Desde já, no início deste post, agradeço ao Bruno a oportunidade que me concedeu de escrever este post e de contribuir para um blog que acompanho o mais frequentemente possível, o qual entendo que tem mostrado grande potencial e excelentes escritos.
O tema que me traz hoje é um tema que está muito em voga na actualidade política interna, se bem, da minha perspectiva, com o enfoque nas questões laterais. A tal “redefinição ideológica” por vezes deve ser vista como um objectivo comum de uma associação de indivíduos que tenta frisar e atingir o seu objectivo comum: num partido, conquistar o poder e servir a comunidade de forma eficiente e prestável. Partindo desta premissa podemos, de forma prévia, chegar a uma conclusão: uma reestruturação ideológica não se deve fazer a partir de um líder que é escolhido de entre os pares, depois de uma guerra de facções; deve sim, surgir de uma acção concertada da maioria que, ao ver o estado decrépito a que chegou o partido, entende que toda a estrutura de pensamento e todo o ideário se deve modificar para enfrentar os novos desafios.
Mas para que isso seja possível é preciso que esse grupo de homens e mulheres tenha pensamentos estruturados e comuns; ideias que façam sentido e que acreditem de alma e coração; planos que sejam possíveis de ser estruturados no momento específico em que aparecem, mas sempre com a noção de que, por vezes e devido à situação do caso concreto, têm que ser adiados ou reestruturados. Quando se atinge o caos desordenado e onde se zangam as comadres; onde o líder de cada feudo apenas olha pelo seu pequeno castelo e arrigementa os seus homens para tentar conquistar o castelo maior em cima da colina; a “redefinição ideológica” deve servir para encarreirar de novo o grupo na direcção de que nunca deveria ter saído, através do surgimento de uma nova geração de líderes que, naturalmente, trarão consigo novas ideias. Ideias essas que devem ser adaptadas ao tempo em que são apresentadas, sempre com o pensamento e o bom senso de não serem imutáveis por mera teimosia pessoal.
O PSD actualmente pode-se, tentar, resumir a esta imagem: quando a aura de vencedor, trazida do cavaquismo, desaparece e se instala o vazio, o pior que pode acontecer é que esse vazio signifique a divisão em feudos dentro desse projecto. Divisão essa que adensa o vazio e que amarra a vida interna numa espécie de espectáculo romano onde os gladiadores se degladiam à procura do prémio supremo: o poder, de agradar, de se libertarem, de seguirem a sua vida e um dia poderem, quiçá, ter o verdadeiro poder, alicercados numa força seguidora de autómatos cegos que cobiçam os despojos e os lugares livres conquistados.
A confusão inerente à indefinição ideológica, confusão essa com outros projectos e outras ideias que se tornam semelhante às nossas, apenas desajuda quem faz parte desse projecto em crise. Isto porque a diferença é fundamental para a afirmação própria, quer pessoal, quer em grupo. Eu distingo-me do outro porque sou diferente, porque defendo ideias diferentes, porque defendo caminhos diferentes para um mesmo objectivo final. E é isso que me torna único ao ponto de as pessoas quererem falar comigo, descobrirem-me, etc. E assim também se passa com um projecto em grupo; essa ideia é diferente porque comporta perspectivas próprias e não um emaranhado de ideias desgarradas que a certa altura serviram mas que, hoje em dia, não servem. E a persistência nesses mesmo princípios, desgarrados e caducos, faz com que nos assemelhemos ao projecto do lado, onde a distinção é ténue e praticamente invisível. E aqui o PSD tem falhado, tem faltado a distinção com o PS, a meu ver, a principal razão de não ter conseguido ganho as últimas eleições legislativas.
Em política, a diferença e a novidade são armas poderosas. Porém esta novidade não deve querer significar a demagogia total de prometer o paraíso eterno da felicidade e do crescimento. Fácil é de constatar que a novidade comporta uma aura de aglutinação em torno dessa ideia nova, mas apenas pode vingar se for transmitida através da melhor mensagem e das melhores palavras. Quando a indistinção e a confusão se ameaçam tornar no principal e derradeiro problema, a mudança urge ser feita e quanto mais tempo se passa sem a fazer, mais se caminha para o marasmo eterno.
Um país, uma Nação, envolta no manto da Democracia, precisa de alternativas. É o seu oxigénio, uma das suas identidades mais prementes e necessárias. Porque através de dois ou mais caminhos alternativos, o indíviduo tem a possibilidade de escolher uma delas; de confrontá-las, de as debater e destruir criticamente ou de as apoiar criticamente. E o próprio país se desenvolve e se projecta para o futuro com essas visões distintas; porque elas todas visam o bem comum, o objectivo final. Claro que não se nega que há caminhos mais viáveis do que outros, uns que se ajustam melhor à realidade humana e económica que se vive nos dias que correm; mas no final, e de uma perspectiva puramente teórica desprovida de qualquer inclinação sobre o “bom” e o “mau”, todos são caminhos para o mesmo destino. O que não pode acontecer é a crise total de identidade, porque o país, num todo, sofre com isso.
O PSD tem que se livrar das guerras de barões, das tricas pessoais e das intrigas constantes. Tem que saber marcar a diferença perante o PS em matérias tão essenciais como a privatização da Segurança Social; a assunção do papel dos privados na Saúde; a defesa de um novo método educacional desprovido dos fantasmas do PREC, onde o mérito é exigido e premiado e onde existe uma maior oferta de escolas e cursos; uma nova reconfiguração dos investimentos públicos, de proximidade e de apoio às populações; uma nova reconfiguração administrativa, dando impulso a uma verdadeira regionalização; a diminuição do peso do Estado na economia, dando total liberdade e espaço aos privados para actuarem. A lista poderia ser mais extensa, o post mais extenso, mas isso seria abusar da boa vontade do leitor.
Urge a mudança; urge a discussão, não de pessoas mas sim de ideias. Antes da pessoa, líder, há um conjunto de ideias. Por mais líderes que o PSD tenha, sem antes se redefinir, todos estarão condenados ao fracasso. Ou a partir das bases, desapegadas ao aparelho partidário e imunes às tricas internas onde o poder se quer pelo poder, parte um movimento genuíno de mudança; ou o PSD arrisca a definhar lentamente, muito longe do poder. E para o bem da nossa Democracia, isso não pode acontecer. De novo um muito obrigado ao Bruno e um bem-haja e muito boa sorte ao blog!
Um texto de Pedro Rodrigues, Estudante do 4º ano de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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