Uma das grandes dificuldades dos filhos de Abril é a de definir o que se celebra neste dia. As gerações que não viveram os dias de ditadura em Portugal encontram esta dificuldade, pois, os excessos revolucionários e contra revolucionários estão menos distantes que os excessos do Estado Novo.
Neste dia, podemos celebrar a coragem de um grupo de militares, denominado capitães, que romperam com as amarras de um regime opressivo, que controlava as liberdades dos cidadãos, que mantinha uma guerra colonial sem razão. O grito de raiva de um país sem infra-estruturas, no qual, a esmagadora maioria da população vivia na pobreza, tempo no qual, a educação, a qualidade de vida e até mesmo a higiene básica eram uma miragem. Podemos celebrar o fim deste regime ditatorial e a intenção de criar uma democracia virtuosa.
Uma coisa não podemos celebrar, a democracia do pós-25 de Abril até ao 25 de Novembro, os excessos de extrema-esquerda, a libertinagem justificada com a revolução. Nem a crueldade destes excessos deve justificar o esquecimento das não menos terríveis crueldades no Estado Novo, como as crueldades do Estado Novo nunca deverão justificar os excessos do pós-25 de Abril. É impossível celebrar o 25 de Abril da Liberdade e da Democracia sem celebrarmos simultaneamente o 25 de Novembro, sem celebrarmos o controlo dos excessos revolucionários.
Aquilo que se comemora hoje, não é para mim a democracia do pós-25 de Abril, é todo um processo revolucionário que se iniciou no dia 25 de Abril e que terminou em 1982 com a extinção do Conselho de Revolução. O processo revolucionário foi substituído pelo processo democrático evolutivo que devemos continuar e que terá sempre que continuar. É este todo que devemos celebrar.
Eu celebro o primeiro passo para a criação de uma Democracia, o inicio de uma caminhada, que nunca estará terminada, a busca por um Estado de Direito Democrático garante de Liberdade e Igualdade.
Tibério Dinis, estudante do 3º ano da Faculdade de Direito de Lisboa e blogger do In Concreto.
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