Sábado passado, alguns professores deste país foram para as ruas de Lisboa manifestar-se contra a política do Governo na educação. Medidas como as aulas de substituição, a avaliação e outras políticas foram contestadas, e a acrescentar a estas as que visam os funcionários públicos em geral.
Não sei se foram 5000 ou 100000 manifestantes, cada um "atira" os números que mais lhe convém. Certo é que não existe um contador às portas de Lisboa para saber quantos estavam lá, nem os que jornalistas que estavam nos helicópteros que nos ares daquela cidade circulavam conseguem assegurar que 100000 se manifestavam. Escrevo 100000 porque foi o número lançado nos meios de comunicação social.
Posto isto, e abstraindo-me dos números, interrogo-me sobre se a manifestação de sábado terá tido alguma influência no Governo, no Ministério da Educação, na opinião pública ou até nas intenções de voto. Parece-me que desde já a Ministra não vai "cair" e que se vai manter a política deste Governo relativamente à educação, não sabendo eu se a proximidade das eleições irá infleunciar a continuidade ou atenuação do projecto deste Governo. Julgo que alguma opinião pública poderá ser influenciada pelos números, ou porque entendem que a manifestação traduz um desacordo da generalidade da população com o Governo. Porém, creio que a maioria dos portugueses mantém a opinião que tinha antes do protesto. Tanto os que já discordavam (obviamente pois não seria um protesto contra o Governo que motivaria um apoio ao mesmo) como os que estão com o Governo e pretendem votar no partido que detém a maioria no Parlamento.
Ora, seria benéfico para o espírito de debate deste blogue existir alguma discussão de ideias no que a este tema diz respeito. Espero que dêem a vossa opinião através de comentários. Obrigado.
4 comentários:
Caro Senhor Doutor,
Perdoe-me o comentário, mas não creio ter matéria suficiente para um post. Lamento desiludir aqueles leitores que apreciam os meus magnificos e esplendorosos textos. Não, ainda não é desta que faço o meu grandioso comeback! Peço-lhes desculpa.
Quanto ao objecto deste comentário, gostaria apenas de fazer algumas observações.
Em primeiro lugar, independentemente do número, foram muitos os que se manifestaram. O que me leva a pensar que alguma razão haveriam de ter.
Segundo, é preciso pensar noutra realidade que não costuma ser contemplada. Estas reformas do governo, discorde-se ou não daquilo que procuram instituir, esquecem e "passam por cima" de uma questão fulcral. Os contratos dos professores. Estas medidas pressupõe fundamentais alterações unilaterais de contratos previamente celebrados. Falo aqui dos professores, mas creio serem verdade para grande parte das reformas da função pública.
Sim porque estes funcionários do Estado. Não se tornam marionetes do mesmo e contínuam a ter direitos. Alguns dos quais será verem cumpridos os seus contratos, ou então, o de serem devidamente reparados aquando do não cumprimento dos mesmos por parte do Estado.
Deixo-lhe esta pequena reflexão
Cumprimentos (do caraças!)
Melekh Salem
Resposta ao Melekh Salem:
Quanto ao primeiro ponto que focou devo dizer-lhe, sem tomar partido por nenhum dos lados da barricada (Governo e manifestantes), que maioria não é sinónimo de razão e consequentemente, muita gente também não o é.
Já relativamente ao segundo ponto, entendo que medidas tinham de ser tomadas tanto na educação que estava e está um caos, como no que à função pública diz respeito pois o Sistema está pesado e o Estado "gordo" de tantos e alguns maus funcionários públicos que tem.
Não sei é se estas foram as melhores medidas a tomar. Quanto às aulas de substituição, matéria tão contestada, parecem-me benéficas para os alunos, pois os alunos não se "perdem" noutros assuntos que não aqueles para os quais estão na escola e os professores têm uma espécie de "motivação" para ir às aulas, se não forem perdem parte do ordenado. Já o modo como as aulas de substituição são dadas é outra questão. Estas são dadas por outros professores de outras disciplinas e os miúdos acabam por não fazer aquilo que talvez fosse mais útil. Porém, cabe aqui a ideia de evitar que os alunos se "percam", algo que já referi. Lembro ao senhor a que me dirigo que já passei pelo ensino onde estas medidas estão a ser tomadas e sei como é. "Faltas não faltam". Isto é, professores que não cumprem o contrato de trabalho são muitos (contrato esse referido pelo senhor) pois ao faltar não dão a matéria como deviam. Já a medida da avaliação esta é discutível. Não pela intenção que é boa pois os professores têm que ser avaliados, mas antes pelo conteúdo pois ao que parece são outros professores que avaliam os professores. Abrindo aqui um parentesis, talvez não seja o mais correcto mas também não tenho alternativas por isso evito contestar em demasia, partindo da ideia de que para contestar são precisas soluções alternativas, ideia essa que estou ainda a tentar perceber se perfilho. Fecho o parentesis.
Voltando ao assunto, poderia ser como alguém que conheço arguiu, que os professores deviam ser avaliados por um organismo independente. Resta saber como e se seria viável.
Contudo, e sem desvalor pelo que escreveu, o debate que lançava ia mais no sentido de saber se entende que a manifestação de sábado se vai repercutir no Governo e nas intenções de voto.
Senhor Doutor,
Tem de facto razão, maioria não é sinónimo de razão. Levantei propositadamente a questão. Fica a dúvida, terá a manifestação sido um movimento estritamente de defesa de uma classe identificada? (Deverá a expressão defesa de classe ser levada no sentido em que os professores procuram manter o status quo por lhes ser mais satisfatório a nível individual, independentemente do interesse do Estado).
O sistema está de facto pesado/"gordo". Contudo uma reforma a nível da política nacional de ensino (e saúde) não pode, a meu ver, ser encetada num mandato, por decisão de um governo. Deve antes ser negociada e decidida num regime de cooperação, pelo menos, com os partidos representados na Assembleia na República. Visando-se uma contínuidade dessa mesma política, ao longo de vários governos, independentemente da cor política dos mesmos. Porque como todos sabemos estas medidas, apenas surtem efeito no longo prazo.
Quanto à medida em concreto. Conheço pouca coisa, logo tudo o que diga sobre o assunto é mais fruto do pouco bom senso que tenha do que qualquer outra coisa.
Começo então por refutar a sua teoria sobre aulas de substituição. Contesto-a por duas razões. Primeiramente, também eu frequentei o ensino em questao, e todos sabemos que as aulas de substituição não resultam. São um período em que quer os alunos, quer os professores estão de castigo. Esperando que o tempo passe. Logo perdem todo e qualquer interesse. Note-se que não falo aqui das aulas de substituição de professores que faltem durante um período de tempo continuado. Mas sim daquelas faltas pontuais.
Segundo, eu não posso aceitar que uma escola não disponha dos meios necessários para os alunos ocuparem o seu tempo quando não têm aulas, ou quando têm "furos". Logo o argumento que defenda que, pelo menos assim, enquanto o estudante está na aula não está a fazer nada de ilegal, ilicito ou desaconselhável. Não é válido. Até porque aqueles que fazem asneiras não vão fazer mais ou menos por terem ou não aulas de substituição.
Quanto à avaliação. Creio que tem que ser feita. Já os seus moldes, que desconheço, apenas o tempo dirá se serão adequados ou não. Partilho porém da sua preocupação, a priori, não parece sensato que colegas se avaliem uns aos outros.
Voltando agora à questão dos contratos. O Estado, por razões que me parecem óbvias, deve ser o empregador exemplar. Lá porque alguns professores alteram os seus contratos sem qualquer respeito pela lei, o Estado não pode (digo-lhe desde já que não sei se isto será verdade porque, parece-me, que o Estado enquanto entidade patronal deve ter bastante facilidade em obter as justas indeminizações por violações de contrato).
Se a manifestação de sabado se vai repercutir no governo? Apenas o tempo o dirá.
Tenho dito!
P.S.- Pessoalmente, não creio que as manifestações de sabado passado tenham grande impacto sobre as intenções de voto. No máximo, radicalizaram as opiniões que existiam. Ou seja, convenceram aqueles que apoiam o governo, que de facto estão a ser tomadas medidas concretas. Convenceram aqueles que se lhe opunham que não estão sozinhos.
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