No mesmo dia em que tive uma discussão sobre política, entre amigos. Uma daquelas discussões sem grande propósito e sem grande conteúdo e cujo objecto é tão difuso que acabam de repente por ninguém saber ao certo por que é que se discute. Pouco ou nenhuma diferença teve esta, não me lembro já de mais que pequeníssimos momentos, provavelmente os mais desinteressantes. Lembro-me de a princípio se ter falado sobre a política interna norte-americana e do possível sucessor de Bush. Passámos pela política externa do mesmo país tendo ido inevitavelmente falar das europeias. Falamos aí de direitos humanos, de políticas de ajuda ao desenvolvimento e de políticas de emigração. Tirámos conclusões, expusemo-las e ditámos sentenças. Enfim, desinteressante embora divertido e sempre saudável. Mas dizia, neste mesmo dia comecei a ler um livro de Jean-Paul Alata “Prisão de África”. Uma edição antiga, esquecida, que descobri numa estante da minha tia, tendo sido inicialmente do meu pai. Aparentemente, como fazia sentido na época, de cariz revolucionário e denunciador. Pelo que depreendi do primeiro capitulo, o livro aparenta ser, pelo menos em parte, uma compilação das vivências deste senhor guineense, enquanto preso político num regime da década de 70, que ou por ignorância ou por não se tratarem de memórias não soube identificar nenhuma das personagens. Escrevo isto propositadamente, antes de fazer alguma investigação sobre a matéria ou de ler mais que um capitulo do livro. Propositadamente porque o que me interessa focar aqui não é a veracidade da história. Vim antes relatar a impressão que me causou este mesmo capitulo, pela brutal descrição da tortura físico-psicológica encetada ao prisioneiro antes daquilo que se advinha um interrogatório. A ter acontecido, a descrição de quatro dias de fome, sede, parte deles passados com algemas, numa cela solitária, onde o sol de Conakry fazia da mesma um forno e a noite um frigorífico, embora extremamente bem conseguida, que eu nunca conseguirei sumarizar, não chegará de perto nem de longe a ilustrar aquilo que Alata terá sentido, nem, por conseguinte, aquilo que muitos passaram e continuarão a passar neste mundo fora. Ora este pequeno vislumbre, suficiente para me enjoar, torna qualquer conversa de café sobre política, direitos e dignidade humana bastante... obsoleta?
Fica mencionado o livro, e o meu conselho de leitura, embora descontextualizado, parece-me sempre actual, apesar de não ter ainda encetado sequer a leitura do segundo capitulo, que farei mal esteja publicado este artigo.
*O titulo é uma frase retirada do livro Jean-Paul Alata, "Prisão de África"
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