado foi "um movimento de protesto que se traduziu durante o primeiro período por ausência às aulas". Nada saiu. Uma outra notícia sobre a crise levou dois cortes. Uma reunião de alunos do ensino secundário, realizada na Faculdade de Medicina de Lisboa, foi "considerada ilegal pelas autoridades escolares e policiais. Os alunos, de idades compreendidas entre os 13 e os 19 anos, foram detidos pela PSP e transportados ao Governo Civil, onde foram identificados e revistos". Ao todo, eram 151.”
Poderia estar aqui a referir artigos até à exaustão, mas creio que o leitor já percebeu a ideia. De qualquer modo poderá ver aqui vários dos artigos cortados pelo lápis azul.
Apesar de alguma necessidade de um regime com estes traços no inicio, este revelou-se prejudicial para o país. Em suma ficam pontos essenciais (negativos) do Antigo Regime:
· Fechamento do país ao exterior.
· Censura.
· Parco desenvolvimento económico e social (acima de tudo).
· Limitação das liberdades de voto, reunião, manifestação, pluralismo partidário, de opinião. Por exemplo, um blogue seria impensável.
· Inexistência de independência entre os vários poderes.
· Aprisionamento determinado por motivos políticos.
· Guerra Colonial.
Ainda acha (caso achasse) que aquele era um bom regime?
Viva a Democracia. Viva Portugal.
Fica o reparo.
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