domingo, 23 de dezembro de 2007

Viva a segurança!

"FBI vai alargar base de dados biométricos
A polícia federal americana (FBI) prepara-se para desenvolver de uma forma sem precedentes a sua base de dados biométricos, onde já figuram 55 milhões de impressões digitais e dezenas de milhões de fotografias..."

in DN online a 23.12.07


"A sua mensagem ficará gravada

As operadoras de telemovóveis e Internet vão ter de conservar, durante um ano, todos os registos de chamadas, e-mails e visitas a sites"

in Visão n°772 de 20.12.2007



Londres, capital do mundo com mais câmaras de vigilância na via pública, passaportes europeus passarão a conter dados biómétricos, suspeitos detidos em Bruxelas após conversa telefónica ter sido escutada pelos serviços secretos, presos de guantanamo torturados e encarcerados em condições sub-humanas...*


Manchetes destas figuram em todos o diários, semanários, televisões ou rádios que prestem serviços noticiosos ("no ocidente"). Creio não estar sozinho ao considerá-las revoltantes. Não o facto de existirem, não, aliás, ficam desde já os meus agradecimentos àqueles que nos dão a conhecer tais realidades e fica a crítica àqueles que não o fazem (ignoram, escondem ou esquecem).

Não, o que me revolta é o facto de isto tudo acontecer sem qualquer espécie de oposição séria. Entristece-me que em nome da segurança se viva esta paranóia onde se permite tudo a todos. Vejo nisto um retorno paulatino aos Estados de Segurança. Precisamente naqueles que os combateram - assusta-me. As ditas grandes democracias do mundo sucumbem neste momento ao medo, ao pavor de eventuais ataques terroristas. Manipula-se a opinão pública. Tudo em nome da segurança. Esquecem-se os direitos e deveres. Direitos à privacidade, direitos humanos, liberdade de expressão-a proibição da transmissão do filme de Michael Moore nos E.UA., por exemplo. Tornamo-nos ainda mais egoistas, constantemente vigiando o vizinho porque sabemos que ele também pode ser um terrorista. Fechamo-nos.

Confesso, confunde-me este caminhar para uma sociedade do big brother, para um 1984. Confunde-me porque geralmente, nas ditas democracias desenvolvidas, a opinião pública considera-o algo mau. No entanto, sob o pretexto da segurança, todos os dias se fazem progressos nesse sentido, com o conhecimento e aval de todos.

Ao mesmo tempo pretende-se ensinar a democracia e os seus valores ao resto do mundo - aos "coitados" que não percebem nada disto, como não-desenvolvidos não são tão livres quanto nós - porque é um direito que é inato e inelianável e é o que está certo!

O facto de eu poder publicar este artigo é uma prova de democracia. É de facto, mas é perversa, porque realmente não me é vedada a possibilidade de o fazer, porque será abafada não só porque eu sou um zé-ninguém, mas também porque isto não será lido por ninguém, e muito menos surtirá algum efeito que de algum modo contrarie esta sociedade do "big brother".

Agora, estranho o porquê da ausência de oposição a esta tendência nas altas esferas da sociedade que poderiam realmente pô-la em causa. Parece que se esquecem que estes mecanismos de "segurança", quando forem utilizados em detrimento de alguém, que alguns deles serão os primeiros.

Por fim, quero apenas dizer que o argumento de alguns, dizendo que "quem não tem nada a temer, nada esconde. Logo não deve ter tais preocupações" é uma estupidez. É uma estupidez porque aqui não se discute se eu tenho medo de ser apanhado a cometer algum acto ilicito por estes novos meios. Discute-se sim, a ausência de valores inerente à utilização de tais meios.



*Algumas manchetes ou notícias de que me recordo embora já me falhe a memória no que diz respeito às fontes e datas.

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