As eleições do próximo dia 7 de Junho são para o Parlamento Europeu. Neste local os deputados estão agrupados por famílias políticas, por partidos, não por nacionalidade. Posto isto, afiguram-se desadequadas propostas de candidatos a deputados naquele hemiciclo no sentido de procurar obter vantagens para Portugal. O crivo composto pelos outros deputados, oriundos de outros países, ainda que da mesma família política, suporta este raciocínio. Se não fui claro, exemplificamos. Imagine-se que um deputado português do PSD, que integra o Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e Democratas Europeus, tenta fazer passar legislação muitíssimo favorável a Portugal, ou para ser mais abrangente, legislação que beneficia países pequenos. Ora, esta tentativa, que até pode ser esforçada, esbarra nos interesses dos deputados dos países médios e grandes. Para além do mais, o Parlamento, no que diz respeito à adopção de actos legislativos, trabalha com o Conselho num processo de co-decisão, em que se coloca o Parlamento e o Conselho em pé de igualdade. Já que aqui me refiro ao Conselho, diga-se que em matéria de interesse nacional, e não de interesse partidário, é a este órgão comunitário que compete, ou melhor, é aos ministros de cada Estado membro que compete, tentar fazer prevalecer o ponto de vista daquele país aos demais. Assim, se pretende defender que, sendo estas eleições para o Parlamento, e não para o Conselho (órgão para o qual de resto não há eleições), não faz muito sentido apresentar como bandeiras de campanha eleitoral qualquer tipo de medida que poderá beneficiar Portugal neste contexto. No entanto, este não parece ser o entendimento geral nos partidos nacionais, com uma ou outra excepção, o que de resto, confirma a regra (conforme se costuma dizer).
Os cartazes que pelas ruas são colocados são exemplo crasso disso). Perdoem-me por trazer este assunto de novo à colação).
Vejam-se os cartazes.
"Mudar a Europa, mudar Portugal"
PSD:
"Pelo Interesse Nacional..."
CDU:
"Em Portugal e na Europa"
PP:
"Soluções Sérias para Portugal"
Já outros partidos, as tais excepções, conseguem ter o discurso dirigido à Europa (contra ou a favor). Não procuro defendê-los aqui, apenas pretendo expressar o ponto de vista.
"...Uma Europa para Todos"
PS:
"Nós, Europeus"
É certo que outros cartazes há, mas resolvi colocar estes. Compreende-se a tentativa dos partidos da oposição nacional em contrariar as políticas do Governo socialista e daí o aproveitamento das eleições europeias para fazer a ponte para as eleições legislativas. No entanto, que através deste caminho, poderão os partido incorrer num perigo grave. Perigo, diga-se, para os eleitores. O distorcer da realidade. Coloquemos os pontos nos i’s. Estas eleições são europeias, e são para o PE, não para a AR. Esta ideia de mostrar que se vai fazer por prevalecer o interesse nacional sobre os demais é incorrecta. Obviamente não estou aqui a dizer o que é correcto, se o europeísmo ou o eurocepticismo. Nem sequer estou aqui a pôr em causa o meu patriotismo, algo que pondero mas que não repudio. No entanto, nem sequer essa hipótese de ponderação sobre a Europa e sobre a integração de Portugal na mesma é colocada ao eleitorado.
Fica o reparo.
3 comentários:
Grande Bruno,
Sobre cartazes, já me referi a isso no Laranja Choque. O PS apercebeu-se do erro de casting que foi Vital Moreira, e já excluiu o candidato de todos os seus cartazes. É preciso passar a ideia de que é o PS que está em jogo e não o próprio Vital Moreira. Com a dificuldade de não se poder apelar à lista, que é pouco mais que horrível. Nomeadamente, Elisa Ferreira, não consegue passar mais de 5 minutos sem dar um tiro no pé.
Mas, voltando, e restringindo a minha análise, à avaliação que fazes dos cartazes, no seguimento do que disse, relembrarei os mais recentes cartazes do PS.
Adesão de PORTUGAL ao euro.
Adesão de PORTUGAL à CEE.
Tratado de LISBOA.
De todo o modo, o PS não pode falar muito da situação interna. Não lhe é conveniente.
Quanto ao PSD, escolheste apenas um dos vários cartazes, o que me parece injusto. Eu, ainda hoje vi um, sobre o programa de erasmus para o primeiro emprego. Aliás, justiça farás, o PSD tem sido o único partido a apresentar realmente ideias para a Europa.
No que à CDU e ao BE diz respeito, são partidos sem conteúdo, e que portanto avançam com as frase de sempre.
A campanha do PP, está boa. Passa uma ideia de credibilidade, seriedade e honestidade. Mas tem claramente em vista as próximas legislativas.
Bruno,
Observa o novo cartaz do PS. Contêm, em letras garrafais, a palavra PORTUGAL.
Caro Tiago.
A ideia que quis passar com este texto vai no sentido de não achar propriamente correcto que no âmbito de uma corrida ao Parlamento Europeu se façam cartazes que apontam Portugal como destino de medidas a tomar. Quanto aos cartazes do PS, procurei aquele do "Por Portugal, mais Europa" e não encontrei aquando da realização do texto.
Cumprimentos.
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