segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tenho Saudades...

Faz-me falta muita coisa: pessoas, lugares, sons, ocupações... Uma ocupação que me faz especial falta é escrever. Escrever mesmo. Agarrar de um bocado de papel, de um lápis ou caneta e escrever. De corpo e alma, nada de testes, nem trabalhos, nada de PC's ou telemóveis, escrever simplesmente - só eu e o papel.
Essa saudade que sinto é para mim particularmente paradoxal. Por um lado nunca, desde que me lembro, nunca gostei de escrever, detestava fazê-lo. Nunca tive uma caligrafia aceitável. Talvez tenha sido por isso. Talvez por causa da censura de todos os que alguma vez se entretiveram em descodificar um teste meu, uma composição ou mesmo um impresso que tenha preenchido. Por outro lado, e verdade seja dita, sempre tive um computador como alternativa. Talvez tenha sido isso e alguma preguiça que tenham impedido a maturação da minha relação com o papel.
A verdade é que hoje me dá muito mais gozo escrever num qualquer pedaço de papel solto, por mais vagabundo que seja, do que num ficheiro de word em branco ou no blog, mesmo com as comodidades do corrector automático. Desprezo esta maldita evolução tecnológica, malditas aulas de informática, malditos magalhães!
Será que um homem já não pode sequer aprender, compreender e aprofundar a sua relação com o papel antes de ter que procurar o conforto das teclas para se tentar exprimir?
Descobri já tarde este regozijo, por mais fortuito que possa ser, e com grande pesar. Não sei se a felicidade de o ter conhecido ultrapassa a infelicidade que se lhe segue: saber que tudo isto não passa de uma perda de tempo, que não é funcional e que já ninguém lê coisas escritas, nem liga ao papel a menos que tenha passado por uma impressora. Hoje em dia nenhuma ideia pode ter qualquer valor se não for martelada num computador. Já não se escreve, ou se martela ou nem vale a pena o trabalho.. É triste.
É por isso com a nostalgia de um tempo que nunca conheci e que não creio vir a ter tempo de conhecer que escrevo estas linhas. O mundo está a perder uma grande instituição e nem se apercebe e muito menos se rala com isso.
Lamarck, como sempre prevalece: Ou nos adaptamos ou morremos. É inevitável.
E por isso decidi prestar uma última e (primeira, no que me diz respeito) homenagem à escrita. A todos os que a preservaram nos últimos milénios. A todos que como eu sentem a sua falta, que imaginam um escritor com um caderno em vez dum computador. E por fim, a todas as identidades que perdemos e perderemos com o fim da escrita. É que todos esquecem que a escrita definia e identificava as pessoas. Como qualquer outro elemento, desde a íris à impressão digital, era única à pessoa em questão e fazia parte da sua identidade.

NOTA:
-O texto original foi escrito num caderno há muito tempo e decidi agora transcrevê-lo.
-Imagem tirada daqui

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