quinta-feira, 9 de julho de 2009

Comissões.

Ontem assisti à comissão de inquérito de audição do Director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, motivada por Agostinho Branquinho, deputado do PSD que se insurgiu contra a falta de tempo de antena que o canal estatal lhe concede. Convém lembrar a este respeito que existe um sistema de quotas no canal obedecendo a imposições da ERC. As quotas funcionam deste modo: Governo e PS 50%, Partidos com assento parlamentar 48%, Partidos sem assento parlamentar 2%. De facto percebe-se o princípio do pluralismo partidário e é de salutar que seja respeitado, no entanto, levado ao extremo, cai no ridículo. Contar ao segundo o tempo para cada partido revela-se uma tarefa difícil. Aliás, se um partido tem mais motivos para ser notícia que os restantes, facilmente se compreenderá que apareça mais vezes na RTP.

À queixa do PSD juntaram-se as perguntas com elevado grau de queixume do CDS. Entre outras coisas o CDS alegava que num ano o partido não teria aparecido no programa “Prós e Contras” e questionou a responsabilização das sondagens das eleições europeias que davam 2% ao CDS. À primeira questão o jornalista respondeu alegando que dos muitos convidados daquele programa apenas uma parte reduzida eram políticos. Ainda assim, creio que eram 30 e tal, e não caber nesse nº um deputado do CDS, afigura-se um pouco estranho. Apesar de tudo, o director de informação pareceu safar-se bem. Quanto à segunda questão, José Alberto Carvalho alegou que o responsável pela empresa de sondagens a que a RTP recorreu para as eleições europeias, chamou a si a responsabilidade pelos erros. O jornalista defendeu-se ainda com dois pontos. Primeiro, disse que ninguém garante que na altura em que se fizeram as sondagens aqueles resultados não estavam certos. O deputado ripostou afirmando, creio, que em poucos dias seria difícil uma alteração de voto tão significativa. Replicou o jornalista dizendo ser isso totalmente possível, mostrando o exemplo de um Ministro que deixou a pasta por um gesto de segundos. A resposta não pareceu ser inteiramente satisfatória. No entanto, o segundo argumento do jornalista poderá colher, ainda que com reservas. Esse argumento residia no facto de em França, a Frente Nacional apresentar resultados nas sondagens sempre inferiores aos das eleições. Isso levou as empresas de sondagens a dar uma margem de erro relativamente àquele partido. A razão para este desfasamento, creio, estar no facto de a Frente Nacional ser um partido de extrema-direita e por isso as pessoas não se mostrarem dispostas a demonstrarem publicamente o seu apoio àquele partido, com algum medo de represálias. No entanto, dois pontos há a afirmar acerca disto. Primeiro, o CDS, ainda que de direita, não é um partido de extrema-direita pelo que comparações nesse sentido são perigosas e podem revestir alguma incorrecção. Segundo, quando se fazem sondagens, a pessoa que responde às questões que lhe são colocadas fá-lo sob anonimato, pelo que se afirmar ser de esquerda ou direita em princípio não terá consequências de grande relevo.



Para além de tudo isto, José Alberto Carvalho revelou que a RTP não tem nenhum programa em que haja uma única pessoa a debitar opinião sem contraditório. É um facto. Aliás, só me recordo de um, e bem recente, nesses moldes na televisão portuguesa. É o “Ponto e contraponto” do Senhor Pacheco Pereira transmitido pela SIC Notícias. Já que a este tema chegamos, importa fazer algumas leituras acerca deste programa. Desde logo surge numa altura no mínimo sui generis. O surgimento de um programa de um militante do PSD logo a seguir às eleições europeias que o PSD ganhou, e tão próximo das eleições que se seguem, parece contribuir e muito para uma espécie de vaga de fundo (se é que as há) em torno do PSD. Depois, o conteúdo do programa também merece comentários. Aquilo no fundo é um espaço onde um militante do PSD, crítica, comenta e disserta sobre o que quer e bem lhe apetece. Muito bem. Agora, fá-lo sem contraditório. Sim senhor, Pereira avisou logo no inicio que aquilo era opinião dele, creio eu. No entanto, não deixa de causar estranheza um programa nestes moldes. Parece um blogue. Tendo em conta que o senhor em questão já tem um e aparece noutro programa no mesmo canal, tem laivos de abusivo o surgimento deste novo programa. Contudo, não é ilícito, nem imoral, mas dá que pensar…como tudo.

Fica o reparo.

Sem comentários: